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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Do sonho de jogar bola a narrar a Copa do Mundo: a história inspiradora de Manuela Avena

A Copa do Mundo acabou há mais de um mês. Porém, ela ainda repercute, seja pelo quase gol de Renato Augusto contra a Bélgica e, posteriormente, a eliminação precoce da Seleção; seja pela Croácia, que apareceu como intrusa na decisão; seja pelo árbitro de vídeo, que causou muita polêmica, porém cumpriu o que se esperava. Mas a Copa ultrapassou os limites do gramado. Houve uma revolução. Um fato que marcou a edição da Rússia 2018.

Pela primeira vez, mulheres narraram uma Copa do Mundo. Houveram transmissões totalmente femininas. A Fox Sports inovou ao fazer o projeto "Narra Quem Sabe". Das seis selecionadas para a fase final, três foram escolhidas para formar a equipe: Isabelly Morais, Renata Silveira e Manuela Avena.

Manuela sequer pensava em seguir o âmbito profissional no futebol. Jogava bola "por amor", conforme descreve na carta abaixo. Ela aceitou o convite e relembrou a sua trajetória, passando pela cobertura dos clássicos BaVi, os trabalhos realizados nas rádios, até chegar ao momento mais "surpreendente".

A emoção no grito de gol (Arquivo Pessoal)
Leia a história da soteropolitana que torce para que haja a igualdade de tratamento na profissão. no mercado de trabalho.

Prazer, Manuela Avena

Sou uma apaixonada pelo futebol, desde sempre, não lembro quando começou, só sei que sempre foi forte. Tive muita sorte de encontrar pessoas que compartilhavam do sonho de jogar bola e jogávamos mesmo, por amor! E assim foi, por alguns anos, devido a esta paixão assistia e ouvia muitos jogos, o interesse foi constante, o estudo prazeroso, mas não me passava pela cabeça seguir algo profissional.

Manuela Avena: "Não passava pela cabeça seguir
algo profissional" (Arquivo Pessoal)
Foi tudo muito rápido, sou formada em Comunicação Social com ênfase em Publicidade e Propaganda e trabalhei anos em agência de publicidade. Faltava algo mais. Queria fazer uma pós-graduação e busquei um tema agradável para conciliar estudo e trabalho, optei então por Gestão Esportiva, sorte ou não, as portas se abriram.

Logo no inicio recebi um convite para um programa sobre futebol na rádio web “A voz do Esquadrão” e após a divulgação nas minhas redes sociais fui chamada para uma entrevista na CBN Salvador. Consegui a vaga e lá aprendi quase tudo sobre rádio, foi uma experiência incrível. Fui repórter de campo dos visitantes dos jogos da dupla BAVI, Séries A e B e participava dos programas da grade. Descobri o quanto o rádio é fascinante e me encantei. Reportar os jogos do campo é indescritível, descrever cada lance é de grande responsabilidade e também muito prazeroso. Além de passar toda a emoção você precisa ser os olhos do ouvinte. 

Infelizmente a CBN Salvador fechou e precisei buscar outros caminhos. Me formei em rádio e TV e no ano de 2018 tive a oportunidade de retornar ao rádio na Sociedade da Bahia também como repórter de campo dos jogos da dupla BAVI (agora na série A), como plantonista e nos programas de bancadas. Aprendendo, aprendendo e aprendendo, outra experiência incrível.

Manuela ao lado de Vanessa Riche, curadora
do projeto "Narra Quem Sabe" (Arquivo Pessoal0
Mas o mais surpreendente aconteceu em março, após o envio de um vídeo despretensioso, consegui uma vaga para participar de um treinamento nos canais Fox Sports para narradoras da Copa do Mundo. Nossa! Impressionante. Foram 300 inscrições, 6 selecionadas, e era a única nordestina. Tive contato com muita gente do bem, profissionais excepcionais e uma aula de televisão. Foram 45 dias de muito trabalho e aprendizado. No final, ainda fui contemplada com a alegria de poder narrar uma Copa do Mundo, fui uma das primeiras mulheres a narrar uma Copa pela TV, mas o mais incrível foi poder inspirar outras mulheres que buscam este sonho. Recebi muita mensagem positiva e valeu muito a pena.

Foram 34 dias, 8 jogos e 27 gols, 2 prorrogações e alguns pênaltis. Não foi uma tarefa fácil, mas foi muito gratificante e emocionante. Teve gol de Neymar, Coutinho e do mito CR7. Nossa! Foi incrível. Sou realizada em poder fazer parte da história da mulher no futebol, este processo lindo, diga-se de passagem, por tudo que isso representa para nossa sociedade. Quebrar barreiras não é nada fácil e a gente precisa de muita coragem para fazer com competência.

Espero de verdade que o mercado se abra, assim como a cabeça das pessoas, existe lugar para todo mundo mostrar seu talento, quando se tem amor e verdade. Poder fazer o que se ama, já está de ótimo tamanho e a gente vai continuar lutando para conquistar o nosso espaço.