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Jornalista Fernanda Teixeira no Maracanã (Foto: Arquivo Pessoal) |
"Foi uma reviravolta na minha vida". A frase que abre esta entrevista é da jornalista carioca Fernanda Teixeira, que hoje acompanha os clubes do Rio de Janeiro pelo Diário Lance!. Fernanda decidira pelo Direito, já atuava na área e havia começado um mestrado no Uruguai, a mais de 2.300 quilômetros do Rio. Porém, quando surgiu a oportunidade de trabalhar com a comunicação em uma agência de notícias esportivas, o jornalismo entrou em cena. Sem nenhuma influência familiar, mas com suas premissas de que o esporte tem um poder e é responsável por uma transformação social, a reviravolta que trouxe esperanças para Fernanda estava definida.
Nesta entrevista, a jornalista falou sobre a sua carreira, o espaço que as mulheres vêm conquistando no jornalismo esportivo, a polêmica retomada do Campeonato Carioca e a cobertura esportiva que mais a deixou emocionada:
Me emocionou muito estar na cobertura do primeiro jogo do Botafogo, após a morte do Valdir Espinosa. Foi a primeira vez que vi um minuto de silêncio ser totalmente respeitado em um estádio.
Confira o bate-papo:
Para os futuros leitores, quem é Fernanda Teixeira?
Jornalista do Diário Lance, hoje na cobertura do Futebol Carioca. Uma pessoa que ama o que faz, que está sempre aprendendo e sem medo de mudar quando é para ser feliz.
Houve alguma influência familiar para que você decidisse pelo jornalismo? Quando iniciou essa paixão pela profissão?
Não. Não tenho ninguém da família que seja jornalista. O jornalismo é a minha segunda graduação, a primeira foi o Direito. Costumo dizer que não escolhi o jornalismo, mas o jornalismo me escolheu. Atuava como advogada e havia iniciado um mestrado fora do país, no Uruguai, na área jurídica. Enquanto estava lá surgiu um teste para um trabalho em uma agência de notícias internacional de esportes. Passei no teste e comecei a trabalhar, sem nunca ter tido a experiência na área e foi uma reviravolta na minha vida. Mudei tudo para iniciar na área de comunicação. Quando voltei ao Brasil, resolvi fazer a faculdade. Foi um encontro com a minha vocação. Desde a infância era leitora assídua de jornais e revistas, me emocionava com cada Olimpíada. O esporte me traz esperanças em um mundo tão caótico, sempre acreditei no poder e transformação social do esporte, também vejo como algo divertido e cativante por lidar com a paixão das pessoas. Trabalhar com isso é muito apaixonante.
E a escolha pelo jornalismo esportivo?
Como disse, já iniciei na profissão no jornalismo esportivo. É área que mais tenho interesse. Quando iniciei a faculdade também foi pensando em permanecer no jornalismo
No atual jornalismo, são muitos os que exercem a função sem diploma e com falta de credibilidade. Você é a favor do diploma para a atuação? E qual a importância da fonte na hora de divulgar uma notícia?
Vejo pelo meu caso que o diploma não é indispensável para que seja feito um bom trabalho como jornalista, mas, sem dúvidas, a faculdade te dá inúmeras ferramentas para que vocês se desenvolva como profissional e aperfeiçoe a prática. Ela também dá mais credibilidade. Quanto à fonte, acredito ser o grande patrimônio do jornalista, mas é preciso sempre checar, confirmar e ter segurança na hora de divulgar uma notícia. As pessoas confiam na imprensa profissional como esse “filtro” de credibilidade da informação.
Quem são os jornalistas e/ou profissionais da comunicação que mais admira?
Desde o meu primeiro dia tive a sorte de trabalhar com profissionais incríveis e super. competentes. Aprendi um pouco com cada um deles. Gostaria de citar todos mas não há espaço suficiente. Gosto muito dos textos da Dorrit Harazim e do João Máximo. Sou fã do jeito destemido do João Saldanha e das investigações do Chico Otávio. Também gosto muito das pautas originais da Tatiana Furtado, do Jornal O Globo. A Denise Mota da Folha de São Paulo, minha amiga pessoal, é outra inspiração. E um grande guia e mentor na profissão foi o meu professor Alexandre Carauta.
Atualmente, você está no Lance! Conte-nos a sua trajetória profissional.
Comecei na agência de notícias Perform Group, na sucursal de Montevidéu, Fiquei lá de 2014 a 2016, quando voltei para o Brasil. Fui Gerente de Mídia da Rio 2016, responsável pela Arena da Juventude, em Deodoro. Passei pelo Jornal da Puc, Rádio Tupi e, finalmente, o Lance, desde 2018.
Nesse período, qual cobertura mais te emociona?
Me emocionou muito estar na cobertura do primeiro jogo do Botafogo, após a morte do Valdir Espinosa. Foi a primeira vez que vi um minuto de silêncio ser totalmente respeitado em um estádio. Achei justas e muito bonitas todas as homenagens feitas a essa grande figura do futebol brasileiro. No pouco de contato que tive com ele deu para ver que era uma pessoa diferenciada, sempre de bom humor, que tratava a todos com muito respeito. Fiquei muito triste com a partida dele. O Botafogo venceu, por 2 a 1, com um gol nos acréscimos. Os comentários no estádio foram de que ele deu uma “ajudinha” ao time do outro plano.
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Fernanda Teixeira elege a matéria mais emocionante (Foto: Arquivo Pessoal) |
Com a popularização da internet, muito se discute a respeito do fim do impresso. Mas o veículo ainda é valorizado, principalmente devido às atualizações sempre constantes ao longo do dia. Como é possível um veículo de comunicação sobreviva a décadas de inovações tecnológicas e mantenha a sua posição de destaque como um dos mais importantes na comunicação social?
Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Gostaria de ter a resposta, mas, realmente não sei. Acho que um caminho interessante é cativar o leitor que se mantém fiel ao impresso.
A cada ano, o número de mulheres na imprensa esportiva só aumenta. Qual a sua análise da participação feminina nos grandes eventos esportivos e o maior obstáculo enfrentado por você para entrar nessa área?
Melhorou, mas ainda acho um número muito abaixo do ideal. A grande dificuldade é ter que provar a nossa competência e conhecimento o tempo todo, algo não exigido dos homens. O machismo e o assédio enraizados na nossa sociedade são também uma luta diária.
Você tem trabalhado com foco nos clubes do Rio de Janeiro. Temos visto atualmente um “conflito” entre eles com relação à volta do futebol em meio à pandemia. Qual a sua opinião a respeito?
Acho que a volta deve ser feita quando houver a garantia de segurança para todos os envolvidos, sejam atletas funcionários ou imprensa. Considero um pouco precoce a volta enquanto ainda lutamos pela redução do número de contágios e óbitos.
Como é a relação dos clubes e jogadores com a imprensa como um todo no Rio de Janeiro?
Em geral é uma relação bem profissional e de colaboração. Os jogadores hoje são muito “blindados” pelas assessorias. É difícil ter um contato direto, mas a comunicação dos clubes costuma sempre ajudar. Entre colegas também nos ajudamos bastante.
Qual análise você faz do futebol carioca?
É um pouco maltratado por alguns erros de quem conduz, mas ainda acredito no potencial de voltar a ser o futebol mais charmoso do Brasil, com rentabilidade e mais competitivo.
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Fernanda entrevista o meia Nenê, do Fluminense
(Foto: Arquivo Pessoal) |
Qual a rotina de uma setorista?
Ficar ligado em tudo o que acontece no clube o tempo todo. Na redação, pensar em pautas todos os dias, cultivar as fontes e lembrar datas marcantes. Quando há jogos, somos os primeiros a chegar e últimos a sair. É preciso estar atento aos detalhes que só são possíveis de ver pessoalmente para tornar a cobertura interessante porque com o digital todos têm acesso muito rápido às informações.
Um jogo inesquecível que você trabalhou como repórter
Fui escalada para fazer a visão daquele jogo em que o Fluminense venceu o Grêmio por 5 a 4, no Brasileirão de 2019. Foi uma loucura todas as reviravoltas que me obrigaram a mudar o texto diversas vezes. O fechamento do jornal era logo em seguida e não podia atrasar.
Uma entrevista que gosta de recordar
Gostei muito do resultado de uma exclusiva que fizemos com o Nenê, no ano passado. Ele é muito bem articulado e o papo rendeu bastante.
Você é muito jovem e tem uma carreira muito importante dentro do jornalismo esportivo. Quais são seus próximos objetivos?
Acho que essa pandemia nos ensinou que devemos viver um dia de cada vez e dar o nosso melhor. Ainda sonho em participar de grandes coberturas como repórter, como uma Copa do Mundo ou Olimpíada.
Deixe um recado para os nossos leitores que querem seguir a área do jornalismo
Não deem ouvidos a quem desestimula seguir na carreira jornalística. Quando fazemos o que amamos, as coisas fluem e se acertam sozinhas. É uma profissão apaixonante.