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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Volta, mata-mata. Para o bem do futebol

A discussão é antiga. E interminável. Pontos corridos ou mata-mata? Sem pestanejar: mata-mata. E sou fã antigo dos pontos corridos. E agora? Explico:

O principal benefício dos pontos corridos é a justiça inerente a ele. Todo mundo enfrenta todo mundo duas vezes, uma em casa e outra fora. Quem termina com mais pontos é o campeão. Justiça, certo? Não.

Nos pontos corridos quase não há reviravolta. Depois de um início com “cavalos paraguaios” liderando, um time lidera por 15 rodadas, outro por 18 e acabou o campeonato. Não há reviravolta. Como exemplo, pode-se citar o Campeonato Brasileiro de 2012. Em 2012, o Atlético-MG liderou por 15 rodadas e o Fluminense por 17. Depois que o Flu assumiu a liderança na 22ª rodada não largou mais.

Com três rodadas de antecedência, já conhecíamos o campeão, Fluminense. A duas rodadas para o final, um gigante, o Palmeiras, estava rebaixado, e já sabíamos também os quatro times que iriam para a Copa Libertadores 2013: Fluminense, Grêmio, Atlético-MG e São Paulo, nesta ordem à época. 

Outro exemplo: o Brasileirão de 2013. De 2005 a 2012, a taça sempre ficou em São Paulo ou no Rio. Porém, ano passado, houve a quebra da nobreza. O Cruzeiro sagrou-se campeão. Na 34ª rodada, o Cruzeiro derrotou o Vitória por 3 x 1, em Salvador, aliado a derrota do Atlético Paranaense contra o Criciúma por 2 x 1. Foi um campeonato de um time só, e os pontos corridos fez justiça com o Cruzeiro, porém novamente não houve uma disputa direta por título.

No mata-mata o confronto pela taça é direto. Um time tem vantagem, por ter feito melhor campanha, mas isso não é garantia de título. Basta lembrar a decisão de 2002, a última do mata-mata. O Corinthians, com melhor campanha, foi derrotado duas vezes pelo Santos que ficou com o caneco. Além da briga direta pelo título, há de se concordar que o público é maior nesse tipo de sistema.

A graça do futebol também tem a ver com a “zebra”. O pequeno que chega e surpreende o grandão no momento decisivo. Lotação máxima em dois jogos, nervos a flor da pele, detalhes... Qualquer descuido e a vaca vai pro brejo. Jogar assim, no fio de navalha, é muito mais divertido. O grito de gol numa partida mata-mata sai rasgando a garganta. A vitória é celebrada com muito mais garra. E a dor do adversário perdedor compara-se a uma facada. Mas dor e alegria caminham juntas, e isso propicia a emoção.

Porém, a atual partilha da grana faz com que alguns times tenham mais chance de ser o melhor. Na nobreza (Corinthians, Flamengo, São Paulo etc.) é possível montar um time ruim, desmontar no meio do caminho, remontar e vencer o campeonato ainda com dinheiro sobrando. No médio (Coritiba, Atlético-MG, Bahia, Sport) e no baixo cleros (Figueirense, Chapecoense, Criciúma, Vitória), qualquer erro de planejamento é punido com campanhas medíocres, endividamento ou as duas coisas.

É necessário estabelecer uma relação entre a justiça do campo e o dinheiro com que os clubes se mantém no campeonato. Mas a Globo diz 'não querer atrapalhar a gestão dos clubes'. Com isso, a renovação do futebol brasileiro ficará para outras décadas. Uma pena para o torcedor (leia o post de ontem e descubra o que ocorrerá com o torcedor caso a Globo tire o futebol da grade).

Por outro lado, a Globo quer mudar a fórmula de disputa. A volta do mata-mata começa a ganhar força, depois de em outros tempos também terem sido testados quadrangular e sistema de módulos. Entretanto, a volta do mata-mata seria uma forma de beneficiar os clubes da nobreza (Corinthians e Flamengo), já que no último domingo (3), esses dois clubes registraram as piores marcas de audiência. O fraco empate sem gols entre Coritiba e Corinthians registrou 13 pontos para a emissora no Ibope – cada ponto equivale cerca de 62 mil domicílios sintonizados em São Paulo. No mesmo dia, a partida entre Flamengo e Chapecoense somou apenas 17 pontos, cerca de 38 mil domicílios no Rio de Janeiro*.

Durante muito tempo os brasileiros acreditaram que seguir o modelo europeu (Campeonato Espanhol, Francês, Inglês, Italiano são com pontos corridos) seria uma evolução natural da organização do nosso futebol. Não acredito nisso. Temos capacidade para mais. E assim os clubes do médio e baixo cleros terão de se acostumarem à ideia de que, por mais da metade do ano, suas maiores ambições serão não cair de divisão e roubar algum ponto dos grandes.

*Informação do portal TV Foco.

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