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sábado, 15 de novembro de 2014

O jornalismo esportivo precisa renascer

Muitos profissionais divergem quando o assunto é o limite entre jornalismo e entretenimento. O jornalismo esportivo tem mudado muito nos últimos anos, passando de coberturas simples e objetivas para programas com reportagens dinâmicas, com características que se aproximam cada vez mais da indústria do entretenimento.

Basta observarmos alguns portais esportivos. Ao invés de uma manchete sobre um jogo de Sul-Americana ou final da Copa do Brasil, nos deparamos com a notícia de que 'Kaká se separou da sua esposa', ou 'Conheça a nova affair do Neymar'. Sinceramente, dá nojo, me entristece profundamente.

Lembro de uma frase do Alessandro Abate, editor do Lance!, na qual ele disse: "A gente precisa se profissionalizar, mas se profissionalizar para ser jornalista e fazer jornalismo, não entretenimento".

Essa frase se encaixa com o meu perfil. É simplesmente ridículo ver os portais com notícias sobre os famosos esportistas. Deixa o Ego, G1, R7, dentre outros noticiarem algo tão pífio no universo do qual faço parte.

Porém, precisa-se partir para um outro viés. O leitor/espectador não quer entender o esporte, não quer aprofundar os saberes sobre os esportes. Ele quer apenas uma divulgação de factóides acerca dos jogadores, equipes, técnicos, dirigentes, autoridades, campeonatos, olimpíadas, copas etc. Só se quer ficar a par dos escores dos jogos e também (pra não dizer principalmente) ler “notícia” de esporte como quem lê matérias de fofocas de revistas da tevê, sobre a vida de seus ídolos.

Por isso, Neymar, Cristiano Ronaldo e outros personagens são mais vistos em capas de revistas e portais noticiosos do que propriamente numa coluna de Esportes.

O jornalismo esportivo diário é, na realidade, um jornalismo de variedades, amenidades, cujo tema não é o esporte em si, mas os seus conglomerados e actantes (personagens) que compõem essa rede mercadológica. Ou seja, tem público que consome esse tipo de "informação".

Vamos ser mais claros, exemplificando:

"Neymar faz dois gols e ajuda o Barcelona a se classificar para a próxima fase da Champions"
"Nova affair de Neymar foi vista em uma praia de nudismo"

Qual dessas notícias vai ganhar mais enfoque? Nem precisa demorar muito para responder. É claro que é a segunda. Depois de noticiada, vai virar pauta do programa Mulheres, da TV Gazeta.

Um outro exemplo é o Tiago Leifert (foto). Começou na TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo, apresentando o Vanguarda Mix; depois, foi para a Globo de São Paulo apresentar de segunda a sexta-feira o Globo Esporte. E hoje comanda o The Voice. Do esportivo ao musical. Por que essa mudança? Será que Leifert sabe a diferença entre Jornalismo e entretenimento?.

Que fique claro: não estou fazendo uma crítica à ele. É um bom profissional. Mas que é inadmissível, ah, isso é. Qualquer outro apresentador poderia estar no lugar dele.

Sinto falta de um jornalismo esportivo de caráter científico e investigativo. Não quero, em essência, manifestar um repúdio ao jornalismo esportivo factual. Pelo contrário, pois parto de um pressuposto de que o público leitor já foi adestrado para isso, saber da intimidade dos famosos jogadores. Um beijo ou uma separação ou uma traição vale mais do que um gol de placa.

O que se pretende é tentar despertar outros ou novos ângulos de interesses ao leitor/espectador, a fim de fazer com que o público conheça o jornalismo esportivo como em tese ele deveria ser: noticiando as falcatruas que tem na CBF; apresentar a parcela de compra dos direitos de TV que cada clube tem com a emissora; a transição no mercado da bola, será que houve alguma irregularidade; quem comprou o atacante Heverton para ser escalado contra o Grêmio na última rodada do Brasileirão de 2013? É isso que o público consumidor do esporte futebol deveria saber.

Caso o público admire outra modalidade que não seja o futebol, há de se apresentar algumas curiosidades, vendas, marketing, patrocínios. Há tanta coisa boa  e preponderante a ser noticiada pela veracidade dos fatos. Mas não. Preferem veicular que o atual mandatário da CBF, Marco Polo Del Nero, aparece em imagens carinhosas com Katherine Fontenele, 50 anos mais jovem; ou de que o mesmo Del Nero terminou o seu relacionamento com a modelo Carol Muniz.

A cura da doença do jornalismo esportivo tem cura: chama-se renascer. Trazer de volta àquelas características de décadas atrás.

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