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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Superioridade, cautela e pragmatismo: esse foi o Cruzeiro

O Cruzeiro sagrou-se campeão do Campeonato Brasileiro. Ou melhor, tricampeão. Desde 2003, a equipe mineira não comemorava esse campeonato. Àquele time era e ainda é memorável. Tinha Gomes, Edu Dracena, Felipe Melo, Alex e o comando de Luxemburgo. A comemoração daquele épico título foi no Mineirão diante do Paysandu.

Voltando ao time atual, a temporada do Cruzeiro começou com renovações. Vieram Marcelo Oliveira, treinador vindo do Coritiba, Éverton Ribeiro, também do Coritiba, Ricardo Goulart, vindo do Goiás, além de Dedé, Bruno Rodrigo, Egídio, Borges, Willian, Luan, Júlio Baptista e tantos outros. Tem ainda a revelação no meio-campo, Lucas Silva, que se encaixou muito bem no esquema tático.

Como disse Rizek, apresentador do SporTV, o ''Cruzeiro contratou jogadores com brilho nos olhos". Frase bem dita. Afinal, eles estão jogando muito e a maioria merece uma chance na Seleção. Além dessa renovação, tem a experiência de Fábio.

Todo time começa com um bom goleiro. Fábio mostra uma segurança e as defesas são importantes e difíceis. Na linha de quatro defensores, tem Ceará, Dedé, que não estava atuando bem no Vasco e não tinha, até então, nenhuma chance de ir para a Seleção, Bruno Rodrigo, que fez um péssimo Mundial de Clubes pelo Santos, diante do Barcelona, e Egídio, que veio do Goiás. No meio-campo, tem o talento e a juventude de Everton Ribeiro, Ricardo Goulart e Lucas Silva e o cara das bolas paradas, Nilton, cujo vem fazendo gols bonitos. Para completar a titularidade, tem a garra de Borges e o 'Bigode grosso' Willian, ex-Corinthians.

Mas, fora das quatro linhas, tem um comandante que joga junto: Marcelo Oliveira. Foi visto com muita desconfiança pelos torcedores cruzeirenses. A incógnita era evidente. Veio o Estadual e o título não. Será que daria certo? Somente o Brasileiro poderia responder. A primeira rodada veio e a primeira amostra de que o time viria para disputar o título foi comprovada. 5 a 0 no Goiás. Depois, nas rodadas seguintes, o Cruzeiro oscilava. Foi por pouco tempo. A equipe começava a mostrar que não era 'cavalo paraguaio'. Veio a liderança.

Para não esquecer, vale destacar de forma espetacular a atuação da torcida. Mineirão lotado. Melhor média do Brasileirão, com mais de 29.000 torcedores. Se o Cruzeiro chegou à liderança, é porque existia e existe confiança, apoio. Torcida que faz barulho, incomoda, joga junto, é o verdadeiro 12° jogador. Na disputa direta pela liderança, estava o Botafogo. Comandado por Seedorf e Rafael Marques, o Botafogo poderia passar o Cruzeiro e assumir a liderança. O jogo não seria fácil. Era no Mineirão, a casa do cruzeirense.

Vigésima segunda rodada. 21h50. Cruzeiro x Botafogo. O jogo não começou fácil. Clima de decisão elevou os nervos dos jogadores, mas nem todos responderam com motivação. Bolívar, zagueiro do Botafogo, estava atento as jogadas. Quando o defensor não estava lá para evitar a conclusão, Jefferson fazia milagres. Como furar a retranca?

Último lance do primeiro tempo. Jogo já nos acréscimos. Escanteio cobrado por Éverton Ribeiro, Nilton se livrou da marcação de Marcelo Mattos e, livre, emendou de chaleira sem chances para Jefferson. Golaço, digno de uma final. Mineirão estremeceu. Que euforia! Que emoção!

Veio o segundo tempo. E aos sete minutos, o Botafogo teve a chance de ouro para empatar o duelo. Rafael Marques sofreu pênalti. Seedorf pegou a bola, assumiu a responsabilidade, mas mandou para fora. Gênios também erram. Como comportaria o Botafogo no andamento do jogo?

Botafogo fez alterações, mas o resultado não surtiu efeito. Aliás, piorou a situação. Júlio Baptista entrou no lugar de Borges e o camisa 10 foi preciso: em duas finalizações, fez dois gols e sacramentou a vitória cruzeirense no Mineirão. Título? Ainda não. O time mineiro perdeu dois jogos seguidos: 2 a 0 para o São Paulo e 1 a 0 para o Atlético-MG. Marcelo Oliveira não perdeu o foco e não se desesperou, assim como a torcida e o elenco. Afinal, o Brasileirão é a competição mais equilibrada do país.

Essa fase de dois jogos sem vencer acabou. Na rodada 29, com o apoio da torcida no Mineirão, o Cruzeiro venceu mais uma. Dessa vez, diante do Fluminense. 1 a 0. Jogo difícil, truncado. Fábio foi salvando, defendendo tudo, pegando até pensamento. Porém, na rodada seguinte, o Cruzeiro voltou a perder. 2 a 1 para o Coritiba. Atlético-PR vinha em grande ascensão, vencendo todos os adversários, mas não chegara tão perto. A vantagem ainda era boa.

Quando o Cruzeiro poderia gritar é campeão? Rodada 33. Cruzeiro x Grêmio. Buzinas e fogos de artifício ecoavam. Porém, tinha um detalhe: torcer para que o São Paulo vencesse o Atlético-PR. Enquanto isso, o Cruzeiro continuava mostrando um futebol envolvente, pragmático. Dagoberto passava fácil em cima de Werley e Pará, com direito a uma linda caneta no lateral. Ele ditou o ritmo do envolvente ataque do Cruzeiro.

O primeiro gol saiu em uma jogada aérea. De Dagoberto para Borges executar um movimento indescritível. Golaço. Porém, em Curitiba, o Atlético-PR estava já vencendo o São Paulo por 2 a 0, gols de Marcelo e Luiz Alberto.

O futebol do Grêmio é apático. Seis jogos sem marcar pelo menos um gol. Sete jogos sem vencer. Jogo sonolento. Parece que até desaprendeu a atacar. Estava difícil. Primeiro tempo para ser esquecido. Na segunda etapa, o Grêmio começava a criar e o paredão Fábio fazia suas mágicas defesas. Kleber chutou, Barcos chutou, Yuri Mamute chutou... E Fábio espalmou, Fábio espalmou, Fábio espalmou! Portaluppi, que havia segurado Egídio, deveria ter segurado o goleiro. Que tarde incrível!

Com Willian e Luan nos lugares de Dagoberto e Everton Ribeiro, o Cruzeiro ficou renovado na frente. Resultado: mais dois gols. Willian fez o segundo gol. Patente alta. Depois, no finalzinho, Ricardo Goulart sacramentou o jogo. Fim de papo. 3 a 0. Tricampeão. Ops...ainda não, pois o Atlético-PR ainda fizera o terceiro gol com o artilheiro Ederson e levara a decisão para quarta-feira.

Quarta-feira chegou. O dia mais esperado - talvez -, pelos cruzeirenses. O adversário era o Vitória, jogo no Barradão.  O Cruzeiro poderia empatar que já conquistava o título, independentemente do resultado em Criciúma. Aliás, Criciúma e Atlético-PR jogaram às 21h00, 50 minutos antes do jogo do Cruzeiro. Logo aos 6 minutos, o time catarinense abriu o placar com Fábio Ferreira. O primeiro tempo acabara assim. Os torcedores do Cruzeiro já sabiam do resultado e, por isso, quando a equipe Celeste entrou no gramado, eles gritaram 'Tricampeão'!!!. Talvez os jogadores do clube mineiro já sabiam do resultado e não quiseram expor em campo.

O apito foi dado. Parecia que o jogo era no Mineirão. Os torcedores não pararam de gritar, apoiar, cantar. A Bahia foi invadida por Minas. E eles ficaram ainda mais inflamados quando ficaram sabendo que o Atlético-PR já perdia por 2 a 0 em Criciúma. Festa generalizada. Mas, o Vitória queria tirar a cereja do bolo. Partiu pra cima. Não deu moleza. Dinei finalizou e quem estavá lá: Fábio. Marquinhos chutou e...Fábio fez mais uma defesa importante. Nunca vi Raul Plassmann, ex-goleiro e ídolo da Raposa, jogar, mas ouço grandes histórias de defesas. Seria Fábio mais um Raul?

Aquele ditado voltou. Quem não faz, toma. Foi assim. Willian chutou, mas não entrou. Borges tentou imitar àquele gol histórico diante do Grêmio, não deu também. Mas, quem é patente alta, merece respeito. Dagoberto foi maestro e o camisa 41 balançou as redes. 1 a 0.

No intervalo, os jogadores do Cruzeiro se reuniram perto da entrada do campo, ainda no vestiário. Reuniram-se esperando o término do jogo em Criciúma. Paulo Baier havia diminuído o prejuízo. Faltavam 4 minutos. O Cruzeiro voltou para o campo, a torcida gritava ainda mais forte 'Tricampeão'!!!. Não teve jeito, foi alí mesmo, no campo que os jogadores começaram a festejar. Fim de papo. 2 a 1 para o Criciúma. A partir daí, era só manter o ritmo e garantir a vitória, certo? Errado. Dinei empatou o jogo, logo aos 5 minutos. A torcida nem se importava com o resultado. Que festa charmosa! Faixas, sinais com os dedos indicando três, gritos. Fanatismo impera em Belo Horizonte.

Para quem achava que o Cruzeiro iria administrar o jogo, se enganou. Jogou mais, jogou como um campeão absoluto. Júlio Baptista - aos 25 minutos -, voltou a colocar a Raposa na frente. Borges e Dagoberto foram substituídos, e no banco de reservas comandaram o início da festa com os companheiros. Dançaram, pularam, jogaram àgua no massagista e no técnico Marcelo Oliveira. O quarto árbitro foi chamar a atenção dos jogadores, não deveriater feito isso. Borges, Dagoberto e Luan o cercaram e começaram a gritar Tricampeão!!!. Rapidamente, ele se retirou.

Ainda deu tempo para Ricardo Goulart fazer o terceiro e carimbar a faixa de campeão. Aliás, tricampeão. Vale a lógica seguinte: 31 é o número da camisa do meio-campista. Se invertemos a ordem dos números, dá 13, e ontem foi dia 13. Tudo combinou a favor do Cruzeiro. Festa no Barradão. Carnaval fora de época.

Esse foi o Cruzeiro de 2013. Jogou com garra, determinação, foi a única equipe a vencer os 19 adversários. Todos os momentos vividos têm que ficar na memória. Nunca devem ser extinguidos. O jogo contra o Vasco, em que o Cruzeiro venceu por 5 a 3, com dois golaços de Lucas Silva, a final antecipada contra o Botafogo, e os dois últimos jogos. Como diz o hino, Cruzeiro! Cruzeiro! Querido! Tão combatido! Jamais vencido!

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