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segunda-feira, 10 de março de 2014

Entrevista com Jerusa Schmidt

E as mulheres continuam ganhando espaço no blog. Na semana passada, escrevi aqui que elas estavam ganhando espaços. Não é de menos. Já entrevistei 5 jornalistas mulheres. Agora, tem mais uma. 

Ela não é jornalista, porém escreve no portal Donas da Bola. Fala sobre o Grêmio, seu time de coração, e o ABC, lugar reservado para explicar o básico do futebol. Nasceu em Porto Alegre, no dia 05 de fevereiro de 1983. Ela é Jerusa Schmidt, a mais nova entrevistada. 

Saiba um pouco mais sobre a colunista. Vale a pena!

Gabriel Dantas: Para os futuros leitores, quem é Jerusa Schmidt? 
Jerusa Schmidt: Sou uma gremista praticante que sonha com o dia que uma mulher possa torcer sem ser taxada de maria chuteira. Sou apaixonada pelo futebol de campo, metida e convincente escritora/cronista esportiva. Super feminina e levo futebol muito a sério.

GD: Você não é jornalista, porém escreve para o portal Donas da Bola. Além disso, junto com a Priscila Ulbrich, você ajudou a fundar o espaço. Conte um pouco mais da história do portal e sobre a sua atuação.  
JS: Foi um passo corajoso quando iniciamos o Donas. Éramos poucas e espalhadas pelo país, porém contamos com o apoio de grandes personalidades do meio, principalmente do meu mestre Valdir Espinosa. Foi ele quem deu o empurrão para lançarmos o site. Tudo começou com uma ideia, quando em um momento a Pri resolveu inovar e colocar mulheres pra fazer o que ela gostava, comentar esportes. Porém com um diferencial, precisávamos ser torcedoras, expondo nossas paixões clubísticas e analisando o futebol apresentado. Confesso que quando ela me convidou tive receio, mas depois do primeiro texto postado a vontade de escrever só aumentava. Atualmente sou editora do portal e faço a coluna do Grêmio e do ABC do Donas.

GD: Antes, você escrevia sobre o Vitória e o Grêmio. Hoje, fala apenas do clube gaúcho. Por que houve a mudança? E como era escrever sobre um time de outra região?  
JS: Todo o ano quando sobem quatro times da segunda divisão é uma surpresa, pois não temos torcedoras que escrevam sobre eles, então escolhemos um e tomamos posse dessa paixão. Eu não escolhi o Vitória por acaso, sempre admirei o trabalho de marketing do clube, a fidelidade da torcida e tinha certeza que fariam uma boa campanha no brasileirão 2013. Foi bom enquanto durou, tanto que agora sou torcedora rubro negra também. Impossível não se render ao carisma baiano, fiz muitos amigos que vou levar pra vida. Neste ano finalmente encontramos uma torcedora de sangue, a Verônica tem muita propriedade e amor pra falar e escrever sobre o clube, então entreguei a coluna nas mãos dela com um pouco de saudosismo, mas sabendo que com certeza fará um trabalho excelente.

GD: Como é ser setorista de um clube? 
JS: Eu não sei dizer como é no resto do país, mas aqui no sul é complicado. O machismo impera, é difícil ser levada a sério e todos os dias é preciso provar que quer apenas trabalhar, nada além disso.

GD: O que gostaria de fazer na carreira e ainda não conseguiu realizar?  
JS: Não sei de qual carreira você fala, pois nunca pretendi ser jornalista (risos). Meu pai é jornalista e acho que sempre sonhou que ao menos um dos quatro filhos fizesse o mesmo, mas cada um seguiu seu rumo próprio. Eu escolhi a administração, mas pretendo ainda realizar meu sonho da medicina. Escrevo sobre o Grêmio porque gosto e é prazeroso escrever sobre algo que você curte. O Donas é um projeto que deu certo e espero sempre poder cooperar e ajudar a crescer, porque é um bem que adquiri e o sucesso é consequência.

GD: Você acredita que um jornalista esportivo deve assumir seu time de coração?  
JS: Sou super a favor. Não aceito esse papo de imparcialidade, acho mais digno assumir que é torcedor e ser isento. Porque eu que sou uma leiga no jornalismo esportivo consigo, por que eles não conseguiriam? Com certeza passaria mais transparência e confiança. #Isençãoévida

GD: Quem são os jornalistas e/ou profissionais da comunicação que mais admira?  
JS: Não sou muito fã de jornalista que apenas expõe os fatos e sim daqueles que comentam, opinam e não negam que pensam. Na área esportiva gosto muito dos comentários de Maurício Noriega, Raphael Rezende e meu amigo Nando Gross. São caras que sabem do estão falando e sempre é um aprendizado ouvi-los.

GD: Você tem um dia fixo para postar no Donas da Bola?
JS: Não

GD: Na sua opinião, a cobertura esportiva brasileira é satisfatória? Não faltaria, por exemplo, um pouco mais de jornalismo investigativo?  
JS: Eu acho que é manipulada, porque a política está por trás de tudo, tanto no futebol quanto na imprensa, ou seja, farinha do mesmo saco. Mas essa é a minha opinião, não a verdade absoluta, espero que me prove o contrário.

GD: Mudando de assunto, Brasil é favorito ao título da Copa?  
JS: Sim. O Brasil até pode estar meio mal das pernas, mas temos história e isso pesa. Na hora do vamos ver a herança da seleção canarinho fala mais alto e estando em casa facilita muito.

GD: Qual Seleção que está na Copa mais te preocupa? Por que? 
JS: Se eu tivesse que escolher apenas uma, seria a Alemanha pela força e pelo futebol dos últimos anos, mas acho que as grandes seleções da Europa vão vir com tudo pra tentar deixar o Brasil fora dessa, é como se fosse Europa x Brasil, eu vejo a Copa 2014 assim.

GD: Depois do título da Copa das Confederações e pelo futebol apresentado, Felipão é mesmo o técnico ideal? Por que?  
JS: Talvez seja porque o Brasil precisa resgatar a confiança do torcedor e o Felipão transmite isso. Se já ganhou uma vez, por que não pode novamente?. Até porque não temos muita opção de técnicos. Estamos naquele intervalo onde os vencedores estão se aposentando e os novos estão amadurecendo.

GD: O que deve ser feito para aumentar o públicos nos Estaduais?  
JS: Ações de marketing. É justamente aí que está a possibilidade de ganhar aquele torcedor que não vai ao estádio. É onde os ingressos podem ser mais baratos e campanhas mais agressivas têm a oportunidade de conquistar novos adeptos. Não falo apenas de ingressos mais baratos, mas algo que valorize o torcedor, mostrando que ele faz a diferença.

GD: No atual mercado futebolístico, estamos vivenciando uma nova geração de técnicos. Qual destes mais te agrada? 
JS: Enderson Moreira, óbvio. Além de comandar o meu Grêmio, acho que está fazendo um bom trabalho.

GD: Demitir técnicos resulta em algo favorável? Por que? 
JS: Eu não concordo, a não ser que haja justa causa. É uma questão de continuidade, nenhum projeto é executado sem planejamento, e nenhum planejamento é feito sem o mínimo de tempo. Sou totalmente contra o imediatismo. Hoje em dia os técnicos parecem ter perdidos as rédeas de sua função, acontece exatamente o contrário, jogadores que deveriam ser subordinados, mandam e desmandam como crianças mimadas, executivos e palpiteiros têm mais voz na escalação do que os técnicos, a liderança está nas mãos erradas.

GD: Qual seu conceito sobre a participação ativa das mulheres no jornalismo esportivo?  
JS: Ainda é muito pobre a participação feminina nesse segmento. São colocadas apenas como objeto decorativo em sua maioria e não como ser pensante e entendedor do assunto. 

GD: Se pedirmos para dizer alguém no esporte que mereça nota 10 e alguém no esporte que mereça nota 0, quais seriam e por quê?  
JS: Zico é o verdadeiro rei do futebol. Ele ainda joga pela solidariedade e não vive apenas do passado. Agora a nota zero não vai para uma pessoa, mas para uma função, a presidência dos clubes. Falta conhecimento de gestão e caráter. Enquanto se preocupam com politicagem, o futebol definha.

GD: Paulo André deixou o Corinthians. Foi para a China. Era o principal membro do Bom Senso FC. Como ficará este órgão? E qual a sua opinião a respeito?  
JS: Não tenho a menor ideia. Muito legal o que estão fazendo, clap clap, mas acho que ações valem mais que palavras, ainda estou esperando.

GD: Em relação à Copa de 2014, quais são as suas impressões ou constatações? A organização do Brasil, ao final da Copa, poderá ser digna de aplausos? 
JS: Tudo aponta para a pior Copa do Século 21, com estádios superfaturados e atrasados no término das obras. É algo imprevisível, como uma bomba prestes a detonar, só Deus sabe como o povo vai se comportar e o mais importante, como os governantes irão conter o povo. Pensar nisso dá um frio na barriga. O país está num momento delicado e receber um evento dessa magnitude é pisar em ovos.

GD: Infelizmente, temos os famosos elefantes brancos. Para você, quais dos 12 estádios da Copa, será considerado o maior elefante branco?  
JS: A Arena Amazônia por motivos óbvios, porém se expostos serei taxada por preconceituosa.

GD: Para finalizar, dê algumas dicas para quem quer seguir carreira, e nos conte como é trabalhar no portal Donas da Bola 
JS: Cara, tem que gostar. Não é um trabalho bem remunerado para todos, apenas àqueles que se esforçam, estudam, se dedicam e claro, pra ser lembrado tem de ser visto. E hoje há muitas maneiras, principalmente na internet. Postar vídeos, criar blogs é uma excelente forma de conseguir um pouco de holofote. Quanto a trabalhar no Donas é algo único. Somos apenas mulheres, rola muito papo extra, muito tricô e chá com bolachinha. Nosso maior orgulho é poder fazer parte desse universo masculino, sermos respeitadas e continuar sendo mulherzinha, sem perder a essência e sem máscaras para agradar a terceiros.

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