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sexta-feira, 20 de março de 2015

Fifa arrecada R$ 16 bilhões na Copa do Mundo no Brasil. O que ganhamos?

Quando o Brasil foi escolhido o país-sede para abrigar a Copa do Mundo de 2014, já se imaginava o quanto de prejuízo o País teria, e o quanto de lucro a Fifa teria. Pois bem. A conta chegou. A Fifa teve um lucro recorde com a realização da Copa do Mundo no Brasil, no ano passado. Com a realização do torneio no país, a entidade arrecadou 5 bilhões de euros (cerca de R$ 16,3 bilhões). Somente nos três primeiros anos do ciclo brasileiro, a receita da entidade bateu US$ 3,6 bilhões. Todos os envolvidos no evento sabiam que o valor arrecado seria muito maior, porque o último ano costuma ser sempre o mais lucrativo. Mas como isso funciona exatamente?

A maior parte do dinheiro vem das emissoras de televisão que compram o direito de transmitir a competição e suas eliminatórias. Em 2013, US$ 630 milhões, 45% do total, vieram desta fonte de receita. Destes US$ 630 milhões, 50%, vem de canais europeus, enquanto asiáticos representam 25%, latino-americanos, 15%, e norte-americanos, 11%. Isso dá uma boa noção de quem gosta mais de assistir aos jogos de futebol, afinal as TVs gastam bem mais dinheiro para atender à demanda.

Em seguida, na ordem de maiores financiadores da Fifa, estão os patrocinadores. Foram US$ 412 milhões recebidos em 2013 de empresas que pagaram para poder se associar aos eventos e ter pacotes de ingressos para fazer promoções, entre outros benefícios.

Neste ponto, a entidade criou três cotas. A primeira é de “parceiros” que estão não só na Copa, mas em todos os eventos Fifa: Mundial de Clubes, competições de categorias de base, etc. Eles pagaram US$ 177 milhões, 44% do total da área de marketing. Em seguida, vêm os patrocinadores da Copa especificamente, que gastaram US$ 131 milhões, equivalentes a 33%, em 2013. Por último, há os apoiadores nacionais, empresas do país-sede que patrocinam o torneio para poder explorá-lo exclusivamente dentro do país. Essas pagaram US$ 46%, 11% do total. O restante do marketing corresponde a fan fests e outros eventos.


Bilionária e sem pagar impostos no Brasil, a Fifa distribuiu prêmio recorde às 32 seleções. Será mais de R$ 1 bilhão, o maior da história das Copas. Na Alemanha, em 2006, o prêmio total foi de R$ 570 milhões. O Mundial de 2002, vencido pelo Brasil, distribuiu apenas R$ 320 milhões. Valcke afirmou que serão gastos aproximadamente R$ 3,3 bilhões na organização da competição e o restante será distribuído para "desenvolver o futebol".

Por falar em Mundial de 2002, temos que abrir um parênteses. O relatório do processo da Receita Federal comprova que as organizações Globo criaram um esquema internacional envolvendo diversas empresas em sedes por todo o mundo para mascarar a compra dos direitos da Copa do Mundo de 2002. O objetivo principal seria o de sonegar os impostos que deveriam ser pagos à União em pela compra dos direitos.

A engenharia da Globo para disfarçar a operação envolveu dez empresas criadas em diferentes paraísos fiscais. Todas essas empresas pertencem direta ou indiretamente à Globo, segundo os documentos. O esquema funcionava de modo que o dinheiro para a aquisição dos direitos era pago através de empréstimos entre empresas pertencentes à Globo sediadas em outros países. Deste modo, a empresa brasileira TV Globo, não gastava dinheiro diretamente com a operação. Posteriormente, as empresas que detinham os direitos de transmissão eram compradas pela TV Globo.

A compra dos direitos da Copa de 2002 e 2006 pela Globo foi tensa. A emissora assinou contrato, em 1998, com a empresa ISL, que quebrou meses após o pagamento da Globo de US$ 60 milhões. A empresa nas Ilhas Virgens Britânicas era de fachada e só foi usada para intermediar o pagamento dos direitos dos jogos da Copa.

Em 2001, as negociações foram retomadas com a alemã Kirch, sucessora da ISL que assumiu os US$ 60 milhões já pagos Com o acordo, a emissora aceitou pagar US$ 440 milhões pelas duas Copas (2002 e 2006). 

A Fifa teve uma isenção fiscal de aproximadamente R$ 1 bi. Isso aconteceu por conta da Lei 12.950, que diz:

Dispõe sobre medidas tributárias referentes à realização, no Brasil, da Copa das Confederações Fifa 2013 e da Copa do Mundo Fifa 2014; promove desoneração tributária de subvenções governamentais destinadas ao fomento das atividades de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica nas empresas. 

O Mundial de 2010, realizado na África do Sul, rendeu US$ 4,1 bilhões (R$ 13,3 bilhões) e o de 2006, na Alemanha, obteve US$ 249 milhões (R$ 811,7 milhões) de lucro. 


O valor do contrato entre Fifa e Organizações Globo não foi divulgado. Também não se sabe quanto o grupo investiu para adquirir os diretos de transmissão da Copa ou ganhou pela produção do vídeo oficial do slogan do torneio e pela ajuda na realização da festa do sorteio preliminar da Copa do Mundo de 2014, no ano passado. Não se sabe também quanto custou a festa da cerimônia do sorteio, apresentado por Fernanda Lima e que teve convidados inusitados, como o chefe Alex Atala. 

As Organizações Globo já garantiram as Copas de 2018 e 2022. Porém a Fox Sports também exibirá a Copa na Rússia. As partes envolvidas entraram em acordo. A Globo que, por sinal, cedeu direitos de imagem para a também emissora carioca na edição do ano passado.

Só que a Fifa não privilegiou apenas a emissora brasileira. Ela também vendeu para as emissoras norte-americanas. O valor total, de mais de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 1,7 bilhão), é recorde nos Estados Unidos para a compra de direitos de transmissão de futebol. O esporte não é popular. 

Mesmo com o lucro expressivo da entidade, algumas das arenas que abrigaram os jogos da Copa no Brasil se tornaram verdadeiros "elefantes brancos". A Arena Amazônia está às mocas. R$ 680 milhões por ano para mantê-la. Porém o estádio receberá alguns jogos nas Olimpíadas. Arena Pantanal está fechada para reformas. E o Mané Garrincha virou escritório de governo.

A área de transportes também foi afetada, uma vez que não foram concluídas as obras que foram prometidas pelo Governo Federal e Estadual. Os aeroportos têm situações precárias. As rodovias, idem. 

Quanto o Brasil ganhou? A crise! Patrocinou tudinho, e ainda teve que pagar para obter o perdão pelo déficit fiscal. Mais um gol da Alemanha. 

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