Pages

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Direitos de TV: finanças e marketing

Os direitos de transmissão da TV é o assunto mais comentado ultimamente. O valor que as emissoras de televisão pagam aos clubes pelos direitos de transmissão dos campeonatos tem um peso diferente no Brasil e nas principais ligas do planeta. Inglaterra, Alemanha e Itália, por exemplo, que detêm os três principais campeonatos em termos de valores pagos pela televisão, até pouco tempo atrás permitiam que os clubes fizessem individualmente suas negociações com as empresas de televisão, mas a diferença astronômica entre os principais clubes e os de menores expressões fez com que o modelo fosse deixado de lado em prol de uma negociação igualitária e que impactasse em um maior poder de competição entre os clubes.

Na Alemanha, as cotas de televisão não são as principais fontes de receita dos clubes como acontece na Itália e no Brasil. O Bayern de Munique, principal time do país, tem 55% de suas receitas baseadas nos valores arrecadados em dia de jogos na Allianz Arena, seu estádio, em Munique. Além disso, 23% vêm do Departamento Comercial do clube e apenas 22% das receitas do time bávaro são oriundas das cotas de televisão.

E no Brasil? Como funciona?

Corinthians e Flamengo são os clubes que mais recebem direitos de TV. Juntos, valem 110 milhões de reais por ano. Com o aumento, este valor subirá para 170 milhões de reais. Com isso, o abismo entre Corinthians e São Paulo, por exemplo, vai aumentar ainda mais. O Tricolor Paulista hoje têm seus direitos de transmissão valendo R$ 80 milhões por ano. A Rede Globo manda no futebol. Ela é a dona dos jogos. Por isso, os torcedores saem do estádio depois da meia-noite. Ou vocês acham que ela iria passar o jogo primeiro para depois passar a novela? Nem pensar. A Record e a RedeTV! tentaram ganhar os direitos de transmissão, mas a emissora que tem sede no Rio de Janeiro ganhou facilmente. Neste ano, o Corinthians antecipou R$ 12 milhões de reais de direitos de TV para pagar os salários atrasados. É a partir daí, que surge a constatação: os clubes têm patrocínios, altos direitos de TV, vendem e compram jogadores. E atrasam salários básicos. Por que?

O Flamengo vivenciou uma situação dessa no ano passado. Os funcionários do clube estavam com salários atrasados, mas a diretoria contratou Mano Menezes, ex-técnico da Seleção Brasileira. A partir disso, vem outra constatação: o que os clubes fazem com o dinheiro dos direitos de TV? Na teoria, seria pagar os atletas e funcionários. Mas na prática só pode ser pior. Devem fazer festas e contratar jogadores de alto nível.

Na Espanha, segue o mesmo exemplo de Corinthians e Flamengo. Só que lá é Barcelona e Real Madrid. Por lá, como aqui, a negociação entre as transmissoras e os clubes é independente. De 2002 pra cá, o abismo dos gigantes sobre os demais aumentam ano após ano. Hoje a soma dos dois clubes equivale a 55% do total arrecadado por toda a liga. Agora, temos uma nova equipe em ascensão, o Atlético de Madrid. Sendo assim, nas próximas temporadas, um novo clube pode arrecadar uma quantia melhor. 

Nesta semana, uma CPI foi instalada na Espanha. Em 2013, a RTVE perdeu os direitos de exibição dos jogos da Espanha para a Mediaset, que pagou 40 milhões de euros pela transmissão. O pacote incluía os jogos classificatórios para a Copa do Mundo de 2014 e, também, 12 jogos amistosos. O executivo da RTVE afirmou que os valores pagos agora não representam 1% de todo o gasto da empresa no ano (cerca de 950 milhões de euros). A CPI investigará se há ou não uma suposta fraude. 

O mais interessante é na Inglaterra. A ESPN e o Fox Sports são as emissoras detentoras dos jogos. Elas fazem uma divisão de transmissão. São 10 jogos. Os jogos 1, 4, 5, 7, e 9 são destinadas para uma TV. Jogos 2, 3, 6, 8, e 10 para a outra TV. Na rodada seguinte, há a troca. 

Por lá, os valores pagos pelos direitos de transmissão do campeonato são negociados com o grupo, e a renda é dividida da seguinte forma:
  • 50% é dividido em partes iguais pelos 20 times da primeira divisão. O valor arrecadado gira em torno de 9,7 bilhões de reais, logo, cada clube recebe aproximadamente 485 milhões de reais.
  • 25% varia de acordo com a classificação do ano anterior do clube. Por exemplo, o QPR, rebaixado como lanterna da competição na temporada 2012-13, recebe nesta temporada aquilo que lhe é de direito. Todos recebem as suas cotas, do primeiro ao ultimo colocado
  • Os demais 25% fica por conta das medições de audiência, publico, torcida, entre outros. Desta cota, os quem mais recebem são Manchester United e Liverpool, mas a diferença entre eles e os que recebem menos, está longe de ser um abismo.
Na teoria, a divisão da Inglaterra é a mais justa e deveria ser tomada como base para o futebol daqui. Porém, há um monopólio astronômico de uma única emissora (embora haja a Band transmitindo os jogos, que são os mesmos que a Globo transmitem).

Além disso, os direitos de TV é uma forma de audiência. Não faria e não faz sentido algum a Globo transmitir, em rede nacional, Figueirense x Sport. Ela sabe que não dá audiência, por isso existem os canais Premiére, que também são da Globo.

Sendo assim, esperemos por dias melhores quanto a isso. É difícil, mas basta haver uma união de outras emissoras, para que assim [as emissoras e os torcedores] consigam estar satisfeitos.

0 comentários:

Postar um comentário