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quinta-feira, 18 de junho de 2020

Torneios de base estão em risco e Campeonato Paulista Feminino vai acontecer

Corinthians foi o campeão do Paulista Feminino (Foto: Bruno Teixeira/Ag Corinthians)
Na tarde desta quinta-feira, 18, o autor deste blog conversou com duas fontes ligadas ao futebol paulista para tentar entender o que se passava nos bastidores. Consegui apurar as seguintes situações:

1) Torneios de base (Sub-11, Sub-13, Sub-15 e Sub-17), organizados pela FPF, não vão acontecer;

2) Prioridade é a Série A1 do Campeonato Paulista. Se der certo, tentarão o encerramento da A2 e A3;

3) Campeonato Paulista Feminino vai acontecer. Em qual formato? Não sabemos, mas, com certeza, com menos datas do que o divulgado inicialmente, em março;

4) Campeonato Paulista Sub-20 (masculino) pode ocorrer, também sem a definição do formato; e

5) Copinha 2021 está em risco.

Em abril, o próprio presidente da Federação, Reinaldo Carneiro Bastos, em entrevista ao canal 'Máquina do Esporte', no YouTube, havia falado sobre a possibilidade de não haver torneios de base devido à pandemia do novo coronavírus.

"Nós já informamos a eles que não vai haver essa obrigação. Acho muito pouco provável que aconteça. Pelo que tenho conversado com os clubes, no sub-11, 13, 15 e 17, tanto masculino como feminino, a chance é remota. Há uma pequena possibilidade do sub-20", disse Bastos.

Os times que disputam a Série A1 do Campeonato Paulista vão voltar a treinar apenas no dia 1 de julho, de acordo com o governador João Doria, que anunciou a novidade nessa quarta-feira, 17. O último jogo do campeonato foi no dia 16 de março - Guarani vencera a Ponte Preta por 3 a 2. Já o Campeonato Paulista Feminino estava programado para se iniciar em 12 de abril.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Entrevista com Fernanda Teixeira: "O esporte me traz esperanças em um mundo tão caótico"

Jornalista Fernanda Teixeira no Maracanã (Foto: Arquivo Pessoal)
"Foi uma reviravolta na minha vida". A frase que abre esta entrevista é da jornalista carioca Fernanda Teixeira, que hoje acompanha os clubes do Rio de Janeiro pelo Diário Lance!. Fernanda decidira pelo Direito, já atuava na área e havia começado um mestrado no Uruguai, a mais de 2.300 quilômetros do Rio. Porém, quando surgiu a oportunidade de trabalhar com a comunicação em uma agência de notícias esportivas, o jornalismo entrou em cena. Sem nenhuma influência familiar, mas com suas premissas de que o esporte tem um poder e é responsável por uma transformação social, a reviravolta que trouxe esperanças para Fernanda estava definida.

Nesta entrevista, a jornalista falou sobre a sua carreira, o espaço que as mulheres vêm conquistando no jornalismo esportivo, a polêmica retomada do Campeonato Carioca e a cobertura esportiva que mais a deixou emocionada:

Me emocionou muito estar na cobertura do primeiro jogo do Botafogo, após a morte do Valdir Espinosa. Foi a primeira vez que vi um minuto de silêncio ser totalmente respeitado em um estádio. 

Confira o bate-papo:

Para os futuros leitores, quem é Fernanda Teixeira?
Jornalista do Diário Lance, hoje na cobertura do Futebol Carioca. Uma pessoa que ama o que faz, que está sempre aprendendo e sem medo de mudar quando é para ser feliz.

Houve alguma influência familiar para que você decidisse pelo jornalismo? Quando iniciou essa paixão pela profissão?
Não. Não tenho ninguém da família que seja jornalista. O jornalismo é a minha segunda graduação, a primeira foi o Direito. Costumo dizer que não escolhi o jornalismo, mas o jornalismo me escolheu. Atuava como advogada e havia iniciado um mestrado fora do país, no Uruguai, na área jurídica. Enquanto estava lá surgiu um teste para um trabalho em uma agência de notícias internacional de esportes. Passei no teste e comecei a trabalhar, sem nunca ter tido a experiência na área e foi uma reviravolta na minha vida. Mudei tudo para iniciar na área de comunicação. Quando voltei ao Brasil, resolvi fazer a faculdade. Foi um encontro com a minha vocação. Desde a infância era leitora assídua de jornais e revistas, me emocionava com cada Olimpíada. O esporte me traz esperanças em um mundo tão caótico, sempre acreditei no poder e transformação social do esporte, também vejo como algo divertido e cativante por lidar com a paixão das pessoas. Trabalhar com isso é muito apaixonante. 

E a escolha pelo jornalismo esportivo?
Como disse, já iniciei na profissão no jornalismo esportivo. É área que mais tenho interesse. Quando iniciei a faculdade também foi pensando em permanecer no jornalismo

No atual jornalismo, são muitos os que exercem a função sem diploma e com falta de credibilidade. Você é a favor do diploma para a atuação? E qual a importância da fonte na hora de divulgar uma notícia?
Vejo pelo meu caso que o diploma não é indispensável para que seja feito um bom trabalho como jornalista, mas, sem dúvidas, a faculdade te dá inúmeras ferramentas para que vocês se desenvolva como profissional e aperfeiçoe a prática. Ela também dá mais credibilidade. Quanto à fonte, acredito ser o grande patrimônio do jornalista, mas é preciso sempre checar, confirmar e ter segurança na hora de divulgar uma notícia. As pessoas confiam na imprensa profissional como esse “filtro” de credibilidade da informação.

Quem são os jornalistas e/ou profissionais da comunicação que mais admira?
Desde o meu primeiro dia tive a sorte de trabalhar com profissionais incríveis e super. competentes. Aprendi um pouco com cada um deles. Gostaria de citar todos mas não há espaço suficiente. Gosto muito dos textos da Dorrit Harazim e do João Máximo. Sou fã do jeito destemido do João Saldanha e das investigações do Chico Otávio. Também gosto muito das pautas originais da Tatiana Furtado, do Jornal O Globo. A Denise Mota da Folha de São Paulo, minha amiga pessoal, é outra inspiração. E um grande guia e mentor na profissão foi o meu professor Alexandre Carauta. 

Atualmente, você está no Lance! Conte-nos a sua trajetória profissional.
Comecei na agência de notícias Perform Group, na sucursal de Montevidéu, Fiquei lá de 2014 a 2016, quando voltei para o Brasil. Fui Gerente de Mídia da Rio 2016, responsável pela Arena da Juventude, em Deodoro. Passei pelo Jornal da Puc, Rádio Tupi e, finalmente, o Lance, desde 2018. 

Nesse período, qual cobertura mais te emociona?
Me emocionou muito estar na cobertura do primeiro jogo do Botafogo, após a morte do Valdir Espinosa. Foi a primeira vez que vi um minuto de silêncio ser totalmente respeitado em um estádio. Achei justas e muito bonitas todas as homenagens feitas a essa grande figura do futebol brasileiro. No pouco de contato que tive com ele deu para ver que era uma pessoa diferenciada, sempre de bom humor, que tratava a todos com muito respeito. Fiquei muito triste com a partida dele. O Botafogo venceu, por 2 a 1, com um gol nos acréscimos. Os comentários no estádio foram de que ele deu uma “ajudinha” ao time do outro plano. 

Fernanda Teixeira elege a matéria mais emocionante (Foto: Arquivo Pessoal)

Com a popularização da internet, muito se discute a respeito do fim do impresso. Mas o veículo ainda é valorizado, principalmente devido às atualizações sempre constantes ao longo do dia. Como é possível um veículo de comunicação sobreviva a décadas de inovações tecnológicas e mantenha a sua posição de destaque como um dos mais importantes na comunicação social?
Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Gostaria de ter a resposta, mas, realmente não sei. Acho que um caminho interessante é cativar o leitor que se mantém fiel ao impresso. 

A cada ano, o número de mulheres na imprensa esportiva só aumenta. Qual a sua análise da participação feminina nos grandes eventos esportivos e o maior obstáculo enfrentado por você para entrar nessa área?
Melhorou, mas ainda acho um número muito abaixo do ideal. A grande dificuldade é ter que provar a nossa competência e conhecimento o tempo todo, algo não exigido dos homens. O machismo e o assédio enraizados na nossa sociedade são também uma luta diária. 

Você tem trabalhado com foco nos clubes do Rio de Janeiro. Temos visto atualmente um “conflito” entre eles com relação à volta do futebol em meio à pandemia. Qual a sua opinião a respeito?
Acho que a volta deve ser feita quando houver a garantia de segurança para todos os envolvidos, sejam atletas funcionários ou imprensa. Considero um pouco precoce a volta enquanto ainda lutamos pela redução do número de contágios e óbitos. 

Como é a relação dos clubes e jogadores com a imprensa como um todo no Rio de Janeiro?
Em geral é uma relação bem profissional e de colaboração. Os jogadores hoje são muito “blindados” pelas assessorias. É difícil ter um contato direto, mas a comunicação dos clubes costuma sempre ajudar. Entre colegas também nos ajudamos bastante.

Qual análise você faz do futebol carioca?
É um pouco maltratado por alguns erros de quem conduz, mas ainda acredito no potencial de voltar a ser o futebol mais charmoso do Brasil, com rentabilidade e mais competitivo. 

Fernanda entrevista o meia Nenê, do Fluminense
(Foto: Arquivo Pessoal)
Qual a rotina de uma setorista?
Ficar ligado em tudo o que acontece no clube o tempo todo. Na redação, pensar em pautas todos os dias, cultivar as fontes e lembrar datas marcantes. Quando há jogos, somos os primeiros a chegar e últimos a sair. É preciso estar atento aos detalhes que só são possíveis de ver pessoalmente para tornar a cobertura interessante porque com o digital todos têm acesso muito rápido às informações. 

Um jogo inesquecível que você trabalhou como repórter
Fui escalada para fazer a visão daquele jogo em que o Fluminense venceu o Grêmio por 5 a 4, no Brasileirão de 2019. Foi uma loucura todas as reviravoltas que me obrigaram a mudar o texto diversas vezes. O fechamento do jornal era logo em seguida e não podia atrasar. 

Uma entrevista que gosta de recordar
Gostei muito do resultado de uma exclusiva que fizemos com o Nenê, no ano passado. Ele é muito bem articulado e o papo rendeu bastante. 

Você é muito jovem e tem uma carreira muito importante dentro do jornalismo esportivo. Quais são seus próximos objetivos?
Acho que essa pandemia nos ensinou que devemos viver um dia de cada vez e dar o nosso melhor. Ainda sonho em participar de grandes coberturas como repórter, como uma Copa do Mundo ou Olimpíada. 

Deixe um recado para os nossos leitores que querem seguir a área do jornalismo 
Não deem ouvidos a quem desestimula seguir na carreira jornalística. Quando fazemos o que amamos, as coisas fluem e se acertam sozinhas. É uma profissão apaixonante. 

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Do factual na rádio à final da Copa do Mundo: a trajetória de Roberta Barroso, que afirma: "Batalhei muito para chegar onde estou hoje"

Roberta Barroso é a entrevistada do blog (Foto: Divulgação/ESPN)
Produtora, apresentadora, repórter. Carismática e responsável por cobrir os times do Rio de Janeiro pelos canais ESPN, desde novembro de 2019, a jornalista conversou com o blog para falar um pouco mais da sua carreira, os momentos marcantes e como tem sido a sua rotina de trabalho em virtude da pandemia do novo coronavírus.

Roberta Barroso Teixeira Millem nasceu em 15 de outubro de 1982. A jornalista formou-se em 2006, mas em 2005 já fizera o seu primeiro estágio, na Rádio Tupi. Em fevereiro daquele ano, ela dava informações do Trânsito e fazia plantão.

Em julho de 2005, foi para a TV Brasil, onde era produtora/repórter do programa EsporTVisão, ficando na emissora até janeiro de 2006. De lá até hoje, não saiu mais do esporte. Com passagens pelo Esporte Interativo, onde foi apresentadora do Caderno de Esportes e Via Esporte (Programa de entrevistas com atletas olímpicos), também ingressou no campo da reportagem.

Roberta Barroso foi contratada pela Rede Record, em 2011. Ficou dois anos na casa, onde fazia reportagens para o Esporte Fantástico, programa exibido aos sábados. Dois anos mais tarde, em 2013, voltou para o rádio, para integrar o time da Rádio Globo, do Rio de Janeiro.

Em janeiro de 2014, Roberta foi contratada pela Band para atuar como repórter e apresentadora do Jogo Aberto. Em novembro de 2019, passou afazer parte dos canais ESPN.

Confira o bate-papo com a jornalista:

Qual foi o teu primeiro passo para ingressar no jornalismo esportivo? Já sonhava em trabalhar na área?
A minha mãe sempre foi apaixonada por esporte. Lá em casa era assim: meu pai não via muito futebol, e minha mãe ficava até tarde, assistindo aos jogos. Cresci com isso. Minha mãe acompanhando, apaixonada pelo time do coração. E ela sempre falava para fazer jornalismo. Mas, no inicio, até pensei em fazer jornalismo factual, não tinha pensado em fazer jornalismo esportivo. Por influência dela, acabei entrando nessa área. Só trabalhei uma vez com factual quando fui estagiária na Rádio Tupi, em 2005. Aí fui para a TV Brasil, onde fui produtora do programa EsporTVisão. De lá pra cá, não saí mais do esporte.

Nesse período, qual cobertura mais te emociona?
Tem muitas coberturas especiais que fiz durante esse período. Posso dizer que uma reportagem muito especial que fiz e ficou guardada até hoje foi na Comunidade Pavão-Pavãozinho, no Rio de Janeiro. Era um projeto que a polícia implantou na comunidade, para aproximar as crianças das policiais por causa da UPP. Lembro que entrevistei um menino chamado Pingo. Foi uma matéria bem emocionante, porque ele disse que já tinha perdido muitos amigos por causa da guerra entre policiais e traficantes. Uma reportagem que me marcou muito.

Um jogo inesquecível que você trabalhou como repórter?
Tem vários, né? (risos). Finais de campeonatos sempre são marcantes, jogos especiais que mudam do nada. Posso destacar a final da Copa do Mundo de 2014. Imagina cobrir uma final da Copa do Mundo, no seu país, no Maracanã? Só faltou o Brasil estar lá, mas a Seleção foi eliminada na semifinal pela Alemanha. Foi muito especial fazer aquela cobertura. E o jogo Brasil x Espanha, na final da Copa das Confederações, que, aí sim, pude ver o Brasil ser campeão no Maracanã. Esses jogos foram bem marcantes. Olimpíadas também são marcantes. É difícil escolher um outro, pois no jornalismo esportivo sempre somos surpreendidos, mas acredito que esses foram os mais especiais.

É mais “fácil” ser apresentadora ou repórter? A preparação é diferente?
Não tem nada fácil (risos). Essa profissão exige muito trabalho, muito estudo, muita dedicação. Você sempre tem que estar atualizado. Se você não sabe o que está acontecendo, tem que ir atrás. E eu acho que para você se tornar uma profissional completa, eu acho que é importante passar pelos dois lados, tanto na apresentação quanto na reportagem.

Você tem uma carreira muito importante dentro do jornalismo esportivo. Quais são seus próximos objetivos?
Tenho algumas metas, né? No começo da carreira, no Esporte Interativo, fui apresentadora – até comecei no caminho inverso. Também quero fazer coberturas internacionais – quem sabe me tornar correspondente. Então, são algumas metas e tenho certeza que vão acontecer. Em algum momento (risos).

Roberta Barroso tem um sonho de ter um programa esportivo próprio (Foto: Arquivo Pessoal/Facebook)

Estamos vivendo um momento diferente no esporte e na sociedade como um todo. A pandemia do coronavírus fez com que modalidades fossem suspensas ou até mesmo canceladas. Qual a sua perspectiva para o futebol brasileiro pós-pandemia?

A gente vai ter um mundo diferente, até encontrarem a vacina. Temos visto todos os protocolos sendo feitos. Tudo vai ser bem diferente. É difícil dizer o que vamos encontrar pela frente. As coletivas são virtuais. Mando as perguntas para os assessores e os entrevistados respondem tudo à distância. E quando a gente voltar vai ser diferente. As famosas zonas mistas não vão ter, não tem como ficarem todos reunidos. Porém, sempre com o pensamento positivo de que as coisas vão melhorar. Temos que ter essa esperança.

Como tem sido a sua rotina de trabalho?
A rotina tem sido bem intensa. Tenho agendado entrevistas e feito pelo Skype. Tenho entrado ao vivo, faço toda apuração, mandando mensagens para as fontes, para que a gente possa passar o melhor conteúdo para o telespectador. É um aprendizado, pois a gente se grava, edita e envia o material. Tem dado certo e está funcionando.

Historicamente, o futebol sempre foi considerado um ambiente hostil e predominado por homens. Mas, a cada ano, o número de mulheres na imprensa esportiva só aumenta. Qual a sua análise da participação feminina nos grandes eventos esportivos e o maior obstáculo enfrentado por você para entrar nessa área?
Eu vejo com muita alegria a participação feminina, mais mulheres estão escolhendo o jornalismo esportivo. Aquela velha história de que "ah, futebol é coisa pra homem", não tem essa. Somos todos iguais. Nós viemos para ficar. Eu quero que mais mulheres entrem no jornalismo esportivo. A luta foi grande para chegarmos até aqui. Tem sempre obstáculos para passar na vida. Todos os espaços podem ser ocupados por nós, mulheres. Que bom que algumas empresas reconhecem isso. Nós vamos passar por todos esses obstáculos. Essa luta é antiga. Que bom que hoje somos mais e sempre seremos mais. Nada e nem ninguém vai me parar. Sigo o meu caminho, com dedicação, e isso é o mais importante.

Em sua opinião, por que há ainda um espanto ao deparar com mulheres no futebol?
É porque é uma coisa enraizada, que vem de muitos e muitos anos. Porque sempre teve aquela de que a mulher tinha que trabalhar  em casa. Mas eu não vejo mais como espanto e acredito que muitas pessoas já não vejam mais como isso também. É claro que alguma pessoa ou outra que vai ter preconceito. Fico muito feliz por ver mais mulheres trabalhando com o futebol e isso é incrível.

No atual jornalismo, são muitos os que exercem a função sem diploma e com falta de credibilidade. Você é a favor do diploma para a atuação? E qual a importância da fonte na hora de divulgar uma notícia?
Sou, sim, a favor do diploma. Muita coisa, quando entrei nesse mundo do jornalismo, aprendi na faculdade. Depois, na prática, você vai aprendendo muito mais. Fazer a faculdade e ter o diploma, você acaba saindo na frente. Sobre a fonte, é fundamental. Você tem que saber preservá-la. Se ela te pede off, você não pode revelar. E é assim que é possível obter novas fontes. Tem que ter uma boa relação. É uma relação de confiança e nós precisamos muito dessas fontes. Nesse período de pandemia, as fontes têm sido fundamentais para que o trabalho aconteça.

Para finalizar, para você, o que é ser repórter e quais dicas poderia dar para os futuros estudantes que querem seguir essa área?
Ser repórter é especial, é não ter rotina, é abrir mão de muita coisa. É muito sacrificante. Muitas vezes você não está no aniversário de quem você ama, nos eventos com seus amigos, mas se você é apaixonado pela profissão, apaixonado por aquilo você gosta, é mais especial ainda. Ser jornalista é ter paixão. E a dica que eu dou para os estudantes: se dediquem muito. Saibam que tem todos esses sacrifícios, não tem final de semana. Você tem uma vida completamente dedicada à profissão. Mas se você escolheu isso, vá em frente. Corram atrás, busquem. É dedicação, amor. Eu batalhei muito para chegar onde estou hoje e continuo aprendendo cada vez mais para crescer mais também. E quando você conquista com o seu trabalho, com a sua dedicação, aí não tem coisa melhor. Então, se você quer trabalhar com televisão, vá atrás. Quer trabalhar com rádio? Vai lá, busque. As coisas acontecem para quem corre atrás. É uma profissão apaixonante.

sábado, 30 de maio de 2020

Pandemia não é a única "culpada" pelo problema estrutural do futebol brasileiro

Foto: Getty Images
Mais de 70 dias se passaram, e o futebol brasileiro não retornou, ao contrário das principais ligas europeias que já estão com a bola rolando - o Campeonato Alemão voltou a ter jogo após 66 dias. Campeonato Português, Italiano e Espanhol também já têm datas definidas para o retorno - apenas o Francês não será concluído, uma medida acertada ou tomada cedo demais pelos órgãos competentes?

Com relação ao futebol tupiniquim, há uma pressa e pressão fortes para que a retomada dos jogos aconteça. Alguns clubes já estão treinando, mesmo não havendo nenhuma data precisa para que os Estaduais sejam concluídos e que o tão aguardado Campeonato Brasileiro seja iniciado.

Mas o que chama a atenção, em meio às reuniões sem fim e posicionamentos diferentes entre os times, é a questão financeira. Tão logo anunciada a paralisação dos torneios, os diretores foram aos microfones dizendo que a situação do time em questão estava difícil e que cortes e redução salarial seriam feitos - um processo de "readequação com base no momento atual".

Oras, não adianta colocar a "culpa" na pandemia do coronavírus. A doença nada tem a ver com as gestões irresponsáveis dos cartolas, que, sufocado pelas contas, querem esse retorno imediato. Vale lembrar que, nesse reinício de competições, não haverá torcida nos estádios - ou seja, uma fonte de renda a menos.

Se o Flamengo, time mais poderoso no Brasil neste momento, pede empréstimo e consegue uma linha de crédito de R$ 50 milhões para ter uma "sobra", mesmo que a situação esteja "equacionada", imagina a situação de outros clubes com menos poder aquisitivo?

Mais uma vez, os dirigentes terão que adotar a cautela, ou pelo menos tentar. Reorganizar a casa será mais do que necessário. Pés no chão na hora de fazer um investimento serão obrigatórios. 

Botafogo e Vasco quiseram trazer o jogador marfinense Yaya Touré. Uma lástima. No fim, o resultado previsível aconteceu: ele não veio nem para um, muito menos para o outro. 

Novamente teremos que ver aquela velha história de clubes pedindo o adiantamento das cotas da televisão, pedindo perdão pelas dívidas, etc.

Os dirigentes tentam pressionar o presidente da República para que ele tome uma decisão. Mas esbarra nos prefeitos e governadores que, com razão, querem evitar a realização das partidas de futebol. 

Vale salientar que o esporte não é uma atividade essencial. Futebol acima de tudo? Mesmo?

Hoje, o Brasil registra, até a publicação desta opinião, mais de 27 mil óbitos por Covid-19, estando na triste quinta colocação de países com mais registros da doença. São mais de 460 mil casos confirmados. 

Governo Federal, pressionado pela cúpula da Bancada da Bola, quer o futebol como lazer, enquanto mais de mil mortes acontecem por dia.

sábado, 23 de maio de 2020

O dia em que entrevistei Emerson Leão

Com a pandemia do coronavírus, e as atividades esportivas suspensas por aqui, tenho aproveitado o tempo para colocar a leitura em ordem e feito uma limpeza nos meus armários. E também quero fazer dessas horas livres para contar algumas histórias.

Hoje, conto de uma entrevista que fiz com o ex-goleiro e ex-técnico de futebol, Emerson Leão.

Em 2017, estava no meu último ano de faculdade. Época do Trabalho de Conclusão de Curso. Muitas horas de sonos foram perdidas (ou ganhas?) com aquele que é o projeto mais importante da vida de um aluno quando estava perto de se formar.

O tema do TCC era sobre o jornalismo esportivo em São José dos Campos, minha cidade-natal. Como a imprensa noticiou os principais fatos ocorridos? O futebol masculino teve seus anos de glórias, a natação sempre foi uma referência, o basquete tem uma tradição incrível, desde os anos 1980...

Não estava fazendo o projeto sozinho. Meu companheiro de barzinhos, conversas sobre esportes e outras resenhas era o Leonardo. Um grande amigo que a Faculdade de Jornalismo me apresentou. Sempre solícito e que me ajudara nas temidas regras da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). 

(Estudantes, se preparem: são muitas regras)

À la Bebeto e Romário, o entrosamento estava excelente. Íamos nos entendendo a cada dia, a cada entrevista. O nosso projeto estava próximo de ser finalizado. Mas senti que poderíamos acrescentar um "tempero a mais".

Nesta época, eu trabalhava em um portal de notícias esportivas de renome e conhecido pela sua qualidade. Eu tinha acesso a uma agenda de contatos e numa pesquisa, encontrei o nome e o telefone do Emerson Leão!!! Sim, o ex-goleiro teve uma passagem marcante no futebol da cidade. Era o "tempero" que eu precisava para dar aquele "tchan" no TCC.

E aqui deixo mais uma dica: salvem todos os contatos possíveis. Pode ser útil lá na frente.

Uma semana antes do feriado de 12 de outubro, liguei para Emerson Leão. Eu sabia da personalidade forte dele, portanto não poderia cometer um deslize sequer. O meu coração batia acelerado, estava tenso. Como seria a reação dele ao telefone?

Tuuuu, Tuuuu, Tuuu... 

"Alô, quem fala?". Era ele no outro lado da linha. "Bom dia, senhor Emerson Leão?", respondi. "Sim, quem gostaria?"

Foi assim o início da conversa. Apresentei-me como estudante de Jornalismo e expliquei o motivo do meu contato. Questionei se ele poderia me conceder uma entrevista para falar sobre a sua experiência em São José dos Campos, que era para o meu último projeto da faculdade. 

Claro que se ele recusasse, eu ficaria frustrado, mas entenderia, afinal, por quê Emerson Leão gastaria o seu precioso tempo para falar com um estudante?

Leão não foi como um leão, agressivo. Muito pelo contrário. Ele pediu para que eu retornasse a ligação na semana seguinte ao do feriado. "Claro, posso sim, sem nenhuma problema", respondi. Ao final, ele agradeceu e mandou um forte abraço.

Minha reação ao colocar o telefone no gancho foi de perplexidade, surpresa e emoção. Eu consegui falar com um atleta de Seleção Brasileira!!

Passada uma semana, liguei para Emerson Leão, como havíamos combinado. Prontamente, atendeu. Parecia estar esperando a minha ligação, penso.

Novamente, expliquei o motivo do contato, falei sobre o meu projeto e ele gostou da abordagem: "Que legal! Bem, minha passagem pelo São José...". Inacreditável.

Emerson contou bastidores, histórias, momentos e fez uma comparação com a atual fase do São José Esporte Clube, principal time da cidade e que hoje disputa a quarta divisão do Campeonato Paulista.

Leão ficara triste com a queda abrupta da equipe. Foram 15 minutos de uma conversa enriquecedora. O ex-jogador e ex-técnico de futebol respondeu a todos os questionamentos. Ao final da entrevista, muito seguro, começou a puxar assunto comigo sobre o meu trabalho, como estava o andamento do projeto e desejou boa sorte na empreitada.

O coração do então estudante de Jornalismo estava mais acelerado ainda! Minhas mãos tremiam! Tinha um belo material a ser decupado. Agradeci de peito aberto pela atenção, principalmente, e pelo respeito com o meu trabalho. Ele também agradeceu pela forma como conduzi a entrevista, e novamente me desejou boa sorte.

Não aguentei. Quando desliguei o telefone, as lágrimas vieram. Arrisquei uma entrevista com uma pessoa midiática, influente e deu muito certo. Digo que foi um golaço marcado.

De todas as entrevistas que fiz, com certeza, esta foi a mais simbólica, porque fez parte de um dos projetos mais importantes da minha vida, até aqui.

Não sei se Leão irá ler este texto um dia. Mas faço questão de agradecê-lo, uma vez mais!

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Dirigentes negacionistas só pensam no futebol: acordem, senhores

Gabriel Barbosa - o Gabigol - realiza exame médico no Ninho do Urubu (Foto: Alexandre Vidall/Flamengo)
Parece piada, mas não é. Infelizmente. No mesmo dia em que o Brasil registrava 1.179 mortes por coronavírus – recorde negativo, desde o anúncio do primeiro óbito pela Covid-19, em 17 de março – presidentes de Flamengo e Vasco, Rodolfo Landim e Alexandre Capello, respectivamente, foram para Brasília (quem pagou?) se reunir com o Presidente da República para discutir – pasmem – o retorno do futebol. Não é possível!

Um adendo que cabe aqui fazer nesta "reunião da vergonha": o médico Márcio Tannure trabalhou todo paramentado, na hora de realizar os exames nos jogadores rubro-negros. Em compensação, em Brasília, não seguiu nenhuma orientação médica. Rasgou o diploma de um dia para o outro, assim como Campello, dirigente vascaíno. Como pode? 

Em um mundo devastado pela doença, dirigentes negacionistas querem a todo custo retomar as atividades. Querem treinar. Querem jogar. Até o momento, não vi a mesma força e vontade desses dirigentes em discutir novos formatos das competições, um novo calendário, medidas para ajudar os clubes de menor estrutura e recurso financeiro.

Melhorem, senhores! Sejam mais humanos!

Enquanto Flamengo e Vasco mancham suas páginas, o membro do Comitê Gestor de Futebol do Botafogo,  Carlos Augusto Montenegro, tem dado uma aula de como se comportar em meio à pandemia. Declarações fortes, porém necessárias. “Pode vir o Papa, presidente, ministros, o Botafogo não vai treinar”, reforçou Montenegro, em entrevista ao Troca de Passes, programa do SporTV.

Vale citar, ainda, que o Flamengo, que não tem aval da Prefeitura do Rio de Janeiro, para realizar suas atividades, segue com a sua rotina de treinos normalmente. Como se nada tivesse acontecendo ao seu redor. Aliás, o clube teve jogadores detectados com a doença. O massagista Jorginho, um dos personagens mais icônicos do clube, faleceu, vítima do coronavírus. E daí? Temos que treinar. Para enfrentar quem?

Fernando Prass, goleiro do Ceará, foi enfático ao dizer que o futebol não é uma atividade essencial. E está mais do que certo. Infelizmente, poucas lideranças têm feito aparições para corroborar com aquilo que foi dito mais de uma vez por pessoas inteligentes, como o Prass.

O Brasil é enorme. Cada Estado tem enfrentado sua dificuldade e visto a sua realidade de perto. Será que ainda teremos que debater sobre a retomada do futebol no país, em meios a tantos óbitos e casos confirmados? Que absurdo! 

Dirigentes que querem a volta da modalidade, alegando crise financeira e momento difícil, usam da pandemia para culpa-la. Mas, na verdade, já sabiam do déficit cabuloso há muito tempo. 

Portanto, parem de fazer política e abaixar a cabeça para tudo o que um irresponsável no poder diz. O futebol é a coisa menos importante, no momento. 

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Campeonato Alemão é a grande atração do final de semana

Sem abraços na comemoração do gol (Foto: EFE)
Depois de 66 dias de paralisação devido à pandemia do coronavírus, o Campeonato Alemão - a Bundesliga - estará de volta. O primeiro jogo será Borussia Dortmund x Schalke 04, às 09h30 deste sábado, 16. Com certeza será a partida mais assistida, por motivos óbvios.

Mas uma série de protocolos precisará ser seguida:

  • Serão permitidos apenas 98 funcionários na área do campo. Logicamente, não haverá torcida;

  • Até mesmo os mascotes das equipes não serão permitidos;

  • Os times estão em isolamento completo, seja em hotéis ou nos centros de treinamentos
E na hora do gol? Nada de abraços. As comemorações precisarão ser bem mais tímidas. Até mesmo a tradicional foto com os jogadores perfilados, o cumprimento entre atletas e arbitragem e a troca de camisas também estão vetadas.

No banco de reservas, todos os jogadores e membros da comissão técnica terão que usar máscara, além de manter um bom distanciamento.

Acabado o jogo, nada de banho nos vestiários. Os jogadores vão embora para suas casas e lavarão seus próprios uniformes.

A ansiedade e a curiosidade aumentam a cada dia para saber se todos essas medidas serão cumpridas. Pensando no comportamento europeu, acredito que não haverá violação por parte dos atletas. O problema é o seguinte: alguém fugirá do isolamento e poderá provocar aglomerações em volta dos estádios?

Enquanto isso, aqui no Brasil, os negacionistas querem a volta do esporte, e o país registra mais de 800 mortes e acumula a marca negativa de sexto com mais número de casos, ultrapassando a própria Alemanha.

Qualquer pessoa com um mínimo de inteligência, consciência e sensibilidade sabe que não há a menor capacidade de retornar o futebol no Brasil. Inclusive, os treinamentos presenciais - o que é um absurdo. Grêmio e Internacional conseguiram manchar suas páginas gloriosas.

Os jogadores precisam entender que eles são vistos como referência para muitas pessoas. Ou seja, se eles saem para jogar uma "peladinha" em Belo Horizonte ou praticar um futevôlei na praia do Rio de Janeiro, eles estão influenciando os demais a tomarem a mesma atitude. Todavia, a recomendação mais dita pelos profissionais da medicina, da ciência é simples: fique em casa.

O negacionismo tem sido o mal do século para os dirigentes que apenas pensam na ganância, no lucro. Enquanto isso, faltam respeito, solidariedade e empatia.

sábado, 2 de maio de 2020

Carta ao Dr Sócrates

Fala, Dr Sócrates, tudo bem?

Infelizmente, não te conheci. Queria ter conversado contigo, ter te entrevistado, mas não deu.

Quando você morreu, em 2011, eu estava me preparando para ver Corinthians x Palmeiras, pelo Campeonato Brasileiro. Jogo que, inclusive, sacramentou o título do Timão.

Aliás, fiquei emocionado em ver os jogadores com o punho cerrado, uma homenagem muito justa, por sinal.

Sabe, Sócrates. Por aqui, tá foda. Tá tudo muito cinza.

Dão palanque pra otário dançar.

Dão palanque pras asneiras.

Não querem que futebol e política se misturem.

Aí comecei a reler novamente o livro escrito por Tom Cardoso, que descreveu brilhantemente sua trajetória. Como atleta e como cidadão.

Porra, Sócrates. Querem que o seu legado seja jogado no lixo.

Desdenharam da Democracia Corinthiana. Assim não se faz.

Seu irmão, Raí, herdou o seu lado politizado, de um cara culto, inteligente e manifestou uma opinião forte e bem importante, fugindo dos padrões daquelas entrevistas monótonas e chatas pra cacete.

Mas alguns, que nem foram craques e só ocupam um lugar na crônica esportiva deus sabe como, achou ruim. Rebateu os comentários.

Diz que futebol e política precisam ser separados. Como faz, doutor??

Não é possível, Sócrates. Está duro de ver.

As coisas estão difíceis por aqui.

Infelizmente, o país ficou mais pobre e menos inteligente com a sua partida, Sócrates. Tá osso.

A balbúrdia, o apoio à tortura e o "e daí" para se referir aos mais de 5 mil mortos pelo coronavírus são tratados como "coisas normais" e tem gente que até dá risada.

É, querido Sócrates, alguns habitantes deste país não quiseram te ouvir. Pena deles.

Sorte dos bons que te acompanharam e democratizaram o Brasil através do Corinthians.

Muito obrigado, Sócrates, pelos ensinamentos diários.

Abraços

terça-feira, 28 de abril de 2020

Não estão pensando em vidas, apenas na "lucratividade"

Inter de Limeira x Palmeiras, antes da paralisação devido à pandemia do COVID-19 (Foto: Cesar Greco)
Enquanto França e Holanda decidiram encerrar seus campeonatos locais, a Alemanha atrasou a retomada da Bundesliga e a Espanha faz um estudo para definir o planejamento para a volta das atividades, o Brasil, conhecido por uma declaração de "gripezinha" por parte do representante maior sobre a crise do coronavírus, quer voltar o futebol, sem nenhuma base científica. Quer voltar para se sentir o poderoso. Mostrar para os demais que tudo pode ocorrer normalmente. Não pode. Nem vai funcionar.

Só em 24 horas, foram confirmadas mais de 470 mortes e outros cinco mil casos de COVID-19. Será mesmo que é hora de pensar no futebol? Que o esporte faz falta nas nossas vidas, isso não há dúvidas, principalmente para aqueles que trabalham direta ou indiretamente, e para aqueles que assistem aos jogos.

A verdade é que o país não está preocupado em salvar vidas. E, sim, no interesse. Na lucratividade. Convenhamos: não haverá lucro também. Afinal, as partidas teriam que ocorrer com portões fechados. Nenhum torcedor poderia marcar presença.

Quem garante que a retomada do futebol no Brasil diminuiria o número de casos? Quem garante que bares e restaurantes, hoje fechados, não seriam abertos para que eles pudessem lucrar, mas, ao mesmo tempo, juntassem diversas pessoas? Causando o quê? Exatamente: aglomerações. Algo que não é recomendável. E quem diz isso é a ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE!!

Reafirmo o que tem escrito tanto aqui quanto nas redes sociais: não se refuta a ciência com achismos ou ideias sem sentido. Não se escuta um técnico de futebol, achando que ele é especialista em medicina. Aliás, esse mesmo treinador furou a quarentena diversas vezes para ir à praia, contrariando as recomendações. Parece-me que não tem muita moral para falar sobre o assunto. Detalhe: foi o porta-voz para que as partidas de futebol fossem canceladas, alegando que atletas, profissionais da imprensa e outros funcionários também poderiam ser contaminados pelo coronavírus.

Vamos respeitar a ordem do tempo. E das autoridades competentes. Não se faz loucura para tentar agradar gregos e troianos, para depois se arrependerem e soltar aquela frase esdrúxula: "pedimos desculpas aos envolvidos".

sábado, 25 de abril de 2020

Treze anos depois, o pagamento de uma dívida. Será?

Seleção feminina conquistou o Ouro no Maracanã (Foto; Flavio Florido/UOL)
Uma das maiores conquistas da Seleção Feminina. Ou a maior. As mulheres brilharam em solo brasileiro, no palco do futebol tupiniquim. O mês de julho do ano 2007 não saíram tão cedo da memória de personagens tão icônicas do futebol feminino.

O que é disputar uma final do Pan-Americano, no Maracanã, com mais de 67 mil pessoas cantando e vibrando? A consagração de uma geração. Detalhe: era quinta-feira, meio-dia.

Um título incontestável. A goleada sobre os Estados Unidos por 5 a 0 foi a cereja do bolo. Afinal, em seis jogos disputados, foram seis vitórias. Trinta e três gols anotados. Rainha Marta foi artilheira, reinou. Nós tivemos que reverenciá-la e aplaudi-la por 12 vezes só no Pan.

O roteiro para a glória contou com goleadas marcantes: 4 a 0 sobre o Uruguai, 5 a 0 contra a Jamaica, um impiedoso 10 a 0 sobre o Equador, um surpreendente 7 a 0 diante das canadenses e 2 a 0 sobre o México - jogo mais difícil daquele torneio.

A final contra os Estados Unidos estava rodeada de expectativa. Quem poderia parar aquela máquina brilhante de assistir? Quem poderia parar a genial Marta? E tinha Cristiane, Daniela Alves, Kátia Cilene. Constelação em pleno sol a pino.

O Rio de Janeiro parou para presenciar e prestigiar as mulheres guerreiras em campo. O Brasil parou em frente à televisão para entender que, sim, existia futebol feminino. Sim, as mulheres sabiam jogar. Sim, além das adversárias dentro das quatro linhas, elas tinham que enfrentar - e ainda enfrentam - o machismo, o preconceito, o olhar torto. "Futebol feminino, o que é isso?"

Há 13 anos, tudo era diferente. O modo de se comunicar e, consequentemente, a divulgação de uma modalidade que já havia sido destaque três anos antes, em 2004, quando conquistou a medalha olímpica, em Atenas. Mas quem se importava?

Na verdade, o que importava era título. Se não ganhasse, as guerreiras eram tratadas com desdém, eram escanteadas, e a palavra fracasso seria utilizada para definir o final. Todavia, o que se passava nos bastidores da modalidade? Como elas treinavam? Existiam competições?

Rainha Marta encantava o mundo com seus golaços, fora eleita a melhor jogadora do Mundo pela FIFA - já são SEIS! A nossa maior representante!

Três meses depois, em setembro, na China, o Brasil ficou com a segunda colocação na Copa do Mundo feminina, perdendo para a Alemanha na decisão. A camisa 10 da Seleção fez aquele gol antológico sobre os Estados Unidos, causando uma emoção na narração do Luciano do Valle e nos telespectadores - inclusive neste que vos escreve.

Voltando ao final do Pan de 2007, Marta ganhou asas cenográficas. Cena de filme. Mas era real. Na hora de receber a medalha de ouro, as jogadoras se emocionaram e no hino, a felicidade estava estampada no rosto delas que batalharam tanto para aquele momento de ápice, e em todos os torcedores. Puderam de ver de perto um jogo de futebol feminino.

Quase 13 anos depois, uma possível transmissão daquele Ouro está em pauta. Considero como um pagamento de uma dívida. Pois, em 2017, quando houve a comemoração dos 10 anos daquele feito tão incrível, poucas ações foram feitas. Que bom que a mudança está acontecendo! 

Qualidade nos jogos, qualidade nas transmissões, profissionais capacitados, mais times em campo, novas jogadoras surgindo. E o futebol feminino vai caminhando para a sua glória e também se tornando uma paixão nacional. O caminho é árduo. Mas, no fim, há sempre um gol de placa para se comemorar.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Título da Copa das Confederações gerou soberba na Seleção Brasileira que fracassou no Mundial

Fracasso da Seleção de 2006 (Foto: Getty Images)
A Seleção Brasileira de 2006 é apontada como uma das mais decepcionantes da história das Copas do Mundo. Como uma esquadrão com Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Ronaldo Fenômeno e Adriano não deu certo? A resposta é muito simples: soberba. 

Um ano antes, na Copa das Confederações, o Brasil não era 100% candidato ao título da competição. A estreia contra a Grécia não foi tão empolgante. Vale lembrar que os gregos haviam conquistado a Eurocopa no ano anterior, em 2004, após vencer Portugal, comandado por Felipão, que conquistara, em 2002, o pentacampeonato.

Depois, uma derrota para o México por 1 a 0. Ou seja, a Seleção Brasileira iria para a última rodada pressionada e com chances de sair do torneio precocemente. Japão, comandado por Zico, dificultou os trabalhos. Empate por 2 a 2 e classificação suada para os comandados por Carlos Alberto Parreira.

Na semifinal, o Brasil encarou os anfitriões, que eram favoritos e passaram por uma reformulação, justamente após a Copa do Mundo. Seria uma revanche? Foi quase. Brasil contou com uma tarde inspirada do atacante Adriano Imperador, marcando dois gols. Seleção na final para encarar a Argentina.

O jogo contra a Argentina foi um ponto fora da curva. Primeiro, pela apresentação de gala da Seleção, que abriu 4 a 0. Dois gols de Adriano, um de Kaká e outro de Ronaldinho Gaúcho - Aimar descontou para os argentinos.

O título da Copa das Confederações gerou uma soberba na Seleção Brasileira que viria a disputar a Copa do Mundo. Nas Eliminatórias, em 18 jogos disputados, foram nove vitórias, sete empates e duas derrotas - para Equador e Argentina. Inclusive, o 3 a 1 para os hermanos foi uma aula tática.

Na Copa do Mundo, atuações mornas, longe de empolgar a torcida brasileira. E a eliminação veio contra a França. Gol de Henry, numa falha absurda do Roberto Carlos, que tem, sim, uma parcela muito grande de culpa.

O "Quadrado Mágico" que tanto encantou o mundo do futebol em 2005 foi um fracasso no ano seguinte. Uma bagunça tática impressionante. Carlos Alberto Parreira e toda sua comissão técnica não conseguiram arrumar o que estava desorganizado.

E aqui é preciso citar a preparação no povoado de Weggis, na Suíça. Uma cidade de 4 mil habitantes, o trabalho tinha tudo para ser pacato. Foi longe disso. Os treinos transformaram-se em uma imensa festa, tanto de torcedores quanto de jogadores. 

Lembra da Copa do Mundo de 2014? Neymar e companhia andando de carrinho pelo jardim da Granja Comary, programas de televisão usando e abusando das entrevistas na concentração. Ali, faltou uma assessoria de imprensa firme e competente que proibisse as farras.

Vale lembrar que, em 2013, a Seleção fez uma das melhores Copas das Confederações. Excelentes jogos, principalmente contra o Uruguai, na semifinal, e a temida Espanha, na grande final. Três a zero no Maracanã - Fred jogando o fino da bola. 

Novamente, um ano depois, numa espécie de síndrome de Copa do Mundo, a Seleção não encantou, apresentou erros toscos e veio a humilhação diante da Alemanha - aquele 7 x 1.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Em tempos de isolamento, futebol é uma terapia

Seleção Brasileira de 1970 que encantou o Mundo (Foto: Divulgação/CBF)
Sabemos que as modalidades esportivas estão suspensas por tempo indeterminado. Não se sabe quando a bola voltará a rolar pelos gramados, ou subir nos ginásios, ou quando os carros ultrapotentes acelerarão nas pistas pelo mundo afora.

Mas o esporte tem sido uma terapia em meio à pandemia do COVID-19. Emissoras esportivas têm apelado aos grandes momentos para que o telespectador não se sinta sozinho.

Tenho visto os jogos históricos das Copas do Mundo. Assisti aos de 1982 e, agora, vejo aos de 70. Que beleza ver o futebol-arte!

Não à toa que essas Seleções (com s maiúsculo mesmo) deixam as pessoas com aquele ar de saudosismo, com os olhos marejados de nostalgia, pela beleza e poesia de um tempo em que o Brasil jogava bonito e eficiente. 

Aquele era o tempo de Pelé, Tostão, Clodoaldo, Rivelino e Leão. Depois, Sócrates, Falcão, Zico. 

É claro que o tempo passou. O mundo se transformou. E o futebol acompanhou essa mudança. Dificilmente, ou melhor, raramente veremos uma Seleção Brasileira jogar da mesma forma como aquela que encantou os meus avós e minha mãe.

O futebol tem sido uma terapia para mim, de verdade. É muito bom ver partidas com alto nível de qualidade. Jogadores determinados, que vestiam a camisa por amor, e não por dinheiro.

Mesmo sabendo de resultados históricos, como a vitória brasileira sobre a Alemanha, na final da Copa do Mundo de 2002, vibrei com a mesma ou talvez até com uma euforia ainda maior.

A gente torce, grita de nervoso, pula de alegria. A única coisa que mudou é o abraço. Por enquanto, abdiquei desse gesto de amor.

O futebol é terapêutico! Aliás, o esporte é assim. Um grande remédio em meio à falta daquilo que nos move como jornalista, como ser humano. E assim iremos.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Possível volta do futebol em maio é insanidade

Foto: Ivan Storti/Santos FC

Após um mês de paralisação do futebol brasileiro, a maior preocupação dos engravatados parece não ser em quais condições físicas ou até mesmo psicológicas se encontram os atletas e suas famílias. Escrevo isso porque se noticiou que a volta dos campeonatos já começa a ser discutido pelas autoridades máximas da modalidade.

Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol, estuda a chance de retomar a disputa do Campeonato Paulista na segunda quinzena de maio. O mandatário não deve ter assistido à entrevista do Ministro da Saúde, Luís Henrique Mandetta, ao programa Fantástico, da TV Globo. Nela, Mandetta foi categórico ao afirmar que os próximos dois meses terão "dias difíceis". Ou seja, mais casos e óbitos do coronavírus, dado à dificuldade do cumprimento das medidas de isolamento social.

Uma possível volta do futebol é insanidade neste momento. Não se refuta ciência com opinião, achismos e, principalmente, com a falta de um planejamento que seja eficiente para todos os envolvidos.

Estuda-se que as partidas do estadual sejam disputadas nas cidades do interior, com portões fechados. Mas e o deslocamento das equipes até os locais dos jogos? E a segurança? E a arbitragem? E a imprensa? Como os jogadores ficariam confinados? São muitas perguntas, e nada de respostas. Mais uma vez.

As autoridades que se dizem competentes precisam tomar uma boa dose de coerência antes de tomar qualquer medida que possa se arrepender depois.

Kleberson não foi coadjuvante no pentacampeonato

Kleberson foi o melhor jogador de Brasil x Alemanha (Foto: Getty Images/FIFA)
Com os campeonatos paralisados devido à pandemia do coronavírus, a solução para as empresas que dedicam suas 24 horas ao esporte tem sido a reprise de jogos memoráveis. E a TV aberta também se jogou nesse saudosismo. O que é muito bom e válido.

Dezoito anos depois, milhões de brasileiros puderam assistir pela primeira vez ou rever pela enésima vez aquela final única entre Brasil e Alemanha, pela Copa do Mundo de 2002. A Seleção Brasileira venceu por 2 a 0 - dois gols de Ronaldo, que ainda não era Fenômeno.

Muito se discute a respeito das premiações e os status que alguns jogadores foram moldados desde então. Revendo o jogo, destaco com tranquilidade as seguintes verdades inconvenientes: Rivaldo foi o melhor jogador da Seleção Brasileira na Copa; Ronaldo é o maior centroavante da história do Brasil; e Kleberson foi o grande destaque daquela decisão.

Explico:

A posição de volante sempre foi pautada na questão de marcador, aquele que chega mais forte nos adversários, que seria responsável por dar o famoso chutão. E Kleberson passou muito longe dessas características.

O camisa 15, homem de confiança do Felipão, pode até ter sido coadjuvante em todo Mundial. Mas naquela decisão, ele estava inspirado. Hoje, na nova formação do futebol, temos o clássico volante box to box. Kleberson já havia sido isso há 18 anos.

Combatendo qualquer avanço pelo meio-campo, foi também o responsável por roubar a bola e iniciar a jogada do primeiro gol marcado por Ronaldo. Visão de jogo. Algo que Fernandinho, Ramires e Paulinho (na Copa de 2018, diga-se) não conseguiram se encaixar no modelo imposto por Tite.

Kleberson iniciou sua carreira no Atlético-PR, em 1999, onde se destacou rapidamente e conquistou o título do Brasileirão de 2001. Foi o melhor jogador daquele time que encantou o país àquela época. Todavia, não tem o reconhecimento devido naquele ano, pelo fato de Alex Mineiro ter feitos gols decisivos que levaram o Furacão à conquista inédita.

É uma injustiça dizer que Kleberson não merece destaque. Afinal, ele é um ídolo indiscutível no Furacão. E fez parte do último elenco que ganhou a Copa do Mundo. E merecia, por tudo o que jogou contra os alemães, fazer, ao menos, dois gols e deixar a sua história ainda mais brilhante.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Camila Lima, analista de desempenho da Seleção Feminina Equatoriana: "Me sinto na obrigação de evoluir constantemente"


Camila Lima é analista de desempenho da Seleção Feminina Equatoriana (Foto: Arquivo Pessoal)

Ainda é difícil encontrar mulheres que trabalham nas comissões técnicas das equipes de futebol. Mas é fato que a participação delas tem aumentado consideravelmente, seja como treinadora, dirigente e na análise de desempenho.

Exemplo disso é Camila Lima. Natural de São Paulo, mas residente em Pernambuco na maior parte de sua vida, ela é formada em Educação Física pela Universidade de Pernambuco, integrante do projeto Footure em Análise Tática, onde escreveu vários artigos sobre a Copa do Mundo Feminina, tendo como tema a Seleção Brasileira, eliminada para a França, e também dissertou sobre a Pia Sundhage, atual técnica do Brasil.

Aspirante a técnica de futebol, Camila trabalha com Emily Lima, ex-Santos e Seleção Brasileira, na Seleção Feminina do Equador. Em entrevista ao blog, revelou os primeiros passos na análise de desempenho, comentou sobre as transformações que passara e também falou sobre o clima no Equador, em meio à pandemia do coronavírus.

Como nasceu essa vontade de ser analista de desempenho?
Minha história começa como quase todas as histórias comuns no futebol: querendo ser jogadora. Eu sou paulista, mas vivi muito tempo em Pernambuco, isso não ajudou muito. Eu tentei, mas não deu. Entre estudar e jogar futebol, escolhi estudar, muito pela pressão da minha avó. Na faculdade de Educação Física, conheci o professor Fabiano Chokito, um dos melhores profissionais do Estado. Passei a tê-lo como referência, pois os conceitos táticos que ele passava eram muito bons. Um dos melhores treinadores de futsal. Com isso, virei treinadora da equipe feminina de futsal na universidade. Foi assim. Trabalhando bastante, aprendendo, errando. Estudei, além da parte tática,  a questão da neurociência, os pormenores do futebol. Quando saí da faculdade, passei a analisar as equipes pela televisão mesmo. Era papel e caneta. Anotava tudo e guardava as análises pra mim, raramente publicava no Twitter algumas coisas. Depois, acompanhei o Sport no Campeonato Brasileiro Feminino da Série A1. E tudo era com material simples: meu celular, papel, caneta. Não que o lado treinadora esteja presente, é algo que ainda mexe comigo, mas a análise de desempenho me encantou de vez. E os meus textos, minhas análises me levaram a pessoas incríveis, como a Emily Lima, a Rosana, e foi assim que eu cheguei ao Equador.

Quem são suas maiores referências nessa área de atuação?

Tenho muitas referencias que se misturam com analistas e treinadores: para citar dois analistas, cito Breno Lucena, que trabalha no time masculino do Náutico, e o Otávio Augusto, que trabalhou no Santa Cruz, e hoje é técnico do Sub-15 do Náutico. São profissionais capacitados, inteligentes. Para mim, o Eduardo Cecconi é um dos melhores do Brasil, tem uma visão muito diferenciada. Também gosto de trocar ideia com o Gabriel Eloi, do Vitória. A gente tem um grupo no WhatsApp, onde a gente conversa, troca ideias, ver o que eles discutem. A própria Michele Kanitz, que foi treinadora da Ferroviária, depois assumiu o cargo de analista de desempenho e trabalhou na equipe masculina do Corinthians, com o Osmar Loss. São muitas pessoas em quem me inspiro e, provavelmente, deixei de citar alguns nomes (risos).

Camila Lima ao lado da técnica Emily Lima, em um treino da Seleção Equatoriana (Foto: Arquivo Pessoal)
Qual o papel que o analista de desempenho exerce e qual a importância dos dados para os demais membros da comissão técnica?

O papel do analista de desempenho é auxiliar com análises, parâmetros dos treinos, o modelo de jogo, analisar as adversárias, para poder entregar o máximo de dados para a comissão técnica. Aqui falo como é o trabalho com a Emily Lima. Eu auxilio a treinadora a ter cada vez mais dados, sejam eles quantitativos, sejam qualitativos, tanto dos treinos quanto dos jogos. A gente analisa os scouts de cada atleta e contamos com a ajuda dos clubes onde elas jogam. Então, assistimos aos jogos e vamos analisando aquelas que possivelmente podem ser convocadas e que se adequem ao nosso estilo de jogo. Parte muita dessa coisa. Dentro da minha função, como a gente pegou uma seleção que vem se estruturando, partimos da premissa de montarmos um banco de dados para facilitar o nosso trabalho. Então, temos quantas atletas foram chamadas, avaliadas, em quais clubes elas jogam. O analista não é treinador. Sigo na premissa até onde posso ir. Se não for relevante pra ela (Emily), não é relevante pra mim. Coleto todos os dados possíveis e ajudo a diminuir a imprevisibilidade do jogo. Sabemos que o futebol é imprevisível, mas se consigo passar aquilo que enxergo, podemos ter uma pequena noção do que pode ocorrer.

Como é a relação entre você e as atletas?

Minha relação é extremamente profissional. A gente teve uma convocação atrás da outra nos últimos meses. Então, o que temos passado são os vídeos, alguns dados que sejam interessantes para as atletas. Tem sido boa esta troca de ideias. É tudo muito novo para elas. Sou a primeira analista de desempenho da Seleção Feminina. Logo, a gente tenta adequar as maneiras de trabalho. Notamos uma mudança de comportamento, porque elas começam a nos buscar para assistir aos vídeos, ver um lance de gol, os scouts das partidas. É uma cultura nova, tenho feito minhas avaliações para otimizar o meu método de passar as informações. Às vezes, as meninas podem não entender as palavras, mas sim as imagens. Vamos adaptando às culturas e vejo que elas estão se acostumando com as nomenclaturas. Por enquanto, tem dado certo.


Trabalho da analista de desempenho (Foto: Arquivo Pessoal)
Em sua opinião, por que há ainda um espanto ao deparar com mulheres no futebol?

Minha opinião passa pela estrutura social. A gente vive numa sociedade bem machista, sexista, que tem a mulher como objeto. Então, a gente vem de uma cultura que coloca a mulher numa posição de "fragilidade". O futebol reflete na sociedade. As mulheres foram proibidas de jogar futebol por muitos anos. Mulher de cabelo curto não jogava. Vejo com espanto. Passo por isso ainda. De vez em quando expresso minhas opiniões no Twitter e vejo as reações. Porém, tive ajuda de muitos caras que começaram a desconstruir esse processo e abriram a cabeça de outros homens. As coisas têm mudado aos poucos. a partir de uma desconstrução social. Um levantamento do GloboEsporte.com mostrava como eram as comissões técnicas das equipes femininas no Brasil, e o número mostrava que 30% dos integrantes das comissões são do sexo feminino (leia a matéria). Ou seja, a modalidade feminina que deveria ser dominada por mulheres, é dominada por homens. Mas acredito que estamos mudando essa imagem. As mulheres têm participado mais.

Como você recebeu o convite para fazer parte da comissão técnica da Seleção Feminina do Equador?
É uma história inusitada. O convite fez parte da construção desde 2019. A Rosana Augusto, que hoje é jogadora do Palmeiras, estava no Santos à época, e conhecia o meu trabalho pela internet. Com isso, a gente começou a trocar ideias e perguntei se seria possível uma troca de ideias com a Emily Lima, um estágio, qualquer coisa. Ela fez essa ponte. Fui para Santos, saí de Recife, e fui estagiária da Emily por 15 dias. Participei de todo o processo. Ela me deu muita abertura para entender o objetivo dos treinos, a questão dos jogos. O meu Dossie Vadão, que escrevi para o Footure, teve uma participação fundamental da Emily, porque analisei a parte tática da Andressa Alves, que estava no Barcelona, e fui conversando com a treinadora para entender a sua participação no esquema e modelo de jogo. Escrevemos juntos um capítulo no E-book sobre os números dela no Santos. Falei sobre a parte tática da Emily para ela mesma (risos). Acredito que isso foi fundamental para que Emily me escolhesse para estar ao lado dela.


E quando fui demitida do banco, em Recife, mandei mensagem para ela, dizendo que havia sido demitida e que estava à disposição para ajudá-la em qualquer coisa. Dias depois, me ligou, fazendo esta proposta de estar como analista de desempenho no Equador. É um desafio a cada dia. Todo dia eu sou grato a ela. Me sinto na obrigação de evoluir constantemente.

Qual foi a maior dificuldade nessa transferência de um país para outro?
A maior dificuldade, com certeza, foi a língua. Porque sempre estudei muito inglês, e tenho dificuldade com o espanhol, desde a escola. Vim para cá em novembro, então não tive muito tempo para assimilar as diferenças. Nunca tinha feito uma viagem para fora do Brasil. Mas fui começar a aprender o espanhol, os equatorianos da comissão me ajudam muito, aprendemos a conjugar os verbos. Quando não dava certo, partíamos para a mímica mesmo. E a outra dificuldade é a questão de estar longe dos meus familiares. Nunca tinha saído de casa, sempre fui muito apegada à minha família. Fiz parte de toda recuperação da minha avó, que tinha quebrado o fêmur. Isso aumentou ainda mais a nossa relação, porque eu ajudava na fisioterapia, ela havia perdido a confiança de andar em casa, de andar na rua. Estar longe deles é complicado. 

Estamos passando por uma crise sanitária e social muito forte, que é a pandemia do COVID-19. Como está a situação no Equador? Quais medidas foram adotadas pela Federação Equatoriana?
Equador é um país menor que o Brasil, em termos de território e população. Mas tem tido muitos casos de coronavírus. É um país que sofre com a desigualdade social, assim como o Brasil. É muito calor, a população não tem ficado isolada, e os casos aumentam drasticamente, a ponto de terem os corpos espalhados nas ruas, nos hospitais, de terem urubus em cima dos hospitais, por causa do mau-cheiro. O foco do coronavírus é Guayaquil. Estou em Quito e aqui tem toque de recolher a partir das 14h até às 5h do dia seguinte. Não vejo ninguém na rua. Tem multa em dinheiro para quem descumpre a regra, o governo tem tomado as medidas. A Federação tomou 20 medidas, e as principais são de não ter convocação agora, diminuir os custos da viagem, montar um plano para o calendário das competições. A casa da Seleção, onde eu moro, tem servido como leito do hospital. Vou completar um mês que estou aqui, desde o retorno da Argentina, onde disputamos o Sul-Americano Sub-20. Então, a Federação tem sido bem flexível nas decisões para arrumar as coisas pouco a pouco.

Em meio à pandemia, queria que você falasse, se possível, a respeito da transformação do seu trabalho e da sua rotina.

Meu trabalho é muito dependente dos clubes, então tem clubes, como o Independiente Del Valle, que tem postado vídeos das meninas treinando em suas casas. A LDU também tem feito isso. Assim, eu faço esse monitoramento pelas redes sociais. Toda sexta-feira a gente faz uma reunião com membros da comissão técnica para discutirmos sobre a preparação física, estratégias, processo de avaliação do Sub-20. Converso com as atletas para saber se elas estão mantendo a rotina, se estão em treinando. Porque se elas estiverem destreinadas quando voltarmos às atividades, o método de trabalho terá que ser diferente. Confesso que é difícil manter a minha cabeça focada. Não tenho visto TV, porque o excesso de notícias ruins pode me atrapalhar. Só saio para fazer as refeições. Então, a rotina passa por fazer essas coisas, seja monitorando, estudando, assistindo aos jogos que realizamos. Eu ainda faço um curso pela Internet, mas o serviço está carregado, aí enfrentamos dificuldades para acessá-la. Provavelmente, devemos ter novas medidas na próxima semana, por parte do Governo e da Federação, e isso resultará numa nova reunião para que possamos alinhar outros detalhes.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

O futebol será diferente pós-quarentena

Futebol será diferente após a quarentena (Foto: Divulgação)
Estamos próximos de completar 30 dias sem uma partida de futebol sequer no Brasil. A abstinência está dolorida. Mas temos que entender que o atual momento é delicado. E que o principal adversário em campo é o coronavírus.

Mas como será o futebol após a quarentena que não tem prazo pra acabar?

Além da questão do calendário, já debatido aqui no blog, acredito que o ambiente será outro. Torço por isso, afinal.

A última partida da Copa Libertadores terminou em pancadaria envolvendo jogadores de Grêmio e Internacional, na Arena do Grêmio. O jogo terminou 0 a 0.

Aquelas imagens horríveis precisam ser apagadas da memória daquele torcedor(a) que esteve presente na partida. Ou daqueles que acompanharam no conforto de suas casas.

Existirá um mundo antes e depois do coronavírus. E isso é um fato.

Nossos hábitos hão de mudar, nossas relações, idem. E o modo de torcer? Os abraços serão mais demorados após sair um gol do seu time?

Como serão os jogos entre rivais? Será que "torcedores" ainda vão querer arrumar confusão nas proximidades dos estádios? Vale a pena perder amizades e partir para as barbáries por causa do futebol?

Estamos com saudades da bola rolando, do juiz apitando uma falta que claramente não foi, do VAR entrando em ação para confirmar ou invalidar o gol, das reportagens à beira do gramado, das entrevistas coletivas, nem sempre boas, dos jogadores e técnicos. Dos programas de debates. Da festa da torcida.

Chegará o momento em que olharemos o futebol com outros olhos.

domingo, 29 de março de 2020

Fim dos estaduais e calendário europeu: o que penso sobre o futebol brasileiro em meio à pandemia do coronavírus

Foto: Lucas Uebel | Grêmio FBPA
Estamos há duas semanas sem o futebol brasileiro. Por uma razão óbvia e por uma decisão que demorou muito a ser tomada. 

Em meio à pandemia do COVID-19, o novo coronavírus, não só o futebol, mas também as outras modalidades foram suspensas ou até mesmo canceladas.

Embora não tenha jogadores e árbitros em campo, narradores, comentaristas e repórteres, e o principal, o torcedor, nos estádios, o debate acerca do futebol ainda acontece.

Afinal, como fica o calendário?

Os clubes deram férias aos seus atletas e funcionários de 20 dias, a começar no dia 1º de abril e se encerra no dia 20. Não sabemos como estará o surto do coronavírus até lá.

Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirma que o pico da doença será em junho ou julho. Ou seja, mais três meses ao menos.

Vale lembrar que os jogadores terão que passar por uma série de avaliações físicas, médicas, ter, ao menos, 20 dias de intertemporada, para que possam recuperar a forma e ter o contato com a bola, recuperar a noção tática e técnica. Esse período pode causar um destreino.

A Confederação Brasileira de Futebol acredita que, se o Campeonato Brasileiro, começar no dia 1º de julho é possível a realização das 38 rodadas, sem a mudança no regulamento e no formato. Como?

Tem a Libertadores, Copa do Brasil e Sul-Americana. E se um time brasileiro for campeão da Libertadores, disputará o Mundial de Clubes, no final do ano.

E temos um agravante: como ficam os Estaduais? Nenhum dos 27 chegaram ao seu fim, restando rodadas na primeira fase e mais o mata-mata.

Não podemos nos esquecer das equipes de menor estrutura e aquelas que não têm um calendário completo. Como é o caso do Água Santa, de Diadema, que já perdeu o técnico Pintado, que assumiu o Juventude. O Santo André já afirma que perderá jogadores que têm contrato até abril, ficando difícil ou impossível um prolongamento.

Sabendo que o futebol não voltará em abril e dificilmente em maio, a opção mais viável é decretar o fim dos estaduais, concedendo os títulos para aqueles clubes que possuem melhores campanhas.

Já o Campeonato Brasileiro, acredito que a melhor solução seria implementar o calendário europeu: começar em 2020, terminar em 2021. Sempre defendi essa tese de que o calendário brasileiro deveria se espelhar do Velho Continente.

Qualquer previsão sobre a retomada do futebol brasileiro é mero chute. Mas clubes, federações e a entidade que controla a modalidade precisam se reunir e tomar as medidas certas.

Veja como está a situação de cada torneio:

Copa do Brasil
Paralisada — 10 rodadas restantes

Libertadores
Paralisada — 11 rodadas restantes

Sul-Americana
Paralisada — 9 rodadas restantes

Brasileirão
Previsto para iniciar em maio — 38 rodadas