Finalmente a torcida brasileira protesta com dignidade, por uma causa justa e necessária: o barateamento dos ingressos. E a torcida do Corinthians é a que lidera esse âmbito por uma readequação na cobrança dos bilhetes. Desde 2014, na Arena Corinthians, membros da Gaviões da Fiel levantam faixas contra o coronelismo da Federação Paulista e da Confederação Brasileira de Futebol.
O ideal, para um estádio de futebol, é que o preço do ingresso seja suficiente para que o clube mandante consiga dinheiro para investir em atletas, mas baixo para que o estádio esteja totalmente ocupado. É via de mão dupla. Mas se os preços estão nessa faixa exorbitante é culpa da elitização da modalidade, de seus estádios luxuosos e a falta de bondade dos dirigentes.
A comparação com os países europeus é inevitável. Na Inglaterra e na Alemanha, eles se dão ao luxo de cobrar caro porque lá dificilmente se vê uma ocupação menor que 40%, como ocorre aqui. Lá, os clubes possuem donos. Ou seja, é mais negócio propriamente dito do que uma obrigatoriedade em se cobrar mais caro. Recentemente a torcida do Liverpool protestou contra o aumento do ingresso. Houve questionamento por causa do valor de 77 libras (R$ 443), cobrado pelo espaço popular do estádio. E, justamente no minuto 77 da partida contra o Sunderland, torcedores se levantaram das cadeiras e foram embora. A medida deu certo, já que não haverá aumento.
Outro protesto simbólico veio do Borussia Dortmund. Torcedores arremessaram bolas de tênis no gramado, fazendo uma alusão que o preço taxado é digno de um esporte elitista, como é o caso daquela. Sempre houve uma luta para que o futebol fosse do povo e para o povo. Mas não é o que ocorre na prática.
Recordo-me de um texto do Rodrigo Capelo à revista Época, em que ele aponta que há mais variáveis que atraem ou afastam torcedores do estádio, independentemente dos valores dos tíquetes, que são: desempenho do time, ídolo(s), acesso à arena, segurança, conforto, dia, horário, clima, fase do campeonato, se são pontos corridos, se é mata-mata. Isso deve ser considerado. Enquanto na Europa, se assiste à grandes jogos e os melhores jogadores atuam do lado de lá, aqui, no Brasil, o futebol é pobre, sem atrativo nenhum. A menos que seja uma final de Copa do Brasil ou quando um clube brasileiro vai disputar uma competição mais significativa - no caso, a Libertadores da América.
Se as torcidas dos clubes largassem por um momento a rivalidade banal e iniciasse juntas um processo que reajustasse a taxa dos ingressos, assim quebrando os paradigmas e lutando por um futebol melhor para todos (afinal, vale aqui citar: cadê o Bom Senso FC?) os mandatários iriam ceder à pressão e diminuiriam os preços. Mas não. Aqui prefere-se lutar para ver quem é o melhor, quem tem mais poder. Não há união. E com isso fica difícil de ver uma readequação nas arquibancadas.
A Federação Paulista, justamente uma das mais criticadas, emitiu nessa sexta-feira, 19, uma nota afirmando que é a favor da liberdade de expressão dos clubes e torcidas. A entidade dá um passo muito importante ao valorizar o diálogo e o respeito.
Mas será que os árbitros e a Polícia Militar entenderam o recado? No embate entre Corinthians e São Paulo, realizado na Arena Corinthians no último domingo, o árbitro Luís Flávio de Oliveira precisou pedir ao zagueiro Felipe que ordenasse a retirada de faixas contra a própria FPF, CBF e dirigentes que cobram um preço exorbitante para um futebol que se assiste em menos de duas horas.
Confira a nota:
A Federação Paulista de Futebol vem a público esclarecer que não se opõe a nenhum tipo de manifestação pacífica durante os jogos, e que seus regulamentos não vetam a exibição de faixas ou bandeiras de protesto.
Não há, tampouco, qualquer orientação por parte da FPF a árbitros, delegados de partida, profissionais envolvidos nos campeonatos paulistas, ou mesmo à Polícia Militar, para que oprimam estes movimentos.
A única regra que versa sobre manifestações em estádios é o Estatuto do Torcedor, legislação federal que veta faixas com mensagens ofensivas.
No entanto, na visão da FPF, as faixas expostas nos últimos jogos do Campeonato Paulista não feriram esta lei e, assim como qualquer manifestação pacífica, devem ser respeitadas, sem prejuízo ao andamento da partida.
No caso do clássico de domingo (14) entre Corinthians e São Paulo, por exemplo, o jogo não deveria ter sido paralisado. A FPF defende, sim, a liberdade de expressão, princípio básico da democracia.
O recado foi dado. E o comodismo da torcida brasileira está perto do fim. Não se pode aceitar que haja um abuso por parte de entidades e autoridades no bolso do torcedor. Que mudanças sejam vistas e colocadas em práticas o mais rápido possível.
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