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quinta-feira, 6 de março de 2014

Entrevista com Bibiana Bolson

As mulheres estão cada vez mais ganhando espaços no Jornalismo e no meu blog. Tenho a honra de receber uma repórter gaúcha, tchê. O nome dela é Bibiana Bolson. Apresentadora e repórter esportiva da RBSTV Pelotas, afiliada da Rede Globo. Nasceu no dia 06/06/1989. Formou-se em Jornalismo na Puc-RS. Confira mais um pouco da entrevistada.

Gabriel Dantas: Para os futuros leitores, explique quem é Bibiana Bolson?
Bibiana Bolson: Apresentadora e repórter esportiva da RBSTV Pelotas, mas antes disso uma pessoa muito curiosa, apaixonada por histórias e que está sempre procurando pauta em tudo. Vivo o jornalismo 24 horas!

GD: Em que ano ingressou no Jornalismo? Queria ser jornalista desde criança?
BB: Entrei em 2006 na Famecos, PUC-RS, com 16 anos. Foi cedo e, talvez, por isso na época não tinha muita certeza se aquela seria uma escolha definitiva, pensava muito em ser atriz e cheguei a sonhar com Medicina. Aos 18 anos, já cursando Jornalismo, fui morar em Londres durante um ano, foi então que eu tive a certeza da minha vocação, mantive um diária todo esse tempo e constantemente gostava de detalhar meu dia a dia por email para familiares e amigos, o gosto pela escrita, pela comunicação, pelo novo, foi me dando certeza sobre o futuro.

GD: Quem são os jornalistas e/ou profissionais da comunicação que mais admira?
BB: Nós temos muitos grandes profissionais no Brasil, no telejornalismo, na web, na mídia impressa.... Para não ser injusta, vou citar alguns com perfis diferentes, a ordem não significa nada.

1. Eliane Brum para mim tem um dos melhores textos do país, há ALMA nas histórias, característica que jovens jornalistas tem perdido.

2. Meu professor, orientador na faculdade e agora no mestrado, Juremir Machado da Silva. É uma das pessoas mais inteligentes que eu já convivi e toda cultura/bagagem é transmitida para os textos, ele conduz com maestria diferenciada.

No telejornalismo, sou e sempre serei uma admiradora de cinco jornalistas:

1.Tino Marcos: faz reportagens envolventes, criativas e com todo M.E.F.I possível (magia, encantamento, fantasia e informação)
2. Marcelo Canellas: transforma o dia-a-dia em poesia e tem muita sensibilidade.
3. Rosane Marchetti: minha colega de RBS, com uma das melhores narrações do Brasil, voz macia, texto que flui e toca.
4. Pedro Bassan: esse faz tudo, jornalismo esportivo, saúde, polícia, cultura, etc sempre de uma forma surpreendente
5.Alice Bastos Neves: minha colega, AMIGA, madrinha. A editora que mais me ensinou e que está sempre trocando ideias no meu dia a dia, um texto na mão dela sempre fica melhor. Sem falar em todo carisma da nossa apresentadora do Globo Esporte

GD: Como é sua rotina hoje? Que horas você entra? Tem hora pra sair?
BB: Rotina?! Está aí algo que não tenho. Os horários variam conforme o calendário de jogos, mas geralmente terças e sextas-feiras eu tenho o compromisso de apresentar no bloco local o Jornal do Almoço (a parte do esporte em Pelotas).

GD: Como é trabalhar ao lado de grandes jornalistas da RBS TV, como Maurício Saraiva, Carla Fachim, Paulo Brito?
BB: Muito bom! A Carla no meu início de carreira me dava segurança nas entradas ao vivo no Bom Dia Rio Grande, Brito e Maurício são grandes parceiros no Esporte. Todo profissionalismo e competência desses dois profissionais acabam transferindo maior responsabilidade quando a gente está na reportagem no campo, o que é bom. Quem não gosta de estar do lado dos "monstros"?!

GD: Tem alguma história curiosa ou engraçada da profissão?
BB: Bibiana Bolson não começou no esporte, mas sim na lavoura. Minha primeira pauta foi sobre a colheita de trigo em Cruz Alta e foi terrível, não entendi muito o que o produtor falou e ainda não tinha nenhuma prática na passagem (momento em que o repórter aparece, era bem durinha), foi graças a um amigo que acompanhava a pauta pela Zero Hora que consegui construir a matéria. Quem diria, que depois disso, eu faria inúmeras matérias em rede nacional para o Globo Rural? O tempo lapida a gente e as experiências nos obrigam a crescer. Além disso, tenho muitas histórias na apresentação, costumo dizer que meus telespectadores tem muita paciência comigo, porque me viram "crescer" no vídeo. Já gaguejei, já errei, já me perdi, já virei de câmera errado, já falei "empataram em dois a zero", já chamei anúncio de novo jogador sem dizer o nome do jogador, enfim, coisas que só quem está sempre exposto faz. Me orgulho dos meus erros, porque fazem parte da evolução! Muitos outros virão, faz parte do jogo.

GD: Na sua opinião, a cobertura esportiva brasileira é satisfatória? Não faltaria, por exemplo, um pouco mais de jornalismo investigativo?
BB: Falta investigação em várias editorias. Vejo cada vez mais repórteres fazendo o feijão com arroz, como se faltasse aquela vontade de questionar. Nas coletivas, muitas vezes, alguns colegas ficam olhando não entendendo as perguntas, porque claro, eu gosto de perguntas questões que as vezes fogem da temática, geralmente, nessas ocasiões a gente consegue um conteúdo incrível. Não dá para ter medo também. Tem que fazer jornalismo com responsabilidade, mas com muita convicção. Acreditar na pauta e ir até o fim.

GD: Mudando de assunto, o que achou das 32 seleções classificadas para a Copa do Mundo de 2014? Faltou alguma seleção que, particularmente, queria?
BB: Não, acho que é meritocracia, certo? Estão aquelas que conseguiriam suas classificações. Claro que aquelas menos tradicionais despertam muita curiosidade, mas tenho certeza que faremos uma Copa fantástica.

GD: Brasil é favorito ao título?
BB: Quem trabalha com futebol sabe que favoritismo não existe, ao menos, eu não acredito nisso. Temos inúmeros exemplos na história de surpresas e quantas zebras... mas não podemos negar que o fator local coloca o Brasil num degrau a mais. Imagine só, você já conquistou um grande salário, está num clube ótimo, veste aquela camisa amarela tão cobiça e ainda está EM CASA. Cada vez que o hino tocar vai ser uma loucura! Claro que isso dá ao Brasil um incentivo, além disso, Felipão demonstrou na Copa das Confederações que reencontrou uma boa fórmula em campo.

GD: Neymar é a estrela do atual futebol brasileiro. Você acha que ele pode se tornar um dos melhores jogadores do mundo com essa transferência para a Europa?
BB: É repetitivo dizer o quão impressionante é o futebol do Neymar, mas não cansamos de vê-lo e eu, particularmente, fico muito surpresa com a postura dele, é jovem, já conquistou muito, mas tem uma sede por crescimento, ambição de aprender muito grande. Vai sim. Já é um dos melhores....

GD: Qual a sua opinião a respeito dos Estaduais? Devem ser ignorados pelos clubes?
BB: NUNCA. Os estaduais precisam passar por uma reformulação, mas os clubes do interior precisam dos estaduais, é a chance de mostrar suas torcidas, suas histórias, de sonhar um pouquinho mais alto. Temos uma expressão aqui no Rio Grande do Sul, criada pelo Paulo Brito, "charmoso Gauchão", é isso mesmo.. Charmoso. Sou totalmente pró times do interior.

GD: Beira-Rio x Arena do Grêmio, qual estádio a deixou com um brilho mais intenso nos olhos?
BB: Ambos. Orgulho dos gaúchos! Eu já estive em muitos estádios da Europa, quase não acreditei quando entrei nos estádios de Porto Alegre.

GD: Qual foi o melhor e o pior jogo que você cobrira?
BB: Já passei muito frio e muito calor também. Já tomei muitaaaaa chuva, barro no rosto e tudo mais. Mas não tem jogo ruim, não. Eu me sinto quase um jogador, porque em dia de jogo a minha adrenalina vai lá no alto, depois da partida demoro para dormir... é uma loucura! Posso contar sobre momentos especiais?! Minha primeira final: São Luiz, time do interior do RS em Ijuí X Internacional sob o comando do Dunga. Foi na final do primeiro turno do Gauchão no ano passado, o São Luiz perdeu e foi o primeiro título do Dunga como técnico, justamente na cidade em que ele nasceu e é um ídolo. A maior glória esportiva da cidade foi tirada por seu filho mais ilustre, quase irônico. Foi um grande momento, uma oportunidade muito especial e que guardo com carinho. Depois disso, ter vivenciado o maior clássico do interior do estado: BRAPEL(Brasil de Pelotas x Pelotas). Fiquei arrepiada, as torcidas em Pelotas são incríveis! Procurem na internet, é de arrepiar....

GD: Sobre o Futebol Gaúcho, Grêmio e Internacional são as principais equipes. O Grêmio disputa a Libertadores e o Inter disputará a Copa do Brasil. Como você avalia essas duas equipes?
BB: Internacional está muito bem no Gauchão, mas tecnicamente eu vejo muitos problemas no time. O Inter precisa de reforços para temporada, com certeza. Porém Abel Braga é um dos mais gabaritados do Brasil, admiro muito o Abel como pessoa e treinador, tenho certeza que trará muitas alegrias aos colorados. O time do Grêmio parece ter encontrado antes algo que pode trazer frutos, está com um plantel mais fechado, nomes fortes e que já aparentam ter mais harmonia em campo, deve fazer um bom ano. É cedo ainda, muito cedo para avaliar.

GD: Paulo Porto deixou o comando do Pelotas. Houve algum desentendimento ou foi por conta própria? A equipe já sondou/contratou o substituto?
BB: Saiu porque era necessário mudar por várias questões. O Paulo é um técnico que merece um time no mínimo da série B do Campeonato Brasileiro pela qualidade como treinador. Não fez boa campanha nesse Gauchão, mas vem de três anos ótimos e de um semestre em 2013 impressionante: venceu Brapel com o Pelotas depois de 10 anos, venceu a Copa Sul Fronteira, a Supercopa Gaúcha e a Recopa, contra o Internacional comandado pelo Clemer. Assumiu o Luiz Carlos Barbieri, bom treinador e enérgico.

GD: Qual é a sua avaliação sobre o Futebol Gaúcho como um todo? Deve melhorar em algum quesito?
BB: Profissionalismo é o que falta em muitos times no Rio Grande Sul, ver o futebol mais como um negócio, do que de forma passional. Essa coisa de dizer que é normal atrasar salário do interior, viver passando perrengue, sem estrutura, não pode continuar. Os grandes clubes do Brasil já mostraram que quando não há gestão, os resultados não chegam economicamente falando. Gostaria de ver os times do interior disputando campeonatos o ano inteiro, com um quadro de sócios considerável, arquibancada lotada... é um sonho! Mas assim que deveria ser. Pelotas e Caxias ainda tem isso, mas em outros locais é preciso mais visão.

GD: As torcidas organizadas ajudam ou atrapalham o futebol?
BB: É um ponto polêmico. Primeiro, não podemos generalizar. Em todas torcidas organizadas do Brasil temos pessoas que estão ali exatamente com o intuito de TORCIDA, amam o time, contribuem, rodam catraca e são civilizados. Porém, infelizmente, tem acontecido exemplos lamentáveis com as organizadas, maus elementos que se escondem atrás da bandeira do time, da camisa do clube e esses devem ser punidos. O clube não tem que dar regalia para torcedor, a torcida sustenta a instituição, mas o clube não tem que sustentar a torcida. Eu não vejo como 8 ou 80, mas acho que falta respeito nos estádios, civilidade e bom senso. Sou constantemente hostilizada nos estádios em Pelotas, mas é um grupo pequeno. Ali na arquibancada tem tanta gente bacana, com história de amor pelo clube, que está ali para torcer mesmo. É preciso punir quando algo sai errado, exemplificar e afastar sim torcedores que prejudicam o futebol e agem com violência.

GD: Em entrevista ao "Bola da Vez", da ESPN Brasil, o jogador Zé Roberto deixou claro a influência da Nike e da CBF nos bastidores daquele grupo de 2006 e na escalação do time. Por que ele só afirmou isso depois de 8 anos?
BB: Cada um sabe o que fala, quando e como. Isso é muito particular, não posso falar por ele.

GD: Em relação à Copa de 2014, quais são as suas impressões ou constatações? A organização do Brasil, ao final da Copa, poderá ser digna de aplausos?
BB: Vamos fazer uma Copa inesquecível. As obras estão atrasadas, a política está com reviravoltas, o povo está inquieto, as manifestações estão por todos os lados, mas no final faremos um grande espetáculo. Entendemos de futebol e sabemos como receber, isso vai ser fundamental.

GD: Para finalizar, deixe um recado para os nossos leitores que querem seguir a àrea do jornalismo e nos conte como é trabalhar na RBS TV, afiliada da Rede Globo.
BB: É preciso amar muito que a gente faz. Eu acordo todos os dias contente em sair de casa e ir pra redação, mas quando chego lá, quero estar na rua, com as pessoas, nos treinos.... Esse espírito inquieto não deve morrer nunca. Pode parecer óbvio, mas é o que sempre digo para quem me pergunta, quer ser jornalista? Comece olhando as coisas ao seu redor. As pautas estão por todos os lados, o que as pessoas estão falando é pauta, o que a mãe fala no almoço é pauta, a conversa do porteiro é pauta...Depois disso, deixar a pauta falar, ou seja, os depoimentos são muito importantes, colocar o assunto na voz da fonte, como falamos. Boas reportagens dependem muito de boas imagens, nesse processo o bom relacionamento com o cinegrafista é fundamental. Tenho um muito especial, Pierre Schlee, meu príncipe como chamo, ele costuma "escrever" as matérias com as lindas imagens que faz, vale decupar sempre! Quanto a RBS TV, é uma ótima empresa, que oferece muita visibilidade e suporte, mas principalmente que mantém no quadro profissionais referências que sempre acabam tornando teu trabalho ainda melhor, e aí são aqueles que não aparecem: editores de texto e imagem. É preciso amar muito que a gente faz e eu AMO MUIIIITO!

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