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sábado, 23 de maio de 2020

O dia em que entrevistei Emerson Leão

Com a pandemia do coronavírus, e as atividades esportivas suspensas por aqui, tenho aproveitado o tempo para colocar a leitura em ordem e feito uma limpeza nos meus armários. E também quero fazer dessas horas livres para contar algumas histórias.

Hoje, conto de uma entrevista que fiz com o ex-goleiro e ex-técnico de futebol, Emerson Leão.

Em 2017, estava no meu último ano de faculdade. Época do Trabalho de Conclusão de Curso. Muitas horas de sonos foram perdidas (ou ganhas?) com aquele que é o projeto mais importante da vida de um aluno quando estava perto de se formar.

O tema do TCC era sobre o jornalismo esportivo em São José dos Campos, minha cidade-natal. Como a imprensa noticiou os principais fatos ocorridos? O futebol masculino teve seus anos de glórias, a natação sempre foi uma referência, o basquete tem uma tradição incrível, desde os anos 1980...

Não estava fazendo o projeto sozinho. Meu companheiro de barzinhos, conversas sobre esportes e outras resenhas era o Leonardo. Um grande amigo que a Faculdade de Jornalismo me apresentou. Sempre solícito e que me ajudara nas temidas regras da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). 

(Estudantes, se preparem: são muitas regras)

À la Bebeto e Romário, o entrosamento estava excelente. Íamos nos entendendo a cada dia, a cada entrevista. O nosso projeto estava próximo de ser finalizado. Mas senti que poderíamos acrescentar um "tempero a mais".

Nesta época, eu trabalhava em um portal de notícias esportivas de renome e conhecido pela sua qualidade. Eu tinha acesso a uma agenda de contatos e numa pesquisa, encontrei o nome e o telefone do Emerson Leão!!! Sim, o ex-goleiro teve uma passagem marcante no futebol da cidade. Era o "tempero" que eu precisava para dar aquele "tchan" no TCC.

E aqui deixo mais uma dica: salvem todos os contatos possíveis. Pode ser útil lá na frente.

Uma semana antes do feriado de 12 de outubro, liguei para Emerson Leão. Eu sabia da personalidade forte dele, portanto não poderia cometer um deslize sequer. O meu coração batia acelerado, estava tenso. Como seria a reação dele ao telefone?

Tuuuu, Tuuuu, Tuuu... 

"Alô, quem fala?". Era ele no outro lado da linha. "Bom dia, senhor Emerson Leão?", respondi. "Sim, quem gostaria?"

Foi assim o início da conversa. Apresentei-me como estudante de Jornalismo e expliquei o motivo do meu contato. Questionei se ele poderia me conceder uma entrevista para falar sobre a sua experiência em São José dos Campos, que era para o meu último projeto da faculdade. 

Claro que se ele recusasse, eu ficaria frustrado, mas entenderia, afinal, por quê Emerson Leão gastaria o seu precioso tempo para falar com um estudante?

Leão não foi como um leão, agressivo. Muito pelo contrário. Ele pediu para que eu retornasse a ligação na semana seguinte ao do feriado. "Claro, posso sim, sem nenhuma problema", respondi. Ao final, ele agradeceu e mandou um forte abraço.

Minha reação ao colocar o telefone no gancho foi de perplexidade, surpresa e emoção. Eu consegui falar com um atleta de Seleção Brasileira!!

Passada uma semana, liguei para Emerson Leão, como havíamos combinado. Prontamente, atendeu. Parecia estar esperando a minha ligação, penso.

Novamente, expliquei o motivo do contato, falei sobre o meu projeto e ele gostou da abordagem: "Que legal! Bem, minha passagem pelo São José...". Inacreditável.

Emerson contou bastidores, histórias, momentos e fez uma comparação com a atual fase do São José Esporte Clube, principal time da cidade e que hoje disputa a quarta divisão do Campeonato Paulista.

Leão ficara triste com a queda abrupta da equipe. Foram 15 minutos de uma conversa enriquecedora. O ex-jogador e ex-técnico de futebol respondeu a todos os questionamentos. Ao final da entrevista, muito seguro, começou a puxar assunto comigo sobre o meu trabalho, como estava o andamento do projeto e desejou boa sorte na empreitada.

O coração do então estudante de Jornalismo estava mais acelerado ainda! Minhas mãos tremiam! Tinha um belo material a ser decupado. Agradeci de peito aberto pela atenção, principalmente, e pelo respeito com o meu trabalho. Ele também agradeceu pela forma como conduzi a entrevista, e novamente me desejou boa sorte.

Não aguentei. Quando desliguei o telefone, as lágrimas vieram. Arrisquei uma entrevista com uma pessoa midiática, influente e deu muito certo. Digo que foi um golaço marcado.

De todas as entrevistas que fiz, com certeza, esta foi a mais simbólica, porque fez parte de um dos projetos mais importantes da minha vida, até aqui.

Não sei se Leão irá ler este texto um dia. Mas faço questão de agradecê-lo, uma vez mais!

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