A discussão é antiga. E interminável. Pontos corridos ou mata-mata? Sem pestanejar: mata-mata. E sou fã antigo dos pontos corridos. E agora? Explico:
O principal benefício dos pontos corridos é a justiça inerente a ele.
Todo mundo enfrenta todo mundo duas vezes, uma em casa e outra fora.
Quem termina com mais pontos é o campeão. Justiça, certo? Não.
Nos pontos corridos quase não há reviravolta. Depois de um início com
“cavalos paraguaios” liderando, um time lidera por 15 rodadas, outro por
18 e acabou o campeonato. Não há reviravolta. Como exemplo, pode-se citar o Campeonato Brasileiro de 2012. Em 2012, o Atlético-MG liderou por 15 rodadas e o Fluminense por 17. Depois
que o Flu assumiu a liderança na 22ª rodada não largou mais.
Com três rodadas de antecedência, já conhecíamos o campeão, Fluminense. A
duas rodadas para o final, um gigante, o Palmeiras, estava rebaixado, e
já sabíamos também os quatro times que iriam para a Copa Libertadores
2013: Fluminense, Grêmio, Atlético-MG e São Paulo, nesta ordem à época.
Outro exemplo: o Brasileirão de 2013. De 2005 a 2012, a taça sempre ficou em São Paulo ou no Rio. Porém, ano passado, houve a quebra da nobreza. O Cruzeiro sagrou-se campeão. Na 34ª rodada, o Cruzeiro derrotou o Vitória por 3 x 1, em Salvador, aliado a derrota do Atlético Paranaense contra o Criciúma por 2 x 1. Foi um campeonato de um time só, e os pontos corridos fez justiça com o Cruzeiro, porém novamente não houve uma disputa direta por título.
No mata-mata o confronto pela taça é direto. Um time tem vantagem, por
ter feito melhor campanha, mas isso não é garantia de título. Basta
lembrar a decisão de 2002, a última do mata-mata. O Corinthians,
com melhor campanha, foi derrotado duas vezes pelo Santos que ficou com o
caneco. Além da briga direta pelo título, há de se concordar que o
público é maior nesse tipo de sistema.
A graça do futebol também tem a ver com a zebra. O pequeno que chega e
surpreende o grandão no momento decisivo. Lotação máxima em dois jogos,
nervos a flor da pele, detalhes... Qualquer descuido e a vaca vai pro
brejo. Jogar assim, no fio de navalha, é muito mais divertido. O grito
de gol numa partida mata-mata sai rasgando a garganta. A vitória é
celebrada com muito mais garra. E a dor do adversário perdedor compara-se a uma facada. Mas dor e alegria caminham juntas, e isso propicia a emoção.
Porém, a atual partilha da grana faz com que alguns times tenham mais chance de
ser o melhor. Na nobreza (Corinthians, Flamengo, São Paulo etc.) é
possível montar um time ruim, desmontar no meio do caminho, remontar e
vencer o campeonato ainda com dinheiro sobrando. No médio (Coritiba,
Atlético-MG, Bahia, Sport) e no baixo cleros (Figueirense, Chapecoense, Criciúma, Vitória), qualquer erro de planejamento é punido com campanhas
medíocres, endividamento ou as duas coisas.
É necessário estabelecer uma relação entre a justiça do campo e o dinheiro com que os clubes se mantém no campeonato. Mas a Globo diz 'não querer atrapalhar a gestão dos clubes'. Com isso, a renovação do futebol brasileiro ficará para outras décadas. Uma pena para o torcedor (leia o post de ontem e descubra o que ocorrerá com o torcedor caso a Globo tire o futebol da grade).
Por outro lado, a Globo quer mudar a fórmula de disputa. A volta do mata-mata começa a ganhar força, depois de em outros tempos também terem sido testados quadrangular e sistema de módulos. Entretanto, a volta do mata-mata seria uma forma de beneficiar os clubes da nobreza (Corinthians e Flamengo), já que no último domingo (3), esses dois clubes registraram as piores marcas
de audiência. O fraco empate sem gols entre Coritiba e Corinthians
registrou 13 pontos para a emissora no Ibope – cada ponto equivale cerca
de 62 mil domicílios sintonizados em São Paulo. No mesmo dia, a partida
entre Flamengo e Chapecoense somou apenas 17 pontos, cerca de 38 mil
domicílios no Rio de Janeiro*.
Durante muito tempo os brasileiros acreditaram que seguir o modelo
europeu (Campeonato Espanhol, Francês, Inglês, Italiano são com pontos corridos) seria uma evolução natural da organização do nosso futebol. Não
acredito nisso. Temos capacidade para mais. E assim os clubes do médio e baixo cleros terão de se acostumarem à ideia de que, por mais da metade do ano, suas maiores
ambições serão não cair de divisão e roubar algum ponto dos grandes.
*Informação do portal TV Foco.
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