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terça-feira, 12 de maio de 2015

Entrevista com Tiago Maranhão

Reprodução Facebook
Formado em Jornalismo pela PUC-SP, em 2001, neto e filho de jornalistas esportivos. Tiago Maranhão teve passagens por grandes veículos de comunicação como a Agência Reuters, o portal IG, ESPN Brasil, TV Bandeirantes, Revista Exame e Rede Globo. Desde 2009 é repórter do SporTV, canal fechado que pertence às Organizações Globo. Em 2013, assumiu o cargo de correspondente do canal no Japão com contrato até o meio de 2015.

Em entrevista ao Blog do Gabriel Dantas, Tiago contou sobre os momentos especiais vividos no Japão, da dificuldade na carreira, como o esporte é retratado nos portais e periódicos do país oriental e muito mais. Confira!

Para os futuros leitores, quem é Tiago Maranhão?
Acho improvável que gerações de futuros leitores se interessem muito pelo meu trabalho. Sou jornalista. Jornalista por vocação. Faço reportagens, quase sempre relacionadas ao esporte, e sobre os lugares que tenho o privilégio de conhecer ao longo do caminho.

Seu avô e seu pai tiveram papéis fundamentais no jornalismo esportivo. Por isso, você escolheu essa área? Ou queria trabalhar em outra especialidade?
Gosto de pensar que eu seria jornalista esportivo mesmo que tivesse nascido numa família de confeiteiros ou alfaiates. Mas se eu disser que não fui movido pela admiração pelo meu avô e meu pai, não seria verdade. Minha mãe e meus tios também sempre atuaram no jornalismo. Cresci respirando letras.

Desde 2013, você está no Japão como correspondente do SporTV. Qual foi o momento mais especial que presenciou no País?
O Japão é uma experiência muito especial, acho difícil escolher um único momento. Participar de uma cerimônia do chá é tão marcante quanto acompanhar um treino de sumô. Observar o comportamento dos cidadãos japoneses no dia a dia é um aprendizado tão enriquecedor quanto seguir os rituais em templos budistas e xintoístas. É um país atento aos detalhes, e eles estão todo o dia por toda a parte.

E o mais difícil?
Eu ainda não estava aqui [no Japão] quando aconteceu o terremoto de março de 2011, seguido por tsunami e acidente nuclear. Mas visitei as áreas mais atingidas algumas vezes e até hoje essa é uma ferida muito aberta, de pessoas que perderam parentes, perderam suas casas e ainda vivem em abrigos improvisados. Recomeçar é difícil.

Até quando ficará no Japão? Já há um substituto prévio para assumir o seu lugar?
Essas mudanças serão anunciadas em breve.

Como os japoneses lidam com o esporte?
O esporte ocupa uma parte muito grande na sociedade japonesa. Os estádios de beisebol, o esporte número 1 na preferência nacional, estão sempre muito cheios, assim como os estádios de futebol. A média de público da J-League é superior à média do Brasileirão. O sumô, terceiro esporte do país, também tem sempre os ingressos esgotados dos seus 6 torneios anuais, que são transmitidos na íntegra, ao vivo, em TV aberta, pela NHK. Cada torneio dura 15 dias, então não é pouca coisa.

As emissoras japonesas transmitem jogos do Campeonato Brasileiro e/ou da Seleção Brasileira? Como faz para ficar atento ao que acontece no outro lado do mundo?
O Campeonato Brasileiro não é transmitido aqui. Daqui é possível acompanhar alguns campeonatos europeus, principalmente o Inglês e o Espanhol, além de highlights do Italiano, Francês e Holandês. Felizmente vivemos numa época em que as comunicações funcionam muito bem, então assisto aos jogos do Campeonato Brasileiro pela internet. O problema é o fuso horário. Quando é jogo importante, acordo de madrugada pra assistir.

Qual a principal diferença entre o futebol praticado no Brasil e no solo japonês? Como é o comportamento do torcedor?
O futebol japonês cresceu muito até meados da década passada, depois estacionou. Por outro lado, nunca houve tantos jogadores japoneses atuando no exterior. Esses jogadores, a maioria deles na Alemanha, um dia voltarão pra cá e vão trazer junto novas técnicas. Acredito que isso vai fazer com que o nível técnico melhore por aqui. Do ponto de vista tático e físico, é um campeonato de alto nível. Aqui, o torcedor não deixa de ser um cidadão quando está na arquibancada. O clima é festivo, com bandas, bandeiras e faixas, mas casos de violência são raríssimos.

Como é a sua rotina? Tem hora para entrar e sair?
Essa é a melhor parte dessa profissão, não existe rotina. Alguns dias eu vou cedo para a redação e passo o dia no estúdio ou ao telefone. Em outros, vou pra rua, envio o meu material de algum café com internet e volto pra casa com a missão cumprida.

Há tempo para lazer, uma vez que jornalistas trabalham 24 horas atrás de informações?
Eu acredito mesmo, sem demagogia, que jornalistas trabalham 24 horas por dia. Mesmo quando estamos dormindo, o telefone pode tocar com alguma informação que nos obrigue a saltar da cama. Mesmo quando estamos de folga, estamos atentos ao entorno, absorvendo informação. Dito isso, há sim momentos para passear e conhecer um pouco desse país incrível.

Você faz reportagens para o SporTV Repórter. Qual foi a mais difícil? Por quê?
Aqui da Ásia tive a oportunidade de fazer algumas reportagens para o Sportv Repórter de que me orgulho. Acho que o programa sobre Sydney ficou muito interessante, assim como o sobre sumô, que foi complicadíssimo de se feito, porque é um meio muito fechado, que quase não oferece acesso a jornalistas. Mas conseguimos acompanhar treinos e lutas e o resultado ficou melhor do que o esperado. Mas, sem dúvida nenhuma, o trabalho mais desafiante que fiz aqui foi mostrar o esporte na Coreia do Norte. Demorei mais de um ano para conseguir autorização para entrar no país como jornalista.

Um sonho que pretende realizar?
Existem algumas coberturas que ainda gostaria de realizar. Mas não sei se chamaria de sonhos, são planos, metas e projetos.

Quais dicas você dá a quem está iniciando na área jornalística?
Acredito que jornalistas não escolhem essa profissão pelo dinheiro. Então, eles devem se fazer a seguinte pergunta: por que eu escolhi o jornalismo? Jornalismo é vocação, não carreira. O jornalista deve ser útil, buscar algum impacto positivo na sociedade, por menor que seja. Fazer jornalismo competente é muito trabalhoso e tentar pegar atalhos é um caminho certo para um trabalho mal feito. O jornalista tem que ter obsessão pela precisão e buscar sempre ser justo. Ser justo é mais importante do que ser objetivo. Não pode haver concessões no rigor da apuração. Mas se eu fosse dar apenas um conselho, seria o conselho que meu pai sempre me deu: leia. Leia muito, leia de tudo.

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