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terça-feira, 14 de abril de 2015

Entrevista com Vadão, técnico da Seleção Feminina

Oswaldo Alvarez, mais conhecido como Vadão, é o treinador da Seleção Feminina. Responsável por revelar jogadores como Rivaldo, Kaká, Julio Batista, Edu Dracena, Jadson, entre outros, o experiente técnico encara um novo desafio em sua carreira: o futebol feminino.

Vadão trocou a consolidada carreira do futebol masculino pelo desafio de liderar a seleção brasileira feminina rumo ao maior objetivo da história: ganhar a medalha de ouro nas Olimpíadas de 2016, que será realizado no Rio de Janeiro.

Em entrevista ao Blog do Gabriel Dantas, Vadão comentou sobre o preconceito que existe com as mulheres que praticam o futebol, a prepração para a disputa da Copa do Mundo que acontecerá no Canadá e a falta de estrutura nos clubes.

Para os futuros leitores, quem é Oswaldo Alvarez, mais conhecido como Vadão?
Comecei a jogar futebol no Guarani de Campinas em 1974 e fui profissional até 1983, quando encerrei minha carreira de atleta e iniciei na preparação física, onde trabalhei até 1992 , quando me tornei técnico de futebol. Exerço essa profissão durante 22 anos.

Quando e onde foi sua estreia no meio futebolístico?
Jogava na minha terra natal (Monte Azul Paulista) e minha estreia aconteceu no juniores do Guarani em 1974.

Sempre sonhou em ser técnico? E qual a vocação para comandar uma equipe?
Nunca imaginei ser técnico de futebol. Isso surgiu repentinamente no ano de 1991. Trabalhava como Preparador Físico no Mogi Mirim. A equipe não vinha bem e eu assumi interinamente, livrando a equipe do rebaixamento. A partir daí, com muita insistência do Presidente Wilson de Barros, do Diretor de Futebol Henrique Stort e de um grande amigo jornalista Brasil de Oliveira, fui convencido a me tornar técnico, consequentemente eu acabei descobrindo esta vocação logo no primeiro ano de profissão.

Das equipes que treinou, qual foi a mais marcante? Por quê?
Acredito que cada clube que trabalhamos, carregamos uma história. Mas creio que meu início de carreira no Mogi Mirim, montei uma equipe nos moldes diferentes da época e isso chamou a atenção do Brasil todo pela forma bonita e eficiente da equipe, que foi apelidada de Carrossel Caipira, baseada na movimentação do famoso Carrossel Holandês. De lá surgiram grandes jogadores como Rivaldo, considerado o melhor do mundo num momento importante da sua carreira.

Qual a principal diferença entre os aspectos táticos do futebol masculino e feminino?
O futebol feminino evoluiu muito taticamente, mas algumas diferenças físicas acabam modificando a postura de algumas situações como bola parada, finalizações de longa distância, reposições de bola, viradas de jogo, jogadas aéreas. São detalhes onde o masculino tem mais facilidade.

Atualmente, estás no comando da Seleção Feminina. Como surgiu o convite?
Estava trabalhando na Ponte Preta, no Campeonato Paulista de 2014 e logo após o término, fui convidado pelo Presidente Marin e pelo seu sucessor, Marco Polo, para assumir a Seleção Feminina com o intuito de nos prepararmos melhor para o Mundial e Pan-americano de 2015, ambos no Canadá, e as Olimpíadas de 2016, no Brasil.

Como foi a adaptação ao trabalho com as mulheres? Você estudou sobre o universo feminino?
A adaptação foi rápida, porque tive todo apoio das atletas e do nosso coordenador, Fabrício Maia, que é um profundo conhecedor do futebol feminino. Durante todo esse tempo tenho estudado muito sobre o futebol feminino e as grandes seleções do mundo que jogam totalmente diferente do que jogamos.

Recentemente, a Seleção feminina perdeu para a Alemanha em duas oportunidades. Qual a sua avaliação sobre os jogos?
Embora o placar do último jogo tenha sido maior que do primeiro (3 a 1 e 4 a 0) nós tivemos uma evolução muito boa taticamente. Fizemos um primeiro tempo em alto nível de competitividade, e isso nos dá uma perspectiva muito boa para o futuro. Nós temos até o Mundial um tempo bom para que possamos jogar em alta intensidade, o que os campeonatos no Brasil não nos oferece. O desenvolvimento da modalidade nos outros países está bem à frente. Nossa estrutura é frágil perto das grandes potências.

No sábado (4), a Seleção realizou um jogo-treino contra o São José. Qual foi a importância deste jogo? 
Nós aproveitamos nossa estadia em São José dos Campos, porque iríamos embarcar para a Alemanha no domingo de Páscoa e pedimos essa gentileza ao São José, que nos atendeu. A equipe é muito boa e é bem dirigida pela Emily [Lima]. Entendemos que o jogo-treino foi muito produtivo.

A preparação agora vai ser para o Mundial que será realizado no Canadá. Onde será feita? Você já tem uma lista pré-definida de convocadas?
A preparação para o Mundial será feita em Itu-SP, devido à Granja Comary estar em reformas. A lista [para o Mundial] sairá dessas 35 atletas que formarão a primeira lista que a FIFA pede com antecedência. As 23 que viajarão para o Canadá serão escolhidas mais próximas da competição.

E em 2016 tem os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. A seleção vai entrar como favorita, assim como foi no Pan-Americano de 2007, ou apenas brigará para não passar vexame?
Todo esforço e investimento que a CBF tem feito com a Seleção é exatamente para que possamos chegar em condições de igualdade nas Olimpíadas no Brasil. Na escala da FIFA nós estamos em sétimo lugar, por isso o Mundial e o Pan-Americano são importantíssimos para que tenhamos uma experiência real dos nossos adversários.

Por que falta investimento no futebol feminino? Na sua opinião, esse déficit é culpa do Estado? A mídia também tem sua parcela de culpa?
Acredito que todos nós temos uma parcela. O desenvolvimento da modalidade está muito aquém de outros países, onde esta modalidade faz parte do plano de governo, no qual toda a sociedade está envolvida de alguma forma. No sorteio do Mundial no Canadá teve a presença da imprensa de todos países participantes, menos do Brasil. Não existindo divulgação, não atraímos investidores, e a modalidade se torna uma bola de neve. Ainda carregamos boa dose de preconceito que pode ser diminuído com a inclusão nas escolas onde o futebol feminino poderia ser encarado como um esporte qualquer. Enfim, ficaríamos horas discutindo as causas, mas uma coisa é certa é clara: se as providências não forem tomadas com rapidez, o futuro da modalidade estará longe do otimismo.

Qual a avaliação que faz atualmente do grupo da Seleção?
Nós ainda temos grandes atletas, individualmente falando. O que estamos trabalhando é justamente para termos uma equipe taticamente organizada, jogando em alto nível e com intensidade e competitividade nos moldes atuais.

Um sonho que pretende realizar?
Meu sonho é deixar minha colaboração, que no momento é ser campeão, para poder despertar o interesse das pessoas para um melhor desenvolvimento da modalidade.

Para finalizar, deixe um recado para os nossos leitores.
Nós sabemos o quanto é difícil jogar futebol feminino no Brasil, por isso não deixe passar a oportunidade de torcer muito pela seleção feminina. As meninas que representam a Seleção são especiais.

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