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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

10 anos sem Serginho: o que mudou no futebol após a tragédia?

Quarta-feira, 27 de outubro de 2004. Era mais um dia de jogo. São Paulo e São Caetano duelavam forças no Morumbi. O Campeonato Brasileiro chegava ao seu período decisivo. Cinco times alimentavam o sonho do título nacional: Santos, Atlético-PR, São Paulo, São Caetano e Palmeiras.

O jogo poderia ter vários personagens. Mas quis o destino escolher apenas um, e da forma mais triste que alguém poderia imaginar: o zagueiro Serginho.

O jogador acabou ficando marcado por perder cobranças em duas disputas de pênaltis de Libertadores, nas oitavas diante do Palmeiras, em 2001, e na grande decisão contra o Olimpia, em 2002. Ficou marcado por duelar com Romário, que o quis levar para o Fluminense ainda naquele ano.

Àquela altura da partida, ele vinha fazendo uma partida impecável, com bons e precisos desarmes. Porém, aos 15 minutos do segundo tempo, o zagueiro levantou o braço em direção ao árbitro Cleber Abade, possivelmente com aquele gesto típico de jogador que reclama a marcação de uma falta. Ele caminhou, se abaixou e caiu. Grafite, atacante do São Paulo, passava pelo mesmo lugar e chegou a tropeçar no jogador do Azulão.

Começava ali um dos maiores dramas do futebol brasileiro no que diz respeito à saúde dos atletas. Minutos de tensão. Os jogadores de ambas as equipes demonstraram revolta por conta da demora da ação dos médicos. As cenas incluíam massagens cardíacas, choro incontido de colegas e adversários e orações.

O Morumbi ficou quieto por alguns minutos. A única voz que se ouvia era "Serginho!!". Depois de ser levado a um hospital próximo ao estádio, Serginho teve sua morte declarada por volta de 22h30 daquele dia, consolidando a tragédia que chocava o Brasil.

O falecimento do Serginho trouxe à tona, dentre outras questões, o risco que correm os jogadores de futebol que têm problemas cardíacos. Hoje, os clubes e federações se importam mais com a qualidade de vida e saúde dos atletas. E os jornalistas têm participação direta nessa nova ordem. Eles reivindicaram a presença obrigatória de pelo menos uma ambulância nos gramados.

O clube do ABC perdeu 24 pontos e acabou fora da briga pelo título e por uma vaga na Libertadores. O presidente do clube, Nairo Ferreira de Souza, e o médico Paulo Forte foram suspensos por dois anos. E a fase do São Caetano só iria de mal à pior. Depois da tragédia o time nunca mais foi o mesmo. Meses antes, havia sido campeão paulista. Hoje, foi rebaixado à Série D do Brasileirão e vai jogar de novo a segunda divisão estadual em 2015.

Linha do tempo - Morte de Serginho

20h30 - Começa a partida entre São Paulo e São Caetano, no Morumbi
21h16 - Fim do primeiro tempo
21h31 - Começa o segundo tempo
21h44 - Aos 13min e 49s do segundo tempo, Serginho, perto do bico direito da pequena área, se abaixa, coloca as mãos nos joelhos e cai desacordado no gramado.
21h45 - A queda de Serginho chama a atenção dos jogadores do São Caetano e do São Paulo, que pedem agilidade no atendimento médico.
21h45 a 21h48 - Serginho recebe os primeiros atendimentos médicos no gramado de massagistas e médicos de ambas as equipes.
21h49 - Serginho é levado pelo carrinho da maca, ainda sob tentativa de reanimação
21h51 - A torcida grita o nome de Serginho, enquanto o placar eletrônico exibe a mensagem “Serginho, oramos por você”.
21h54 - Serginho é atendido na própria UTI do Morumbi.
21h55 - Serginho deixa o Morumbi em direção ao Hospital São Luiz
22h05 - O atleta chega ao Hospital São Luiz
22h09 - O árbitro Cleber Wellington Abade, após conversar com os capitães dos dois times, resolve encerrar o jogo por falta de condições psicológicas dos jogadores
22h45 - Médicos encerram trabalham de reanimação e declaram óbito de Serginho
23h50 - Hospital São Luiz emite comunicado com a morte do jogador

Graças ao Estatuto do Torcedor e à pressão popular por mudanças no futebol e pelos jornalistas esportivos que acompanhavam a partida, hoje nenhuma partida profissional começa sem a presença de uma ambulância no estádio.

Cenas como os jogadores esmurrando os vidros dela no Morumbi, há dez anos, provavelmente não voltarão a ser vistas na Série A do Brasileirão. Em muitos casos, em divisões inferiores, hoje é comum algum torcedor passar mal no estádio, ser atendido pela ambulância e levado ao hospital, enquanto jogadores e espectadores ficam aguardando o retorno dela para o reinício da partida.

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