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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Inglaterra precisou de duas tragédias para mudar o futebol. E o Brasil, precisará de quantas?

Em 1985, durante a final da Liga dos Campeões da Europa, os poucos policiais, além das grades que separavam seguidores de Liverpool e Juventus, não foram suficientes para evitar um confronto entre as duas torcidas. Foram 38 mortos e 454 feridos. Os torcedores dos Reds levaram a culpa pelo massacre. Como consequência, os clubes do país foram suspensos de competições internacionais durante cinco anos. O Liverpool acabou pagando seis.

Quatro anos mais tarde, uma nova tragédia envolvendo a Inglaterra. E mais uma envolvendo os Reds.  Liverpool e Nottingham Forest se enfrentavam pela fase semifinal da Copa da Inglaterra no estádio Hillsborough, do Sheffield Wednesday. A superlotação de uma das alas do estádio levou à morte 96 torcedores do Liverpool. A tragédia é até hoje sentida pela torcida dos Reds, mas acabou por se tornar um marco para a modernização do futebol inglês.

O incidente foi encarado como a gota d’água para que os problemas com o futebol fossem resolvidos. No fim dos anos 80, a Inglaterra vivia o auge do hooliganismo. Segundo o dicionário, hooliganismo diz-se de comportamentos desregrados e sem controle, geralmente provindos de fãs para com seus ídolos, com maior índice de ocorrências para o futebol. Comportamento violento.

A data é digna de tanto respeito por parte do Liverpool que o clube chegou a pedir à Uefa que não marcasse seu jogo de volta pela Liga dos Campeões, contra o Chelsea, para o dia 15 de abril.

O futebol inglês foi "chutado". A barbárie é muito comentada ainda nos dias atuais. Além da violência, o futebol carecia de estrutura para as divisões inferiores. Para mudar a história desse cenário, surgiu em 1990 o Relatório Taylor. Nesse relatório consta o que era necessário para que houvesse uma modernização. No documento, contém os seguintes pedidos: redução da capacidade dos estádios, aumento dos preços dos ingressos, instalação de assentos para que todos os torcedores fiquem sentados, retirada dos alambrados para evitar esmagamentos, distribuição de tarefas entre autoridades na organização dos jogos e câmeras monitorando os passos dos torcedores, desde a parte externa dos estádios até as tribunas.

E no Brasil? Será que um dia noticiaremos que o nosso amado futebol estará no padrão Uefa/Fifa? Muito difícil. Estamos perto de ser considerado um país de Quarto Mundo. E longe, muito longe de sermos um país de Primeiro Mundo. O tema tragédia já assolou grande parte de nós, brasileiros.

Não vamos muito longe. Dia 8 de dezembro de 2013. Atlético-PR e Vasco, em Joinville, pela última rodada do Campeonato Brasileiro. A bola rolou. Porém, aos 16 minutos, uma confusão generalizada nas arquibancadas impede o prosseguimento da partida. A princípio, torcedores do Vasco invadiram o setor do Atlético-PR. O jogo ficou parado por mais de 1h15min. O mais revoltante é ver que os valentões - os hooligans do Brasil - pertencem às torcidas organizadas (só no nome, pois sabemos que são desorganizadas). O conflito deixou 4 feridos. Não havia policiais dentro da Arena Joinville no momento em que a briga teve início. 

No último sábado, o CT do Corinthians foi invadido por cerca de 150, 200 bandidos disfarçados de torcedores. Foram três horas de tensão. Guerrero foi esganado. Emerson Sheik e Pato eram os principais alvos da manifestação. A equipe não queria jogar diante da Ponte Preta, no último domigo. Todavia, jogou e perdeu por 2 a 1. Abalou ainda mais o clima pesado. E, na quarta-feira, diante do Bragantino, uma nova derrota e uma nova briga, dessa vez entre as próprias torcidas.

Esses são os dois casos mais recentes. Entretanto, poderia citar vários. E em poucos deles haveram justiça. Ok, vou citar mais uma. Pela Copa do Nordeste, no jogo entre Botafogo-PB e Sport, houve um confronto entre as duas torcidas. A Polícia Militar, que fazia a separação, não conseguiu conter o número de torcedores. Sendo assim, foi preciso jogar gás de pimenta para que os grupos se dispersassem. Porém, o vento e o forte calor levaram esse gás de pimenta para o gramado, fazendo com que os jogadores ficassem sem respirar. Desse modo, a partida ficou paralisada por alguns minutos.

Próximos de uma Copa do Mundo. É claro que o maior evento dura apenas um mês, mas temos que nos preocupar com os visitantes. Além do mais, é necessário dar um basta às torcidas organizadas. Porque elas não levam esse adjetivo à sério. É revolvante ver que os clubes patrocinam essas torcidas.

A mesma baderneira que hoje acontece irá acontecer caso o Brasil perca para a Argentina? O nosso legado está muito longe de ser imposto. Vivenciamos num país em que os jornalistas não podem assumir o seu time de coração, pois pode ser perseguido. Hipocrisia. Mas esse não é o assunto aqui discutido. Quantos jogos mais serão precisos para impor uma nova filosofia fora dos gramados? Cadê a punição severa aos torcedores? Não tem. Eles provocam o medo. Sinal de alerta está mais que ligado.
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