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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Do sonho de jogar bola a narrar a Copa do Mundo: a história inspiradora de Manuela Avena

A Copa do Mundo acabou há mais de um mês. Porém, ela ainda repercute, seja pelo quase gol de Renato Augusto contra a Bélgica e, posteriormente, a eliminação precoce da Seleção; seja pela Croácia, que apareceu como intrusa na decisão; seja pelo árbitro de vídeo, que causou muita polêmica, porém cumpriu o que se esperava. Mas a Copa ultrapassou os limites do gramado. Houve uma revolução. Um fato que marcou a edição da Rússia 2018.

Pela primeira vez, mulheres narraram uma Copa do Mundo. Houveram transmissões totalmente femininas. A Fox Sports inovou ao fazer o projeto "Narra Quem Sabe". Das seis selecionadas para a fase final, três foram escolhidas para formar a equipe: Isabelly Morais, Renata Silveira e Manuela Avena.

Manuela sequer pensava em seguir o âmbito profissional no futebol. Jogava bola "por amor", conforme descreve na carta abaixo. Ela aceitou o convite e relembrou a sua trajetória, passando pela cobertura dos clássicos BaVi, os trabalhos realizados nas rádios, até chegar ao momento mais "surpreendente".

A emoção no grito de gol (Arquivo Pessoal)
Leia a história da soteropolitana que torce para que haja a igualdade de tratamento na profissão. no mercado de trabalho.

Prazer, Manuela Avena

Sou uma apaixonada pelo futebol, desde sempre, não lembro quando começou, só sei que sempre foi forte. Tive muita sorte de encontrar pessoas que compartilhavam do sonho de jogar bola e jogávamos mesmo, por amor! E assim foi, por alguns anos, devido a esta paixão assistia e ouvia muitos jogos, o interesse foi constante, o estudo prazeroso, mas não me passava pela cabeça seguir algo profissional.

Manuela Avena: "Não passava pela cabeça seguir
algo profissional" (Arquivo Pessoal)
Foi tudo muito rápido, sou formada em Comunicação Social com ênfase em Publicidade e Propaganda e trabalhei anos em agência de publicidade. Faltava algo mais. Queria fazer uma pós-graduação e busquei um tema agradável para conciliar estudo e trabalho, optei então por Gestão Esportiva, sorte ou não, as portas se abriram.

Logo no inicio recebi um convite para um programa sobre futebol na rádio web “A voz do Esquadrão” e após a divulgação nas minhas redes sociais fui chamada para uma entrevista na CBN Salvador. Consegui a vaga e lá aprendi quase tudo sobre rádio, foi uma experiência incrível. Fui repórter de campo dos visitantes dos jogos da dupla BAVI, Séries A e B e participava dos programas da grade. Descobri o quanto o rádio é fascinante e me encantei. Reportar os jogos do campo é indescritível, descrever cada lance é de grande responsabilidade e também muito prazeroso. Além de passar toda a emoção você precisa ser os olhos do ouvinte. 

Infelizmente a CBN Salvador fechou e precisei buscar outros caminhos. Me formei em rádio e TV e no ano de 2018 tive a oportunidade de retornar ao rádio na Sociedade da Bahia também como repórter de campo dos jogos da dupla BAVI (agora na série A), como plantonista e nos programas de bancadas. Aprendendo, aprendendo e aprendendo, outra experiência incrível.

Manuela ao lado de Vanessa Riche, curadora
do projeto "Narra Quem Sabe" (Arquivo Pessoal0
Mas o mais surpreendente aconteceu em março, após o envio de um vídeo despretensioso, consegui uma vaga para participar de um treinamento nos canais Fox Sports para narradoras da Copa do Mundo. Nossa! Impressionante. Foram 300 inscrições, 6 selecionadas, e era a única nordestina. Tive contato com muita gente do bem, profissionais excepcionais e uma aula de televisão. Foram 45 dias de muito trabalho e aprendizado. No final, ainda fui contemplada com a alegria de poder narrar uma Copa do Mundo, fui uma das primeiras mulheres a narrar uma Copa pela TV, mas o mais incrível foi poder inspirar outras mulheres que buscam este sonho. Recebi muita mensagem positiva e valeu muito a pena.

Foram 34 dias, 8 jogos e 27 gols, 2 prorrogações e alguns pênaltis. Não foi uma tarefa fácil, mas foi muito gratificante e emocionante. Teve gol de Neymar, Coutinho e do mito CR7. Nossa! Foi incrível. Sou realizada em poder fazer parte da história da mulher no futebol, este processo lindo, diga-se de passagem, por tudo que isso representa para nossa sociedade. Quebrar barreiras não é nada fácil e a gente precisa de muita coragem para fazer com competência.

Espero de verdade que o mercado se abra, assim como a cabeça das pessoas, existe lugar para todo mundo mostrar seu talento, quando se tem amor e verdade. Poder fazer o que se ama, já está de ótimo tamanho e a gente vai continuar lutando para conquistar o nosso espaço.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Entrevista com Júlia Goulart: "As pessoas achavam que eu era culpada"

A jornalista Julia Goulart, da Rádio Galera, é mais uma revelação da profissão. Desde o ano passado, cobrindo os clubes gaúchos nas mais diversas categorias do futebol, ela se destacou pela sua competência, ganhando seguidores e, consequentemente, elogios. 

Porém, por duas vezes, no jogo Criciúma x Internacional, pela Série B do Campeonato Brasileiro, e pela Copa Paulo Sant’Ana, na partida São José x Internacional, ela foi vítima do machismo, de comentários nojentos e desapropriados.

As duas situações foram e são lamentáveis. As mulheres lutam pela igualdade na profissão, querem apenas exercer o seu trabalho, a sua função, sem serem incomodadas de forma deselegante.

Júlia participa do movimento #DeixaElaTrabalhar, fundado no final de março, que luta contra o assédio moral e sexual sofrido pelas mulheres nos estádios e demais lugares. Ela aceitou o convite para conversar com o blog. 

Veja abaixo a entrevista:

Atualmente, você está na Rádio Galera. Conte-nos um pouco da sua trajetória profissional.
Eu trabalho na rádio, minha primeira experiência profissional há dois anos. Tive outras duas experiências, depois da rádio, com o jornalismo esportivo, uma com assessoria de imprensa de atletas de futebol. Não fiquei muito tempo (risos), porque surgiu a oportunidade de trabalhar como repórter de TV da Federação Gaúcha de Futebol. Então, não tinha como conciliar, meu dia também tem 24 horas (risos). Então, trabalho na rádio e na TV.

Como é cobrir os times do interior gaúcho e as categorias de base?
É muito bom cobrir, porque a rádio me deu essa oportunidade, me proporcionou a ser pioneira a falar de coisas que não eram faladas. Falar dos times, das pessoas, das coisas, sempre com transparência, da base e do futebol do interior. Essa transparência é a marca. Me sinto muito realizada, porque eu ganho um retorno muito satisfatório.


Infelizmente, por duas vezes, você foi vítima de agressão verbal, de cunho machista. Se possível, nos conte como absorveu esses fatos.
Cara, a primeira vez foi assustadora, e a segunda, destruidora. A primeira foi assustadora, porque não tinha acontecido comigo antes, me assustei, abaixei a cabeça e continuei. A segunda, teve repercussão nacional. Meus familiares e amigos sofreram. Conforme saíam reportagens a respeito do assunto, minha mãe, meus tios, amigos liam os comentários. Ao invés de apoio, eram comentários que me machucavam. Prometi abandonar, mas não consegui. Espero não vivenciar mais isso. Não desejo isso a ninguém. Destruiu meus dias. As pessoas achavam que eu era culpada...

Julia Goulart, no exercício da sua profissão (Reprodução/Instagram)

No final de março, foi lançado o movimento #DeixaElaTrabalhar, que luta contra o assédio moral e sexual sofrido pelas mulheres nos estádios. Conte-nos sobre o surgimento dessa campanha e o que ele representa, vide a repercussão que vem ganhando e o apoio de atletas, clubes, entidades.
Depois de tantos episódios machistas, surgiu o #DeixaElaTrabalhar. Ele veio após as mulheres sofrerem, as pessoas discutirem o assunto. Mas os debates aconteciam após os fatos. O Deixa surge para inibir, para que fatos não aconteçam mais, para que o debate aconteça. O Deixa é o preventivo, é aquela luta diária, aquela prevenção, é a vacina, é o antes, e não o depois. Tem um debate muito grande sobre isso, mas sempre era depois dos fatos. Temos que conscientizar antes do fato, para que as pessoas não façam mais isso. Vamos lutar para que possamos cortar o mal pela raiz. A gente tem que estar no caminho certo.

Quais são os próximos passos do #DeixaElaTrabalhar?
Os próximos passos são cuidar, vigiar, ficar atentas, não aceitar mais que esse tipo de coisa aconteça. Temos que vigiar sempre para que possamos continuar nesse tratamento contra o machismo e preconceito, seja ele qual for.

Historicamente, o futebol sempre foi considerado um ambiente hostil e predominado por homens. Mas, a cada ano, o número de mulheres na imprensa esportiva só aumenta. Qual a sua análise da participação feminina nos grandes eventos esportivos e o maior obstáculo enfrentado por você para entrar nessa área?
As mulheres tinham medo de encarar. Uma começou a entrar, a outra também, e aí percebemos que dava para ingressar. Fomos nos unindo, e a gente merece tanto quanto os homens que já estavam lá. Esse aumento se deve ao enfrentamento. O maior obstáculo é sempre estar um pé atrás do concorrente homem. Ele não está naquela pressão louca. Já a mulher, que chega a um quilômetro do rapaz, tem que correr, correr. Quando eu errar, às vezes até por um erro de digitação, coisa pífia, eu errei por ser mulher, por não entender. Se o homem erra, isso é normal, ele é homem. Então, esse é o maior obstáculo.

Em sua opinião, por que há ainda um espanto ao deparar com mulheres no futebol. Você acredita que o machismo no futebol tem sido mais destaque nos programas esportivos?
Eles debatem o machismo? Sim, debatem. Mas com galhofa, com risadas, piadinhas. Estão debatendo por obrigação. Até dentro da redação, eles estão rindo de ti, te abraçam, mas estão rindo por dentro. Então, não é apenas o torcedor que tem que mudar de comportamento, e sim, todos, inclusive os colegas de profissão.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Alma lavada: Cruzeiro goleia no Mineirão

A derrota para o Racing por 4 a 2 e os empates sem gols com o Vasco e a Universidad de Chile - jogos válidos pela Libertadores - e os outros revés para o Grêmio e Fluminense (partidas do Campeonato Brasileiro) ambos por 1 a 0 fizeram com que um ponto de interrogação aparecesse no trabalho do técnico Mano Menezes.

O cenário para o enfrentamento contra o Universidad de Chile, desta vez no Mineirão, não era o melhor. Havia cobrança por parte dos torcedores, a insatisfação em relação ao posicionamento que Thiago Neves ocupava em campo. Mas os 90 minutos comprovaram que um time pode ir do inferno ao céu.

Com apenas dois pontos na tabela de classificação e estando em terceiro lugar, a obrigação do Cruzeiro era única: vencer. Uma vitória simples não mudaria a posição. Um triunfo por dois ou mais gols colocaria a Raposa na vice-liderança, atrás apenas do Racing, que viria a empatar com o Vasco, outro representante brasileiro na chave.

Thiago Neves volta a marcar gols pela Libertadores depois de 10 anos (Vinnícius Silva/ Cruzeiro)

Jogando de forma eficiente, segura e ofensiva, o Cruzeiro não demorou para construir a vantagem necessária. Aos 17 minutos, o placar já mostrava 2 a 0 para os brasileiros. Gols de Thiago Neves, em cobrança perfeita de falta; e Rafinha, após assistência de Sassá. Aos 43 minutos, foi a vez de Sassá anotar o seu gol, de pênalti. Na sequência, Vilches foi expulso.

Se com um a mais em campo, o time mineiro possuía espaços para atacar e entrar com facilidade no campo inimigo, a situação só aumentou favoravelmente quando Echeverría, outro zagueiro, também recebeu o segundo cartão amarelo e foi expulso.

Com nove, Universidad de Chile sentiu o impacto. Uma equipe bagunçada e perdida lutava contra o time dominante, que girava o jogo e tinha muita tranquilidade para trocar passes. E não demorou para que a vantagem aumentasse.

Arrascaeta, Sassá e Thiago Neves (novamente) e Rafael Sóbis completaram a goleada histórica no Mineirão. Um novo jogo de sete gols para uma equipe só, vide o 7 x 1 da Alemanha sobre a seleção brasileira.

A goleada do Cruzeiro por 7 x 0 sobre a Universidad de Chile iguala a conquistada em 2010, também pela Libertadores e no Mineirão, contra o Real Potosí, da Bolívia.

Foi um jogo perfeito do Cruzeiro. E poderia ter saído mais gols. A intensidade só aumentava com o passar do tempo. Resultado importante sob todas as esferas: espanta a má fase, pois o time não marcava e nem vencia há três jogos; confiança restabelecida entre time e torcida; e Mano Menezes recupera o crédito.

terça-feira, 24 de abril de 2018

Cobranças sobre Dudu são injustas. Mas os ídolos não estão imunes

Após fazer um bom 2014 pelo Grêmio, o atacante Dudu foi o alvo de vários times, principalmente de São Paulo e Corinthians. As duas equipes lutaram, fizeram lobby, até o próprio atacante disse que queria jogar no time do Parque São Jorge. Mas, de forma surpreendente, o Palmeiras apareceu na jogada e fechou com o camisa 7.

Dudu não esconde que fez a "melhor escolha" de sua vida, como mostra um post feito por ele numa rede social. O atacante tem dois títulos com a camisa palmeirense: Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro. É o destaque da equipe, embora não esteja vivendo uma fase áurea.

Desde que o Palmeiras perdeu a final do Campeonato Paulista, a relação entre time/torcida está estremecida. E o alvo é o atacante. Na decisão do estadual, contra o Corinthians, Dudu perdeu a primeira cobrança de pênalti. No jogo contra o Boca Juniors, pela Libertadores, ele não mostrou bom desempenho. E diante do Internacional, no último domingo, apesar do gol da vitória no Pacaembu, ele sequer comemorou.

No desembarque do Palmeiras na Argentina, cerca de 20 torcedores protestaram contra o capitão. Todas as críticas e cobranças, desde que sejam com respeito, são válidas. Mas Dudu não as merece.

Dudu é ídolo do Palmeiras (Foto: Cesar Greco/Ag Palmeiras/Divulgação)
Em janeiro, no período de transferências, o jogador recusou uma proposta milionária do futebol chinês. Convocou uma entrevista coletiva, explicou os motivos que o levaram a permanecer no Palmeiras. A identificação com o clube é muito forte. E o status de ídolo é frequentemente usado por outro grupo da torcida.

Com o gol marcado contra o Colorado, por exemplo, Dudu atingiu uma marca importante: é o maior artilheiro palmeirense da história do Brasileirão por pontos corridos (a partir de 2003). São 26 gols marcados. É errado generalizar o comportamento de alguns valendo por todos. Vinte torcedores não representam mais de 15 milhões. 

O que Dudu também tem que entender é que os ídolos não estão imunes às críticas, ou seja, precisam absorvê-las. Neto, um dos grandes nomes da história do Corinthians, sofreu com as perseguições. Neymar, o último craque que o futebol brasileiro teve, também teve que lidar com as reações negativas de torcedores do Santos.

Não comparo a qualidade de Dudu com os outros dois citados. Comparo e sintetizo o comportamento de parte de torcedores com aqueles que escreveram suas histórias nas páginas dos clubes. O momento é delicado.

Dudu é ótimo jogador, tem personalidade, e versátil. Chegou a ser convocado para a seleção brasileira e tem condições de retornar. Ele seria titular em todas as equipes do Brasil. A melhor resposta que ele pode dá para quem o criticou é dentro de campo, marcando ainda mais gols e sendo a personificação da vontade, algo que nunca lhe faltou desde a chegada ao Palmeiras.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Renata de Medeiros: "Não podia deixar algo tão lamentável atrapalhar a minha grande cobertura do ano"

A jornalista Renata de Medeiros tem apenas 24 anos. Apesar da pouca idade, a gaúcha de Porto Alegre tem uma vasta experiência no campo do jornalismo esportivo. Seu primeiro trabalho foi como estagiária, em 2011, quando ainda estava no segundo semestre da faculdade. Entrou na Rádio Guaíba, onde realizou a produção de programas, edição de áudios, elaboração de matérias especiais. Em 2012, foi para a Rádio Gaúcha, também como estagiária, onde fez reportagens e produções. De 2013 a 2014, pelo Jornal Zero Hora, cobriu a Copa do Mundo e fez coberturas ao vivo do Grêmio e do Internacional. Em 2015, ainda no Zero Hora, fez reportagens sobre bem-estar. Desde abril de 2015, Renata está na Rádio Gaúcha, onde realiza a produção do Hoje nos Esportes e faz reportagens de torcida, principalmente do Inter.

Porém, a jornalista, que descobriu a paixão pela escrita e pelo futebol no colégio, ficou nacionalmente conhecida devido à situação lamentável ocorrida no Beira-Rio, no clássico Gre-Nal. Ela recebeu insultos de um torcedor do Internacional na arquibancada superior do estádio e acabou agredida.


– Nunca passou pela minha cabeça que eu sofreria algo do tipo na arquibancada, um lugar onde me sinto tão bem e sou bem recebida. Depois das ofensas e a tentativa de agressão, sai daquele setor, relatei no ar o que aconteceu e lamentei, em tempos que a gente pede paz nos estádios – conta Renata, em entrevista para o blog.


Abaixo, você pode conferir toda a íntegra do bate-papo e conhecer um pouco mais de Renata de Medeiros. Ela fala sobre o início na carreira, os aprendizados com os companheiros de trabalho, o movimento #DeixaElaTrabalhar, Copa do Mundo e muito mais.

Houve alguma influência familiar para que você decidisse pelo Jornalismo? Como iniciou essa paixão pela profissão?
Nenhuma influência familiar no sentido de ter alguém da comunicação na minha família. Minha família é bem humilde e rural. Meus pais são produtores rurais, tem uma empresa de leilão de gado, meus avós também criam gado. Então, não tem nenhuma inspiração da comunicação na família. Essa veia da comunicação não veio hereditariamente, digamos assim. O que veio da minha família mesmo foi o gosto pelo futebol. Meus avós maternos gostam muito, a minha mãe, que foi muito importante, sempre tive essa referência feminina em casa, relacionado ao futebol. Minha mãe gosta muito do futebol. Até esses dias a minha avó me viu trocando figurinhas do álbum da Copa com meu irmão, e ela disse: “Lembro como se fosse ontem eu levando a sua mãe para trocar figurinhas no centro de Gravataí (cidade de RS)”. Ir ao centro era uma logística complicada. Saía de Morungava, interior, para ir à Gravataí. Isso me orgulha demais. Na minha família, a coisa do futebol passou da minha avó para minha mãe, e de minha mãe para mim, de forma muito forte. Minha mãe sempre foi parceira, de ir ao estádio, de discutir, a gente foi para as Olimpíadas do Rio de Janeiro juntas. Então, sempre foi uma parceria muito legal e presente. Desde pequena, gostava muito, mas meu pai não me deixava ir ao estádio, pois achava que não era ambiente de mulher, então eu acompanhava tudo pela TV e pelo jornal. E aí, lendo o jornal, surgiu a paixão pelo jornalismo. Virou meu sonho escrever naquelas páginas da Zero Hora. E aí, na sexta série, quando a gente aprendeu a escrever crônicas, comecei a fazer sobre futebol. Desde a sexta série, estava muito certa de que eu queria ser jornalista. Descobri que poderia unir duas paixões: escrita e futebol. Mas tenho crônicas da quarta série, quando eu tinha 10 anos, tenho história de “Ah, querido diário, estamos na Copa, e hoje estou trabalhando e a manchete será...”. Já me descrevia como jornalista, embora não soubesse ainda o que era ser uma jornalista esportiva. Daí surgiu o meu interesse, desde muito pequena. Nasceu pelo gosto do futebol e de escrever.

Renata de Medeiros na arquibancada (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)
A ‘’morte’’ do radio chegou a ser anunciada duas vezes, com o advento da televisão e, depois, com a popularização da internet. Mas o veículo ainda é valorizado, principalmente devido às transmissões esportivas. Como é possível um veículo de comunicação sobreviva a décadas de inovações tecnológicas e mantenha a sua posição como um dos protagonistas do universo dos meios de comunicação social?
Eu acho que o jornalismo tem muito disso, com um advento de um meio de comunicação, decretar a morte de outro. O que tem que acontecer é a reflexão do jornalista – e do jornalismo –, como um todo, sobre o próprio veículo e do papel que ele exerce na sociedade. Por exemplo: o jornal impresso, que é a situação mais crítica entre os meios. Não é porque o pessoal não gosta mais de ler jornal, é porque a rotina mudou. E isso serve para todo o tipo de canal. E o rádio passa muito por isso também. A instantaneidade mudou bastante. A Rádio Gaúcha, por exemplo, ultimamente tem uma programação quase 100% ao vivo. Antigamente, tinha muitos programas gravados. A instantaneidade não era muito relevante, ainda não tinha a internet, então era algo que caminhava na mesma velocidade da sociedade daquela época. Eu acho que o rádio conseguiu acompanhar essa evolução. A internet ajudou muito, pois quem está na China ouve a Rádio Gaúcha e outras rádios pelo aplicativo. Em vez de diminuir o alcance, a internet potencializou. O rádio é uma companhia. Eu não consigo entrar no carro ou em casa e não ligar o rádio. Acho que isso é muito comum. O que tenho a ponderar é isso: a internet ajudou a melhorar o alcance. Enquanto a gente conseguir se adaptar à velocidade e à forma de consumo da sociedade, o rádio vai continuar presente na vida das pessoas. 

Além de repórter, você também é produtora na Rádio Gaúcha, onde está atualmente. Tem alguma matéria/produção de programa que você considera a mais especial?
Eu produzo o “Hoje nos Esportes”. Quando tem jogo, estou escalada como repórter. Mas a minha produção diária é o programa com o Luciano Périco, que, para mim, é um grande mestre, que fez arquibancada durante 20 anos, deu a sua cara a uma função que não existia. Personagem imprescindível numa jornada esportiva. Eu comecei a substitui-lo em 2015, quando ainda era titular. Em 2016, quando passou o bastão para a Kelly Matos (Internacional) e o Duda Garbi (Grêmio), fiquei como substituta. Luciano é um comunicador de mão cheia, é algo gratificante trabalhar com ele. O “Hoje nos Esportes” cuido com muito carinho. Um dos programas mais informativos e descontraídos. Sempre gostei do estilo, porque traz a informação num ritmo de fim de tarde. Eu amo produzir.

Na Rádio Gaúcha, você trabalha junto com Kelly Matos, Eduarda Streb, Pedro Ernesto, Maurício Saraiva, entre outros. O quanto é valioso poder estar ao lado desses profissionais e como é a troca de experiência?
Para mim, o Lucianinho (Luciano Perico), é a pessoa com quem mais aprendi na Rádio Gaúcha. Porque, como repórter esportivo, ele criou um personagem dentro de uma jornada. Então, eu queria ser como o Luciano. Tanto que eu fico muito orgulhosa quando alguém chega pra mim e fala alguma coisa com relação a ele, porque ele é um espelho dentro do jornalismo. O Pedro Ernesto é uma pessoa que entende de rádio de maneira absurda, assustadora. Quando comecei na rádio, eu vinha de jornal. Então, eu não tinha ainda a malemolência que o rádio requer, e ele faz o intensivo numa conversa. Ele te dá o rádio na veia, tem que ficar atento a todo instante, porque se tu piscas um segundo, tu deixas de absorver algo valioso. Acho que o grande aprendizado é conviver com essas pessoas, crescendo. Eu, Renata, guardo uma admiração muito explícita, que eu tenho um prazer enorme de trabalhar com o Lucianinho, mas também com o Zé Alberto Andrade, repórter de mão cheia. Se eu for 10% do que o Zé é, pra mim, está ótimo, missão cumprida. Sérgio Boaz, que foi colega e sempre vai ser, trabalhou comigo na Gaúcha, então sou muito grata aos ensinamentos dele. Trabalhar nesse meio tu tem que se preparar para absorver tanto aprendizado.

Infelizmente, você foi vítima de agressão verbal e física por um torcedor do Internacional durante o Gre-Nal. No Twitter, você publicou: “Nunca achei que fosse passar por isso trabalhando”. Se possível, conte-nos como foi o momento após a ofensa.
Por que eu escrevi que eu nunca achei que fosse passar por isso trabalhando? Porque sempre fui bem recebida pelas torcidas de Inter e Grêmio desde que eu comecei a fazer arquibancada, ainda em 2015, quando substituí o Lucianinho. Não existia na Gaúcha esse molde de torcedor-repórter. Eu sempre substitui o Luciano, e depois substituía a Kelly Matos e o Duda Garbi, quando eles não podiam fazer seus respectivos times. Eu nunca fui identificada com nenhum time – continuo não sendo –, embora eu faça Inter com mais frequência. Eu sempre fui bem recebida pelos dois times, me tratam com muita receptividade, porque o torcedor é o meu material de trabalhar, retratar o que o torcedor pensa. Nunca passou pela minha cabeça que eu sofreria algo do tipo na arquibancada, um lugar onde me sinto tão bem e sou bem recebida. Depois das ofensas e da agressão, saí daquele setor, relatei no ar o que aconteceu e lamentei, em tempos que a gente pede paz nos estádios. Quando falei aquilo, baixou a adrenalina, fiquei bem balançada, chorei uns 10 minutos até chegar ao setor onde deveria fazer o jogo, tentando me recuperar e ter condições para terminar a jornada. Era o meu primeiro Gre-Nal, a expectativa, a adrenalina estava no topo. Não podia deixar algo tão lamentável atrapalhar a minha grande cobertura do ano, pois era o meu primeiro Gre-Nal. Chorei bastante, comprei uma Coca-Cola e pensei: “Agora que eu já descarreguei toda essa carga enorme e emotiva, agora eu vou reunir as minhas forças e vou fazer o Gre-Nal, que eu me preparei tanto e me deixou tão ansiosa e vou fazer essa jornada”.

No final de março, foi lançado o movimento #DeixaElaTrabalhar, que luta contra o assédio moral e sexual sofrido pelas mulheres nos estádios e demais lugares. Conte-nos sobre o surgimento dessa campanha e o que ela representa, vide a repercussão que vem ganhando e o apoio de atletas, clubes, entidades.
Não é só nos estádios, né? É nas ruas e, principalmente, dentro das redações. Porque as pessoas não têm tanto conhecimento. O primeiro assédio que acontece é dentro da redação, quando algum colega duvida da tua apuração, quando diz que a fonte facilitou por ser mulher ou quando a fonte quer algo contigo. Sempre existiu esse menosprezo ao trabalho da mulher dentro das redações. Então, não é só contra o assédio nos estádios. É para que nossos colegas se conscientizem também. O movimento surgiu porque já existia um grupo de WhatsApp, chamado Imprensa Girl Power, criado por algumas jornalistas do Rio de Janeiro. Elas criaram esse grupo para debater essas questões. Depois do meu caso, poucos dias depois, na terça-feira, teve o da Bruna [Dealtry], do Esporte Interativo, em que um torcedor tentou beijá-la à força, ao vivo. Foram casos que tiveram repercussões. Na quarta-feira, adicionaram a gente no grupo. E outras pessoas foram sendo adicionadas. O grupo já tinha 30 jornalistas. Os casos são muito numerosos, não é só o meu ou da Bruna. Todas que gravaram, participaram do vídeo foram vítimas de assédio. Fizemos esse manifesto que desse voz a todas as mulheres, não só as do jornalismo esportivo. Uma advogada já me procurou para ter a camiseta, um médico dizendo que a filha dele também passa por essa situação. Surgiram outros movimentos, como #DeixaElaTorcer, #DeixaElaJogar. É generalizado o sentimento de menosprezo, que a gente se sinta diminuída pelo fato de ser mulher, desempenhando funções que a gente tem total capacidade. A repercussão se deve a muitas mulheres por comprarem a causa, de [mulheres] que querem a vestir a camiseta. A identificação com muitos segmentos da sociedade foi determinante para a grande repercussão da campanha.

Renata de Medeiros, repórter e produtora da Rádio Gaúcha (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)
Quais são os próximos passos do #DeixaElaTrabalhar?
A gente está se organizando nacionalmente ainda, para fazer uma ação conjunta novamente. A gente tem várias ideias, mas estamos nos organizando, porque, assim como o primeiro vídeo que englobou jornalistas de vários Estados, o próximo passo também tem que englobar. Agora, somos mais de 100 jornalistas, a aprovação de qualquer ideia já dá mais trabalho que antes, porque tem que opinar, aprovar. Mas, depois do vídeo, tivemos a confecção das camisetas. Fiz mais de 200 encomendas aqui no Rio Grande do Sul. É algo muito maior do que a gente imaginava que seria. A gente está promovendo debates nas faculdades, porque é um dos ambientes mais propícios para colocar esse assunto em debate e reflexão, porque vão surgir as novas profissionais e os novos profissionais, que vão tornar o ambiente de redação um pouco mais propício para a presença da mulher. Estamos engajadas em promover isso. Na sexta-feira, participamos do TVE Debate – TV Pública – colocar essa questão no ambiente em que todos têm acesso é muito importante. Então, estamos em um estágio de disseminação. Não queremos ir contra os homens, e isso é uma barreira. Não quer dizer que somos inimigos. Pelo contrário. A gente quer ter as mesmas condições: ser tratada do mesmo jeito, ter os mesmos salários, ocupar os mesmos espaços. A gente quer igualdade, e não superioridade. Ainda está tendo bastante repercussão. Mas passado aquele boom inicial, o foco é explicar como funciona. Enquanto não tiver igualdade, a campanha vai continuar. Não podemos atropelar as coisas. Vamos para a conscientização. E o próximo passo será bem pensado, orquestrado e sintonizado.

Historicamente, o futebol sempre foi considerado um ambiente hostil e predominado por homens. Mas, a cada ano, o número de mulheres na imprensa esportiva só aumenta. Qual a sua análise da participação feminina nos grandes eventos esportivos e o maior obstáculo enfrentado por você para entrar nessa área?
Sou uma péssima pessoa para falar sobre o maior obstáculo para entrar nessa área, porque eu sempre fui metida no jornalismo esportivo. Sempre quis futebol, frequentava estádio com naturalidade, me sentia em casa no ambiente esportivo. E o meu primeiro emprego eu consegui quase sem obstáculo, porque eu estava fazendo um trabalho para a faculdade e queria entrar no setor de imprensa do Beira-Rio, para falar com os jornalistas a respeito da execução dos hinos antes dos jogos de futebol. Vi um repórter de rádio, não sabia quem era, e perguntei para ele onde ficava a área. Aí ele disse: “Tu és estudante de jornalismo? Tu gostas de esporte?”. Aí eu disse que sim, adoro. “Ah, porque nós precisamos de um estagiário para o rádio, tu queres?”, claro, eu respondi. Na segunda-feira, fui lá, passei no teste, e terça-feira estava trabalhando. Estava no segundo semestre de faculdade. Já são sete anos de jornalismo esportivo, entrei muito jovem. Sempre fui focada nisso, agarrei a oportunidade, então não enfrentei muitas barreiras. Sobre as mulheres na imprensa: isso é ótimo. Quando entrei na Guaíba (ocasião contada) em 2011, entrei na produção. E não tinha mulheres na reportagem do rádio. Por quê? Taynah Espinoza (apresentadora do Esporte Interativo) tinha saído da Band, e nenhuma mulher tinha assumido o lugar dela. Débora de Oliveira (SBT) também estava fora há um tempo. A gente teve um gap. Passou um ano, a Christiane Matos foi para a Band fazer reportagem de campo. A Rádio Guaíba botou a Ananda Muller, Camila Diesel e Samantha Klein a revezar reportagem de torcida. Depois, a Kelly Matos assumiu, depois eu viria a substituir, a Ana Carolina Aguiar, da Rádio GreNal, começou a fazer campo também. Em um curto período de tempo, de sete anos para cá, o número engordou. Eu acho que a gente tem que lutar para crescer ainda mais. Esmagadoramente, tem mais homens. Mas o primeiro passo foi dado, e o número (de mulheres na imprensa) tende a crescer.

Você acredita que o machismo no futebol tem sido mais destaque nos programas esportivos?
Eu acho que sempre foi algo debatido, mas de uma forma em que a mulher não era tão presente nesse meio, era algo distante. Pela primeira vez temos mulheres botando a cara. Quando acontecia o ato, antes, era só o homem na bancada falando e ponto. Agora, não. As mulheres estão defendendo o seu espaço, denunciando. Eu acredito que a gente está no momento crucial da história, e acho isso incrível. Porque só a mulher pode mostrar que peso uma atitude machista tem.

No atual jornalismo, são muitos os que exercem a função sem diploma e com falta de credibilidade. Você é a favor do diploma para a atuação? E qual a importância da fonte na hora de divulgar uma notícia?
Com certeza sou a favor do diploma. E não existe notícia sem fonte, né? Tem um colega meu da Rádio Guaíba que costuma dizer: “Quem revela fonte é água mineral”. Só o jornalista com diploma tem credibilidade de fazer uma notícia sem revelar a fonte e, mesmo assim, ter credibilidade. Porque a gente tem noção do que é ética, responsabilidade, honestidade, diferente de pessoas que não têm diploma e acham que qualquer boato é notícia. Não. A gente apura e a fonte é um papel tão fundamental quanto o jornalista. Para mim, são coisas que andam lado a lado.

Uma cobertura especial. Por quê?
Copa do Mundo, [porque] chega a me dar borboletas no estômago só de lembrar. Foi a melhor época da minha breve carreira de sete anos de jornalismo esportivo. É a coisa mais incrível que pode acontecer na vida de um jornalista. Eu tive muita sorte de fazer isso como estudante. Em 2013, fui contratada como repórter-assistente pela Zero Hora, então fiz toda a preparação do Beira-Rio para a Copa. Foi a coisa mais legal. Eu estava na primeira muda plantada no estádio, quando ergueram a primeira peça metálica, quando fizeram os eventos-testes, na cerimônia de inauguração. Acompanhei todo o crescimento do estádio, o envolvimento do torcedor. Tinha um grupo [de torcedor] que fazia vaquinha para manter as câmeras 24h no estádio, para acompanhar todas as obras, gente de várias partes do Brasil e até do exterior queriam ver todo o processo. Gratificantemente, eu pude ver isso de perto. Vi a transformação da cidade. O Beira-Rio mexeu com a torcida. Eu me sinto muito responsável por contemplar o lado emotivo dos torcedores nas matérias e relatos que faço. Algo que lembro com carinho foi um dia, de tarde. Todos queriam conhecer a membrana do estádio. “O que era? Como seria a estrutura da cobertura?” Era um mistério. Eu descobri quem era o engenheiro, me vesti de obreira e me infiltrei nas obras com a autorização dele para filmar em primeira mão, para a Zero Hora, e mostrar para o público o que era, afinal, aquela cobertura. Então, só o fato de sair de tarde, de capacete, bota de borracha e tentar entrar no estádio, escondida (claro, o engenheiro me acompanhando), porque ninguém poderia saber, foi algo muito legal. Pude aprimorar minha apuração. O meu editor na época, Rodrigo Muzell, foi determinante para a construção. Foi mágico, incrível. Ainda bem que está chegando a próxima Copa. Eu tinha muita liberdade para determinar o tipo de pauta. Na estreia do Brasil [contra a Croácia], eu fui para a emergência de maternidade, para ver se algum casal colocaria o nome do seu filho relacionado ao futebol. Descobri que um casal estava colocando o nome de David Lucca, nome do filho do Neymar. Descobri histórias incríveis, que só a Copa poderia proporcionar. Com certeza a Copa de 2014 foi a cobertura que guardo com mais carinho. Foi a primeira e espero que não seja a última.

Um jogo inesquecível que você trabalhou como repórter?
Não sei se tem um jogo, mas a cobertura da Série B, do ano passado, foi algo de muito valor profissional para mim. Porque eu fiz as 19 rodadas do Inter no Beira-Rio. Foi uma Série B conturbada, teve protestos, foi o primeiro campeonato que cobri de cabo a rabo, porque a Kelly Matos saiu da torcida do Inter em março de 2017, no meio do Gauchão, então terminei de cobrir o estadual. Foi uma longa cobertura, nunca tinha assumido essa função de maneira contínua. A Série B foi, sem dúvidas, uma cobertura de grande crescimento profissional, porque durante muitas rodadas teve muitos protestos, então eu tinha que cobrir, era gás de pimenta, bomba de efeito moral, bomba de gás lacrimogênio, ação da polícia, torcida, vândalos. Relatar isso com tanta riqueza de detalhes para alguém tão inexperiente como eu era, foi um desafio enorme. Então, olhar para trás e ver que eu consegui fazer tudo isso e tomar como conhecimento profissional, jornalístico, é algo que me orgulha demais. Eu ter dado conta e utilizado para me tornar uma repórter de torcida, uma repórter, no seu sentido literal. Eu acompanhei a emoção dos torcedores, pois foi o primeiro rebaixamento do Inter, acompanhar esse fardo me fez crescer. Estar do lado da torcida que viveu esse martírio foi enriquecedor. Embora tenha sido bem pesada, foi a cobertura mais importante que fiz na rádio.

Quem são os jornalistas e/ou profissionais da comunicação que mais admira?
Lucianinho (Luciano Perico) é o top 1. Outra pessoa que admiro muito é a Ana Thais Mattos, da Rádio Globo, SporTV. Pra mim, ela é uma mulher incrível, setorista, comentarista, expressa tudo com muita clareza, não se intimida por ser mulher, faz perguntas ótimas nas coletivas que consigo acompanhar. Pra mim, é a mulher referência dentro do jornalismo esportivo hoje. Depois do Lucianinho, ela é a pessoa em que mais me espelho.

Renata de Medeiros entrevista o técnico da seleção brasileira, Tite (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)
Um sonho que pretende realizar?
Cobertura in loco de Copa do Mundo. Acho que o que eu vivi na Copa de 2014 serviu para eu me preparar, como profissional de jornalismo, foi uma experiência incrível e me deixou com vontade de repetir. É o meu grande sonho cobrir in loco. Tenho outras vontades, como morar fora, acompanhar outros campeonatos – Italiano é um exemplo, um dos meus sonhos é morar em Turim. Não pensei isso profissionalmente, mas já que estamos falando de sonhos, né? Londres é outra cidade que gostaria de viver, para acompanhar o futebol inglês.

Uma entrevista que gostas sempre de recordar?
Que eu tenha feito, pelo peso depois da morte do Fernandão, com certeza foi uma entrevista com o Fernandão, antes da reinauguração do Beira-Rio para a Copa. Ele chorou nessa entrevista, dizendo que gostaria de reeditar a cena do “OOOO, Vamo, Vamo Inter” (após a conquista do Mundial de Clubes de 2006). Poucas semanas depois, ele morreu e aquilo me marcou muito. Participei da cobertura dos atos fúnebres e vi o tamanho do Fernandão para a torcida do Inter. O peso de ele ter chorado comigo, em uma entrevista, ao telefone, se tornou ainda maior. Uma entrevista que me marcou. Um repórter conseguir arrancar algo, que é a emoção, do entrevistado é muito legal. O ato se tornou grandioso, infelizmente, após a morte dele. Pelo contexto, depois, recebeu um peso muito grande pra mim. Outra coisa que me marcou muito, também, foi o especial que eu fiz com o Raphael Gomes sobre a Batalha dos Afiltos (jogo entre Náutico x Grêmio). A gente poder recontar histórias que já passaram de uma maneira diferente, mexendo com a emoção das pessoas, eu acho mágico. E ver o retorno junto à torcida é muito recompensador. Então, outra cobertura que me marcou bastante, que completou 10 anos em 2015.

Qual a análise que você faz da dupla Gre-Nal em 2018?
São análises bem distintas. O Grêmio vem forte, com base de time desde 2015, com um técnico que amadureceu muito, que está longe de ser aquele cara que chegaria ao Grêmio para motivar um elenco que estava acertadinho. O Renato deu outra cara de jogar e conseguiu manter isso ao longo dos anos, porque passou pelo título da Copa do Brasil, Libertadores, Recopa e Gauchão. O Grêmio é candidato a título, pois ainda tem Brasileirão, Libertadores e Copa do Brasil, então está no pleito para conquistar. Pelo calendário, acho complicado ir atrás de mais de um desses títulos. Eu acho que tem um grupo, técnico e, o mais importante, união política, algo que falta ao Inter, um dos fatores pela bagunça gigantesca que virou o clube. De campeão mundial a rebaixado para Série B, não conseguiu ser campeão. Neste ano de reconstrução, foi eliminado no Gauchão, na Copa do Brasil sem chegar as oitavas de final, então só tem o Brasileirão. Será um ano complicado. A torcida vai cobrar não só resultado, mas desempenho. A torcida vai cobrar uma vaga na Libertadores. Será um desafio de o Odair Hellmann mostrar para os torcedores que o time está focado. Muitos técnicos passaram pela equipe em um curto período de tempo, desde o Aguirre, semifinalista de Libertadores há três anos. Os jogadores têm que assimilar essa forma de jogar do Odair, botar em prática, e começar o ano de 2019 bem estruturado. Terá eleição no fim do ano. O ambiente político está tenso, principalmente porque o ex-presidente Vittorio Piffero tem milhões de reais sendo investigado pelo Ministério Público, ele teria desviado do caixa do clube, então é algo que mexe com os bastidores políticos. A gente sabe que essa desunião política é algo prejudicial. O Grêmio, por exemplo, só conseguiu voltar a ser vencedor quando Romildo Bolzan assumiu a administração e conseguiu unir movimentos políticos ao redor dele, é um cara agregador. Enquanto o Inter não entrar nesse caminho – e não há indícios – por enquanto, as coisas vão continuar bem difíceis pelo lado do Beira-Rio.

O que você espera da Seleção Brasileira nesta Copa do Mundo? Expectativa é maior em relação a 2014?
Acho que nunca, na história, a gente vai ter uma seleção com uma expectativa tão grande quanto a de 2014, porque era uma seleção campeã da Copa das Confederações, torneio em casa, baita time. Então, e com o técnico do Penta (Felipão). Então, se não era um cenário extremamente propício para vencer a Copa, eu não sei mais o que é. Agora a gente vem empolgado por quê? Depois do 7 x 1, da volta do Dunga, o trabalho do Tite é o primeiro alento que a gente vê na seleção, mas acho que a expectativa não é maior com relação à Copa de 2014, embora seja grande. A seleção terá adversários importantes na luta pelo título, como Espanha, França Alemanha e Inglaterra, seleções que vêm muito bem para esta Copa. Então, a seleção brasileira vai ter dificuldades. Os testes demonstraram isso. Eu acredito que o hexa é possível, mas o hexa de 2014, pra mim, era mais próximo.

Renato Gaúcho na seleção brasileira? (Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)

Muito se discute sobre Renato Gaúcho como futuro técnico da Seleção. O que você pensa a respeito?
Acredito que é um técnico que amadureceu muito, porque, antes, a gente só enxergava apenas como motivador. A gente vê que é um técnico que conhece muito sobre futebol, tem repertório, que tem alternativa. O Grêmio perdeu Pedro Rocha, Wallace, Barrios, e o Renato conseguiu ajeitar o time. Por ter amadurecido muito e ter aprendido, eu acredito que ele é um bom candidato para assumir a seleção após o Tite. O Renato sabe dar continuidade, aproveitar as coisas positivas. O Tite tem um projeto de longo prazo na seleção, mas acredito que a transição pode acontecer. Se tu me perguntasses isso na última passagem pelo Grêmio, alguns anos atrás, eu diria que era possível. Hoje é factível.

Como é a relação dos clubes e jogadores com a imprensa em Porto Alegre?
É tranquilo. A gente tem um melhor trato, digamos assim, no Grêmio, a gente consegue trabalhar melhor em relação ao Inter, talvez o momento explique isso. Mas, com relação aos demais clubes do Brasil, Porto Alegre é um paraíso. Se a gente pegar o Atlético-PR, por exemplo, tem uma relação muito fechada com a imprensa. No geral, classifico como tranquila a relação.

Para ser uma boa comunicóloga, qual a fórmula de sucesso?
Quando vocês me descobrirem, vocês me contem (risos). Não considero uma comunicóloga, muito menos de sucesso. Não sou a pessoa certa para dizer isso, e acredito que não tenha uma fórmula.

Deixe um recado para os nossos leitores que querem seguir a área do jornalismo e nos conte como é trabalhar na Rádio Gaúcha.
Quem quer jornalismo esportivo tem que meter a cara nessa área, tem que estar metido nesse ambiente chamado futebol e não ter medo de agarrar as oportunidades, mesmo que as primeiras sejam diferentes daquelas que o nosso sonho sempre quis, porque o primeiro passo sempre tem que ser dado. Trabalhar na Rádio Gaúcha é uma experiência muito enriquecedora, porque a gente trabalha com grandes ícones da comunicação brasileira. Trabalhei com Wianey Carlet, que cobriu – Bah – não sei nem quantas Copas (foram 10 edições), Pedro Ernesto Denardin, cheguei a trabalhar com professor Ruy Carlos Ostermann, Zé Alberto Andrade, Sergio Boaz (nomes fortes da reportagem). É uma experiência enriquecedora e que me deixa muito grata, por tão nova aprender tanto com eles.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Flamengo e São Paulo sofrem do mesmo problema: erros repetitivos

Um dia antes da partida contra o Santa Fe, da Colômbia, na terça-feira, 17, o Flamengo fez um treino aberto no Maracanã. Mais de 45 mil pessoas estiveram presentes em uma tarde de sol. Julio Cesar, goleiro, e Juan, zagueiro, disseram que a torcida é "diferente". 

Tanto os atletas mais experientes quanto os jovens prometiam levar ao Maracanã, um dia depois, a vibração da torcida. Na quarta-feira, 18, o estádio estava vazio, pois o Rubro-Negro foi punido pelas confusões contra o Independiente, da Argentina. O que se viu em campo foi apatia. Principalmente após o gol de empate marcado por Morelo - artilheiro da Libertadores. Henrique Dourado abriu o placar.

Na quinta-feira, 19, o São Paulo entrou em campo para enfrentar o Atlético-PR - jogo de volta da quarta fase da Copa do Brasil. Na ida, o Furacão bateu o Tricolor por 2 x 1. O ritmo da equipe comandada por Diego Aguirre foi intenso. Muitas trocas de passes, movimentação de Nenê e Valdívia, variação pelas laterais. Era um time bem vibrante em campo.

Flamengo ficou no empate com Santa Fe (Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)
Mas, após abrir 2 x 0 (gols de Valdívia e Nenê), o Atlético-PR diminuiu com Guilherme, em cobrança de pênalti. O São Paulo sentiu o golpe e desandou. Na segunda etapa, apenas os visitantes começaram a sair para o ataque. E não demorou para sair o gol de empate, com Matheus Rossetto.

O empate prosseguiu e o Atlético-PR ficou com a classificação para as oitavas de final da Copa do Brasil.

Mas o que tem a ver Flamengo e São Paulo? Explico.

São duas equipes que encontram dificuldades quando sofrem pressão. Os erros são repetitivos. Falta identidade para ambas. Ao Flamengo, é questão técnica, de jogadores que deveriam assumir um papel importante, como Diego (muito elogiado pela pessoa que vos escreve) e Everton Ribeiro. Ao São Paulo, falta de continuidade. O clube gastou mais de R$ 50 milhões em contratações, mas o resultado não surge.

O Flamengo não consegue passar da fase de grupos da Libertadores. Não tem uma linha a seguir. Joel Santana, Vanderlei Luxemburgo, Andrade, Rogério Lourenço, Zé Ricardo e, agora, Maurício Barbieri, que substitui Paulo Cesar Carpegiani (que também comandou o Flamengo no início da competição internacional). São alguns exemplos. Barbieri, mais recente, é jovem, fez estágio com José Mourinho e se inspira em Guardiola. Entretanto, nos dois jogos oficiais à frente do Rubro-Negro, o treinador cometeu erros nas substituições.

São Paulo também ficou no empate com o Atlético-PR (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)
O São Paulo, além do problema em campo, tem situações complicadas fora dele. A gestão é incompetente, como analisei neste espaço em uma outra oportunidade. São Paulo não ganha um título desde 2012, ano em que faturou o título inédito da Copa Sul-Americana, após vencer o Tigres-ARG. O último Campeonato Brasileiro foi conquistado em 2008. 

Nos últimos seis anos, a história chega a ser irrisória, repleta de tropeços e vexames. Eliminações para a Ponte Preta, Penapolense, Bragantino, Ceará. No Campeonato Paulista deste ano, quase foi surpreendido pelo São Caetano, sendo eliminado nas semifinais para o Corinthians.

O São Paulo ainda não tem a taça da Copa do Brasil na sua sala. E terá esperar mais um ano para tentar o título inédito. Com Aguirre, o Tricolor tem mostrado evolução, mas ainda é insuficiente para buscar o "algo a mais".

As diretorias de Flamengo e São Paulo vão tocando o barco no ritmo lento, do "vai assim mesmo". Não é assim que funciona. Com elencos bem mais modestos, Corinthians e Grêmio mostram que é possível jogar um futebol pragmático e eficiente. São times que têm identidade e jogadores selecionáveis.

O discurso de "raça e determinação", para mim, é indiferente. Como disse o jornalista André Rocha, do portal UOL, "não dá para vencer sempre na fibra. O que conta é o talento individual de uma peça que deveria assumir a faixa, é a qualidade técnica, inteligência e, claro, o gol.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Do que adianta o "novo" se as ideias são velhas?

Rogério Caboclo, único candidato a presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), contou com o apoio das 27 federações e 37 clubes, e assumirá o posto em abril de 2019, no lugar de Marco Polo Del Nero, suspenso pelo Comitê de Ética da Fifa de todas as atividades relacionadas a futebol, e que não pode sair do Brasil, caso contrário será preso.

Atlético-PR, Corinthians e Flamengo não votaram em Caboclo na eleição dessa terça-feira, 17. Em seu discurso, o novo presidente da entidade disse que está comprometido com quem o apoiou. Ou seja, seria uma ameaça àqueles que não compactuaram com o chefe da delegação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Rússia?

Rogério Caboclo foi eleito o novo presidente da CBF (Divulgação/CBF)

O que esperar de Caboclo na CBF? Nada de novo. A estratégia da CBF é velha, ultrapassada, marcada pelo coronelismo. E isso vem desde João Havelange, que deu poder aos familiares mais próximos, como o seu genro - Ricardo Teixeira, que assumiu o posto de presidente da CBF em 1989, ficando até 2012.

Depois, assumiu José Maria Marin, marcado pelo roubo da medalha durante a cerimônia de premiação na final da Copa São Paulo de Futebol Júnior, em 25 de janeiro de 2012. A medalha seria entregue a um jogador do Corinthians, mas, disfarçadamente, ele praticou o roubo.

Cinco anos depois, Marin foi condenado por seis dos sete crimes no escândalo de corrupção da FIFA. O escândalo permaneceu na gestão de Marco Polo Del Nero, seu "substituto".

Caboclo terá que se desvencilhar das imagens assombrosas dos últimos mandatários. São quase 30 anos de vergonha. Os títulos da Copa do Mundo (1994 e 2002) nesses últimos comandos e as premiações altas para os campeões são uma massa de manobra, uma tentativa - furada - de fechar os olhos para as polêmicas e sujeiras jogadas ao vento. Não podemos nos esquecer dos vexames na Copa do Mundo de 2014 e nas duas edições da Copa América.

Não dá para esperar algo de bom e novo na nova CBF, visto que o atual diretor de desenvolvimentos e projetos é Gustavo Perrella, político flagrado traficando 450 kg de cocaína em um helicóptero.

Caboclo assumirá a gestão apenas em abril do ano que vem. É uma prática corriqueira da instituição que manda no futebol brasileiro. Dinheiro não vai faltar no cofre. Arrumar a casa, em vários âmbitos, precisa ser feita, como transformar o futebol feminino, investir nas categorias de base, solucionar os problemas do calendário e da arbitragem.

Discurso de integridade e união é mero clichê. Na teoria, tudo é lindo. Na prática, é mais do mesmo.

terça-feira, 17 de abril de 2018

Discurso humilde, curso com Luxemburgo e legado no futebol capixaba: entrevista com Zé Humberto, técnico do Atlético Itapemirim

O Atlético Itapemirim tem escrito a sua história no futebol capixaba e brasileiro. E isso acontece devido ao trabalho firme e com respaldo da diretoria do treinador Zé Humberto, de 55 anos.

José Humberto de Oliveira, natural de Uberaba-MG, está na equipe alvinegra desde junho de 2016. Em menos de dois anos, se consolidou. Faturou dois títulos de nível estadual: campeão do Campeonato Capixaba e da Copa ES. Nesta temporada do estadual, o Atlético ficou em quinto na classificação geral e não foi para as semifinais.

Agora, o treinador disputará sua terceira final, desta vez em um campeonato nacional, a Copa Verde. Para chegar à decisão, o Atlético-ES eliminou Brasiliense, Cuiabá e Luverdense. O adversário será o Paysandu. O primeiro jogo está marcado para a próxima quarta-feira, 25, às 21h30, no estádio Kleber Andrade. O jogo da volta será 16 de maio, às 20h, no Mangueirão, em Belém.
Zé Humberto espera conquistar mais títulos no Atlético-ES (Foto: Reprodução/Facebook/Atlético Itapemirim)

Três decisões em menos de dois anos. Qual a fórmula do sucesso? Zé responde:

– É muito trabalho. Trabalho, união, dedicação. Tenho uma condição boa para trabalhar. A diretoria é competente, temos uma boa estadia, alimentação, tudo isso favorece – disse o treinador, em entrevista por telefone.

Confira a íntegra da entrevista:

Como foi a sua chegada ao Atlético-ES?
Eu tenho um amigo em São Paulo, Júlio Borges. Ele me indicou para o presidente Rubens Pinheiro, que entrou em contato comigo. Ele me ligou, apresentou o projeto e eu aceitei.

Elenco
Fui moldando de acordo com o que eu gosto de trabalhar. A diretoria me deu respaldo e carta branca para montar do meu jeito. Sempre trabalhei com elenco reduzido, não gosto de [elenco] inchado. Eu considero qualificado e que mira grandes objetivos. Nós estamos trabalhando com muita humildade, dedicação, aqui todo mundo é amigo. Sabemos que é um time modesto, mas que vamos traçar conquistas.

Atlético-ES disputará primeira final em um torneio de âmbito nacional (Foto: Reprodução/Facebook/Atlético Itapemirim)

É o melhor momento da carreira?
Tive muitos outros momentos bons na carreira, como os três acessos seguidos no futebol paulista: Ferroviária (2001), Oeste (2002) e Sertãozinho (2003). Estive em Goiás, onde treinei o Itumbiara, também fui campeão. Mas, de fato, vivo um momento muito bom. Conquistar dois títulos no mesmo ano, estar em uma final de Copa Verde, onde eliminamos o Brasiliense, não é para qualquer um. Aquilo que te falei anteriormente: é trabalho. O coletivo funciona.

Fórmula do sucesso:
É muito trabalho. Trabalho, união, dedicação. Tenho uma condição boa para trabalhar. A diretoria é competente, temos uma boa estadia, alimentação, tudo isso favorece. A gente tem conhecimento que o time é modesto, humilde, mas vamos sempre traçar objetivos. É um elenco vencedor.

Há preconceito com o futebol capixaba?
No tempo que eu estou aqui, vejo que futebol é resultado, assim como em qualquer lugar do mundo. O Atlético Itapemirim é um time humilde, modesto. Para muitos, é zebra, outros dizem que é grata surpresa. O nível do futebol capixaba está melhorando e vai evoluir gradativamente. Isso é natural. Temos um bom quadro de arbitragem, os dirigentes são sérios, os clubes têm mostrado um bom futebol, isso é mérito. Houve uma presença maior dos torcedores nos estádios, então isso é bacana. Aos poucos, as pessoas vão passar a respeitar ainda mais o futebol capixaba.

Variação tática e legado: Zé Humberto (Foto: Reprodução/Facebook/Atlético Itapemirim)

Inspiração vem de qual técnico?
Fiz cursos com Abel Braga, Dorival Júnior, Vanderlei Luxemburgo. São treinadores que eu respeito muito. Acho que a gente tem que evoluir, mostrar o nosso trabalho, estudar bastante. Eu preciso fazer aquilo que seja bom para mim e para o elenco. Futebol é resultado e evolui rapidamente. Temos que estar atentos aos detalhes. Lembro que na década de 90, os técnicos utilizavam o esquema 3-5-2, depois, em 2000, era o famoso tripé de volantes, no 4-3-3, agora é 4-2-3-1 ou 4-2-4, como o Corinthians vem fazendo. Então, há variação.

Modelo de jogo
Eu monto o elenco e o esquema tático de acordo com a necessidade, ou seja, varia, depende do adversário, do momento do jogo. Então, eu começo a partida no 4-4-2, mas dependendo da situação, eu vou para um 4-2-3-1 ou 4-3-3. Eu preciso entender a filosofia do adversário, perceber qual o melhor momento da substituição, que às vezes nem é a saída do atleta, vai da percepção mesmo. Por isso, tenho que estudar.

O que esperar do Atlético Itapemirim na final da Copa Verde e na Série D do Brasileirão?
Temos que, primeiramente, manter a humildade. Na Copa Verde, eliminamos Brasiliense, Cuiabá e Luverdense, que são equipes fortes, bem montadas, que merecem respeito. Se conseguimos chegar à final é porque mostramos que o nosso objetivo está bem consolidado. A Série D é uma competição muito difícil. Temos pela frente o Americano (Rio de Janeiro), que tem um bom trabalho, o Novorizontino (São Paulo), que dispensa comentários, pois chegou às quartas de final do Campeonato Paulista, tem um ótimo trabalho desenvolvido, e o Uberlândia (Minas Gerais), que tem condição boa. Mas o nosso objetivo é se classificar para a próxima fase.

Legado?
Eu quero ficar no Atlético Itapemirim. O presidente Rubens Pinheiro já deixou bem claro que eu posso sair assim que eu quiser. Mas não penso em sair. Quero ficar mais tempo, tenho contrato até o fim de 2018. Quero conquistar mais títulos aqui e deixar um legado para o futebol capixaba. Um legado de conquistas, de um trabalho bem montado, sério. Se eu deixar uma coisa boa aqui, que os próximos possam dar continuidade, para que as coisas fluem.

O Atlético-ES, fundado em 1965, também debutou na Copa do Brasil. Entretanto, foi eliminado na primeira fase pelo Remo (vitória por 2 x 0). A estreia na Série D está marcada para este domingo, 22, às 16h, contra o Uberlândia, fora de casa, no estádio Parque do Sabiá. Além dois dois, Novorizontino-SP e Americano-RJ completam o grupo A13.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Campeão, Manchester City tem DNA de Guardiola; time ainda pode bater recordes

Em 1 de fevereiro de 2016, o Manchester City confirmou Pep Guardiola como novo técnico, para substituir Manuel Pellegrini. Pep assumiu a equipe em julho, e a expectativa estava alta com relação ao que poderia apresentar o time inglês. O espírito vencedor, a metodologia e o futebol inteligente já fora visto no Barcelona e no Bayern de Munique, equipes por onde o técnico espanhol também fez excelentes trabalhos, implantando um encanto a cada jogada.

A primeira temporada de Guardiola no "primo pobre" de Manchester seria de adaptação. O que era indiscutível é que a maneira de jogar, trocar passes, seria diferente do que estávamos acostumados a assistir. E foi assim. Muita posse de bola, sem chutão, zagueiros atuando como líberos, rotatividade. Mas o título da Premier League não veio. Foi um pouco frustrante. O Manchester City teve alguns tropeços importantes, e terminou a competição em terceiro. Chelsea, treinado por Antonio Conte, faturou o caneco.

Após o término da temporada 2016-2017, Guardiola percebeu que mudanças no elenco seriam necessárias, caso a equipe pudesse sonhar com títulos. Vale lembrar que o atacante Gabriel Jesus já estava no elenco à época. Mais de R$ 2 bilhões foram gastos. Vieram os laterais Mendy, Walker e Danilo, o zagueiro Laporte, o meia Bernardo Silva e o goleiro Ederson, além dos jovens Douglas Luiz, Kayode e Luka Ilic.

Pep Guardiola e Gabriel Jesus: parceria de sucesso (Foto: Reuters)
E o Manchester City começou a dar liga: a consolidação de um estilo de jogo. O DNA de Pep, enfim, apareceu e se consolidou. Transformação tática que causou espanto no campeonato local. A Premier League ganhou muita qualidade.

Se no Barcelona, Guardiola tinha Xavi e Iniesta, e no Bayern de Munique, Thiago Alcântara, quem assumiu a faixa de articular as melhores jogadas e ser um cérebro pensante nos citizens foi De Bruyne, meia belga, que lidera o meio-campo, com assistências e golaços.

De Bruyne: o responsável por comandar o meio-campo do City (Foto: Reuters)
Gabriel Jesus ganhou maturidade. A lesão no ligamento colateral medial do joelho esquerdo, em 31 de dezembro do ano passado, fez com que ele perdesse ritmo, mas, nesse final de semana, o camisa 33 fez o gol que abriu a vitória sobre o Tottenham por 3 x 1. Ederson inspira confiança, Sané é decisivo, David Silva também é genial.

O estigma de "mais um time endinheirado” foi saindo de cena a cada partida. Em uma coletiva de imprensa, Guardiola chegou a dizer que "é impossível jogar o nosso estilo de jogo, sem jogadores de alto nível. É impossível". De fato. Nos grandes campeonatos europeus, não vi um futebol tão empolgante e bem desenvolvido. O Napoli, de Maurício Sarri, é o que chegou mais próximo, mas está patinando no Campeonato Italiano.

Manchester City comemora título da Premier League (Foto: Reprodução/Twitter)

Em 25 de fevereiro de 2018, o primeiro teste de fogo para Guardiola e seus comandados. Decisão da Copa da Inglaterra contra o Arsenal, em Wembley. E o City passou sem dificuldades: 3 x 0 e título incontestável.

Nesta Premier League, o Manchester City só tem duas derrotas: Liverpool (4 x 3) e Manchester United (3 x 2). Aliás, grandes jogos! Talvez os melhores desta edição do campeonato. Além dessas derrotas, outros tropeços dolorosos apareceram nesta temporada: duas derrotas para o Liverpool, dessa vez pela Champions League, sendo uma dessas por impiedoso 3 x 0, em Anfield (na volta, 2 x 1 para os Reds em Manchester) e para o Wigan (1 x 0) na FA Cup.

Nesse final de semana, após vitória sobre o Tottenham aliada ao tropeço do Manchester United para o West Bromwich (1 x 0), o City sagrou-se campeão da Premier League, mesmo restando cinco jogos para cumprir a tabela. Mas a equipe ainda pode quebrar recordes importantes. Veja:

Maior pontuação: 95 (Chelsea 2004-2005) - tem 87
Maior número de vitórias: 30 (Chelsea 2016-2017) - tem 28
Recorde de gols: 103 (Chelsea 2009-2010) - tem 93

Guardiola tem motivos para comemorar a implantação de uma metodologia não muito comum no futebol inglês, que é mais defensivo que propriamente ofensivo. Ele entra para a história a ser o primeiro treinador espanhol a ganhar o título inglês.

O treinador espanhol tem gestão e liderança, um homem que organiza, planeja, controla e domina. E seus comandados obedecem. Os amantes do futebol agradecem.

Títulos de Guardiola:

Barcelona: 14
Bayern de Munique: ​​7
Manchester City: 2

domingo, 15 de abril de 2018

Árbitro de vídeo é emergencial e muito necessário para reduzir os erros da péssima arbitragem brasileira

Para auxiliar na resolução dos problemas e diminuir as dúvidas, as modalidades têm investido no recurso eletrônico. Isso se faz necessário. É importante! O árbitro de vídeo é usado no vôlei, na Fórmula 1, há a possibilidade de aparecer nas próximas temporadas do Novo Basquete Brasil, o Campeonato Brasileiro do basquetebol. Mas por quê o futebol insiste na ideia arcaica?

Recentemente houve uma votação para definir se haveria ou não o árbitro de vídeo no Campeonato Brasileiro deste ano. Doze clubes votaram  contra (América-MG, Atlético-MG, Atlético-PR, Ceará, Corinthians, Cruzeiro, Fluminense, Paraná, Santos, Sport, Vasco e Vitória) e sete a favor (Botafogo, Bahia, Chapecoense, Flamengo, Grêmio, Internacional e Palmeiras). O São Paulo não votou, pois não havia representante no momento da decisão.


Talvez os clubes que renegaram a implementação da tecnologia fossem a favor, desde que não tirasse o dinheiro do bolso para arcar. A CBF queria que os clubes pagassem do próprio bolso pela implantação da tecnologia. O custo seria em torno de R$ 50 mil por partida. Opa! E o lucro que a Confederação recebe? Segundo matéria do jornalista Rodrigo Mattos, do UOL Esporte, datada em 7 de fevereiro deste ano (confira aqui), o relatório da entidade mostrava que em seu caixa havia um total de R$ 245,3 milhões.

A CBF esperava lucrar cerca de R$ 1 bi em 2017. Valor mais que suficiente para arcar por 12 anos o sistema eletrônico. Para efeito de comparação: em Portugal, a implantação do VAR chega a, no máximo, R$ 5 mil. A desculpa para o aumento do valor é a "fibra ótica". Além disso, a CBF queria colocar o recurso apenas no segundo turno, dando a entender que os três pontos da 27ª rodada valem mais que os da 1ª rodada. Absurdo e inaceitável!

A discussão do árbitro de vídeo nesta edição do Brasileirão demorou apenas dois jogos. Na partida entre Vitória x Flamengo, no Barradão, o árbitro Wagner Reway viu mão na bola do jogador Everton Ribeiro, da equipe carioca, após finalização de Rhayner. No primeiro momento, não havia nenhuma dúvida: a bola atingiu o rosto do meio-campista, que chegou a cair no gramado!

Bola bate no rosto de Everton Ribeiro, mas árbitro assinala pênalti (Reprodução/Premiere)

A indignação só aumentou quando Reway expulsou Everton Ribeiro. Mas não foi o único erro da arbitragem. O festival de horrores continuou quando, aos 26 minutos do segundo tempo, Willian Arão, em posição irregular, desviou a bola para Geuvânio, que deu a assistência para Réver, autor do segundo gol do Rubro-Negro. O jogo terminou 2 x 2 - Denilson empatou logo na sequência.

Após a partida, horas depois, em súmula divulgada no portal da CBF, Reway descreve que expulsou o camisa 7 do Flamengo "por impedir uma clara oportunidade de gol com uso intencional da mão". Será que ele não viu pela TV ou redes sociais a imagem?

O Flamengo tem o direito de protestar na CBF e ir ao STJD, para que o supremo retire o cartão vermelho atribuído ao atleta.

A utilização do VAR é mais que obrigatória! É emergencial e muito necessária! Não consigo entender como alguém pode ser contra o uso de um sistema que reduziria os erros da arbitragem brasileira, que é péssima, convenhamos!

O árbitro de vídeo jamais acabará com o futebol, como alguns engomadinhos pensam. Pelo contrário, trará mais justiça para o esporte mais popular! Mais benefício, menos prejuízo!

Dois erros em um jogo! Serão, ao todo, 380 partidas neste Campeonato Brasileiro. Muitos erros surgirão até dezembro. Haverá equipes beneficiadas e prejudicadas, assim como em temporadas passadas.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Roger no Corinthians: solução e aposta

O Corinthians está muito próximo de anunciar Roger, sonho de consumo no ano passado, como novo atleta para a sequência da temporada. Isso porque o atacante, de 33 anos, está insatisfeito no clube gaúcho e a rescisão está encaminhada, conforme as últimas notícias divulgadas.

Roger passou por um momento delicado em 2017. Artilheiro do Botafogo no Campeonato Brasileiro naquela ocasião, com 10 gols, o jogador foi diagnosticado com um tumor no rim direito e teve que se afastar dos gramados. Mas, antes de ter esse diagnóstico, o clube paulista já o havia sondado.

Quando o médico anunciou que o tumor era benigno, Roger gostaria de fazer um jogo de despedida pelo time carioca, mas não se recuperou fisicamente.

Em dezembro, em entrevista ao Bola da Vez, programa da ESPN, o atacante mostrou mágoa e indignação com o Botafogo, pois, segundo ele, o clube não pagou a cirurgia, o que foi negado pelo presidente Carlos Eduardo Pereira.

O atacante optou por deixar o Botafogo e fez as malas com direção à Porto Alegre, onde aceitara a proposta feita pelo Internacional. O contrato firmado era de dois anos, podendo haver a renovação por mais um ano, caso o atleta fizesse um determinado número de jogos.

Roger no Internacional: 13 jogos e dois gols anotados Foto: Ricardo Duarte/SC Internacional)

A expectativa estava em alta. Afinal, era uma temporada de recuperação. Mas a realidade foi bem diferente. Até aqui, Roger só atuou em 13 jogos e fez dois gols, ambos contra o Avenida, pelo Campeonato Gaúcho. O Colorado venceu a partida por 3 a 0.

Caso se confirme a transação para o Corinthians, Roger chega como uma solução e aposta ao mesmo tempo. Solução, pois a busca por um centroavante acontece desde a saída de Jô, artilheiro do clube em 2017, para o Nagoya Grampus, do Japão.

Fábio Carille, técnico do Corinthians, já testou Júnior Dutra e Kazim, porém o rendimento é pífio. Romero, Clayson e Emerson Sheik são jogadores que atuam mais pela beirada do campo, não assumem a função de um camisa 9. Carille joga no esquema 4-2-4, sem referência ofensiva.

Já pelo lado da aposta, Roger precisa repetir os feitos que o consagraram como destaque na Ponte Preta e no Botafogo. Até agora, é uma temporada irregular e de pouca afirmação. A parte técnica também é um obstáculo.

Quem também pode chegar ao Timão é o meia Fessin, do ABC, do Rio Grande do Norte, de onde veio o atacante Matheus Matias, destaque no Campeonato Potiguar. Ele ainda não recebeu oportunidade, mas já tem o título de campeão paulista.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Palmeiras está certo em desconfiar da interferência externa. Mas dá para provar?

A decisão do Campeonato Paulista ainda é assunto após três dias. O Palmeiras, derrotado nos pênaltis para o rival Corinthians, se silenciou, não abriu treinos para a imprensa e, nesta quarta-feira, precisa virar a chave, pois enfrenta o Boca Juniors, da Argentina, pela terceira rodada da Libertadores. O jogo será no Allianz Parque, mesmo palco da finalíssima do último domingo.

A pauta do Paulista não é a excelente partida feita pelo garoto Matheus Vital ou a mobilidade que o alviverde ganhou com a entrada de Keno. E, sim, a possível interferência externa, no lance envolvendo o atacante Dudu e o volante Ralf.

No segundo tempo, quando o placar apontava 1 x 0 para os visitantes, o árbitro Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza marcou pênalti do jogador corintiano sobre o palmeirense. Porém, um grande cerco se fechou e a pressão sobre o dono do apito ficou forte. Muita conversa e muita demora. Passados oito minutos da marcação, Marcelo Aparecido decidiu voltar atrás e anulou a penalidade. A meu ver, decisão acertada. Não foi pênalti.

Entretanto, o mérito da questão é a seguinte: houve interferência externa? Por que Dionísio Roberto Domingos, diretor de arbitragem da Federação Paulista de Futebol, estava no gramado? O Palmeiras divulgou um vídeo no qual aposta em "provas irrefutáveis" de que houve o chamado erro de direito.

Veja abaixo:


Sem áudio, fica difícil (quase impossível) provar o teor da conversa e até mesmo a participação de Dionísio Roberto. Mas uma coisa é certa: ele não deveria estar ali. O lugar dele era o camarote, sentado na confortável cadeira, com ar-condicionado. Qual a intenção em invadir o gramado do Allianz Parque?

Leia mais: Estadual não vale nada?

O árbitro não pode tomar uma decisão baseada em informações de uma pessoa de fora que não seja do quadro de arbitragem. Tanto que na súmula divulgada pela Federação Paulista de Futebol, o nome de Dionísio não está presente. Quem também conversa com o árbitro é Adriano de Assis Miranda, designado como quarto árbitro. Nesse caso, a participação dele é válida, pois faz parte do corpo de arbitragem.

Adriano de Assis está "próximo" da jogada, cerca de 22 metros. Na avaliação dele, o Ralf só toca a bola, mas a convicção passa longe quando ele diz que a decisão tem que "ser sua", apontando para Marcelo Aparecido. São oito minutos!! A demora tira a credibilidade da arbitragem e induz ao uso indevido da interferência externa.

Marcelo Aparecido de Souza apitou a decisão (Foto: Jales Valquer/Fotoarena/Estadão Conteúdo)

O CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva), no artigo 259, diz que a partida, caso tenha sido provada a interferência externa, "poderá ser anulada se ocorrer, comprovadamente, erro de direito relevante o suficiente para alterar seu resultado”.

Isso não deve acontecer. Pois o Corinthians não tem nada a ver com a situação e ganhou o campeonato nos pênaltis. Mas o Palmeiras está certo em lutar pela moralidade do futebol brasileiro e desmascarar o sistema da Federação Paulista de Futebol, comandada por pessoas que não entendem bulhufas do assunto. São políticos, nunca dirigiram um clube.

O Palmeiras tem esse direito e vai lutar até o fim. Há razão para desconfiar da interferência? Sim. Se vão conseguir provar, é a questão. A ver o desdobramento do caso e a solução final.

Agora, caso o árbitro de vídeo fosse utilizado, a demora seria menor e a eficiência, maior. Simples assim. Sou a favor da utilização do recurso eletrônico. No vôlei, na Superliga Feminina e Masculina, a arbitragem está sendo ajudada. A justiça é feita!

Vale lembrar que houve votação para o implemento do recurso no Campeonato Brasileiro, mas 12 clubes votaram contra (América-MG, Atlético-MG, Atlético-PR, Ceará, Corinthians, Cruzeiro, Fluminense, Paraná, Santos, Sport, Vasco e Vitória) e sete a favor (Botafogo, Bahia, Chapecoense, Flamengo, Grêmio, Internacional e Palmeiras). O São Paulo não votou, porque não havia representante.

Uma vez eu entrevistei um ex-árbitro de futebol (terá o nome preservado por ser uma fonte), e ele me disse que era contra o árbitro de vídeo, pois "quem iria controlar a câmera oficial do jogo era o homem, o ser humano".

Ou seja, o problema da arbitragem e até o auxílio é crônico!