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Carina Ávila grava boletim (Foto: Arquivo Pessoal) |
A Copa do Mundo de 2018 teve uma grande surpresa. Na verdade, duas grandes. A primeira, a classificação histórica e inédita da Islândia para uma disputa do Mundial. E a segunda tem a ver justamente com o país nórdico: a presença da repórter Carina Ávila, do SporTV, que nos mostrou curiosidades daquela Islândia pouco conhecida por nós. Muito além do futebol, Carina falou sobre a cultura do povo viking, da tradicional comemoração, clima e etc.
Carina se destaca não somente pela competência e pela forma como conduz uma reportagem, mas também pelo carisma. Passou por uma agência de comunicação, trabalhando na assessoria de imprensa, acumula passagens no Correio Braziliense, principal jornal do Centro-Oeste, e atualmente está na Globo Brasília, além de fazer matérias para os canais SporTV. A jovem jornalista também é escritora. Como produto final do seu Trabalho de Conclusão de Curso, publicou um livro de crônicas enquanto esteve em Sevilha - "Touros, "tapas" & Meias Pretas".
Confira como foi o bate-papo com a Carina Ávila, que falou sobre o início na carreira, o fato de ser a única mulher selecionada para integrar o Passaporte SporTV, machismo, principais referências no jornalismo, sonhos e muito mais. Confira!
Como foi o seu início no Jornalismo? Já sonhava em trabalhar na área esportiva?
Fui aprovada em Jornalismo na Universidade de Brasília (UnB) no fim do Ensino Médio e comecei o curso em 2011. Meu primeiro estágio foi em 2012, como monitora de redação e Língua Portuguesa em um colégio de Brasília. Eu atendia alunos do Ensino Fundamental, Ensino Médio e curso pré-vestibular, corrigindo redações e tirando dúvidas de língua portuguesa. Passei um ano lá, principalmente na área de revisão de texto. Em 2013, recebi uma proposta para estagiar em uma agência de comunicação chamada Profissionais do Texto. Passei um ano lá trabalhando como assessora de comunicação do principal cliente da agência, o IBRAM (Instituto Brasileiro de Mineração). Organizei e cobri eventos nacionais e internacionais, como a EXPOSIBRAM (Exposição Internacional de Mineração, que recebeu 90 mil pessoas em Belo Horizonte), também fazia a cobertura de audiências públicas, editava revistas, newsletters e fazia assessoria de imprensa de maneira geral.
No início de 2014, saí do estágio na Profissionais do Texto porque consegui uma bolsa para fazer parte do meu curso de jornalismo em Sevilha, na Espanha. Era um convênio da UnB (Universidade de Brasília) com a Universidad de Sevilla. A UnB organizou um processo seletivo e consegui a vaga para fazer a graduação sanduíche na cidade espanhola. Inicialmente, fui para ficar um semestre. Mas me apaixonei pela cidade e solicitei a prorrogação. A Universidad de Sevilla aceitou e estudei lá por mais de um ano. Em 2015, voltei para o Brasil e comecei a estagiar como repórter na editoria de esportes do jornal Correio Braziliense, o maior do Centro-Oeste. Fiquei no Correio por quase um ano e saí de lá porque fui aprovada no processo seletivo de estágio do Globo Esporte. Em 2016, comecei a estagiar como produtora do Globo Esporte. No fim do ano, eu me formei na UnB. Meu TCC foi um livro de crônicas sobre Sevilha, a cidade onde vivi por mais de um ano (leia mais sobre o livro na parte final).
Quando me formei, não havia vagas na Globo e fui contratada pelo Correio Braziliense, para trabalhar como repórter na editoria de Cidades. No começo de 2017, a Globo abriu em parceria com o SporTV o processo seletivo do Projeto Passaporte, que selecionaria seis correspondentes internacionais para a Copa do Mundo da Rússia em 2018. Eu me inscrevi e comecei a fazer os testes. Foram dez provas, em cerca de seis meses de seleção. Eram 4 mil inscritos de todas as partes do país. Nunca imaginei que eu poderia ser selecionada. Mas no fim das contas, o maior sonho da minha vida se realizou! Ser correspondente internacional e cobrir uma Copa do Mundo!! Fui a única mulher selecionada e a única jornalista de Brasília. Ao todo, foram três meses trabalhando na editoria de Cidades do Correio Braziliense. Saí, arrumei minhas malas e me mudei para o Rio, onde passaria seis meses me preparando para ser correspondente. Fiquei seis meses em treinamento no Rio - trabalhei como editora de programas do SporTV, também como repórter do globoesporte.com, aprendi a operar equipamentos de filmagem e gravação, tive cursos de edição de imagem, porque quando eu me mudasse de país, iria completamente sozinha.
No fim do treinamento, me informaram que eu iria para a Islândia e que minha missão era apresentar para os brasileiros este país estreante na Copa. Me mudei para a Islândia, fui completamente sozinha. Lá, eu precisava gravar, editar, escrever para o site, apurar, produzir pautas, captar imagens, fazer entradas ao vivo, fechar VTs... Foram cinco meses na Islândia. Depois que a seleção islandesa foi eliminada da Copa, fui enviada para a Dinamarca. Quando a Dinamarca foi eliminada, fui enviada para a Suécia. Passei três semanas trabalhando na Suécia – antes da Copa, eu já havia passado alguns dias na capital sueca, Estocolmo, produzindo e gravando reportagens. Durante os seis meses de correspondente, também trabalhei na Inglaterra e na Espanha – cobri a torcida do Real Madrid, em Madri, na final da Champions League; fui a Sevilha gravar uma reportagem com o ex-jogador da seleção brasileira Carlos Alberto Pintinho; e passei uns dias trabalhando em Alicante.
Após a Copa, em agosto de 2018, voltei para o Brasil e fui contratada pelo Globo Esporte de Brasília, onde trabalho até hoje. Sempre fui completamente apaixonada por esportes. Pratico e acompanho esportes desde pequenininha. E sempre sonhei em trabalhar com esportes. Quando fui estudar em Sevilha, pude fazer uma disciplina chamada Periodismo Deportivo (Jornalismo Esportivo), que a UnB não oferecia. Assim que voltei para Brasília, comecei a procurar estágios na área. Foi quando fui chamada pelo Correio Braziliense para a editoria de esportes. Foi meu primeiro trabalho como jornalista esportiva e eu amei. Essa experiência só confirmou e aumentou a paixão que eu tinha pela área.
Você foi a única mulher a estar presente no último Passaporte SporTV. Qual foi a sua primeira reação? Como lidou com isso?
Ser aprovada no Passaporte foi a realização do meu maior sonho. Quando eu era mais nova, costumava dividir meus sonhos em duas categorias: os “realizáveis” e os “não-realizáveis”. Nos “realizáveis” estavam passar na UnB, fazer intercâmbio, viajar bastante... Nos “não-realizáveis” estavam receber a carta de Hogwarts dizendo que sou uma bruxa, ser treinadora Pokémon, ser correspondente internacional numa Copa do Mundo... Para mim, ser correspondente internacional e participar da cobertura de uma Copa parecia algo tão impossível, tão surreal, que estava na classe dos “não-realizáveis”. Meu sonho de infância. Um sonho que sonhei a vida toda, desde garotinha. E ainda fui abençoada com a oportunidade de acompanhar a primeira participação da Islândia numa Copa do Mundo, de entrevistar o jogador que marcou o primeiro gol da Islândia na história das Copas, de trocar uma ideia com o goleiro-cineasta que defendeu um pênalti do Messi, de ouvir o técnico-dentista, que me conhece pelo nome, me perguntar "E aí, Carina? Tudo bom? Já se acostumou com o frio da Islândia?", toda vez que me via. Tudo muito incrível.
Durante o processo seletivo, tive contato com muitos (e muitas) jornalistas incríveis. Bastante gente que eu admirava estava ali participando da seleção comigo. Vários (e várias) profissionais que eram referência para mim, com os quais (e com as quais) eu já havia trabalhado, inclusive na Globo e no Correio Braziliense. Para mim, estar nas últimas fases já era motivo de orgulho e felicidade enormes. Não imaginava que eu poderia estar entre os seis selecionados. Por ter tido contato com muitas mulheres incríveis, competentes e extremamente capacitadas durante o processo, eu esperava que mais mulheres tivessem sido selecionadas. Fiquei desapontada por ter sido a única. Não foi por falta de profissionais qualificadas. Muitas mulheres fantásticas participaram do processo. Queria que mais mulheres tivessem espaço.
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Carina Ávila é uma das destaques do Grupo Globo (Foto: Arquivo Pessoal) |
E o Passaporte SporTV te levou para a Islândia, para cobrir a Seleção e ficar neste país durante a Copa do Mundo. Quais foram os maiores desafios? E qual a principal recordação que você tem de lá?
Os maiores desafios eram fazer tudo completamente sozinha (captar imagens, filmar e entrevistar ao mesmo tempo, escrever matérias para o site, escrever e editar reportagens para a TV, entrar ao vivo, carregar mais de 30kg de equipamento para todo canto) e o clima (muito frio, muito vento) — os ventos na Islândia chegam a 100km/h e sempre derrubavam o tripé quando eu ia me gravar; as temperaturas abaixo de zero congelavam minhas mãos, meus pés e meus lábios, era difícil pronunciar alguns fonemas. Eu ficava muito sobrecarregada.
Mas essas adversidades não foram nada perto de todas as alegrias e aprendizados que a Islândia me trouxe. O país é incrível! Parece até outro planeta! Bastava apontar a câmera em qualquer direção, para qualquer lugar, que eu conseguia paisagens lindíssimas. Montanhas nevadas, vulcões, gêiseres, mar, geleiras, aurora boreal, cachoeiras. A natureza da Islândia é espetacular!! Além disso, é o país mais igualitário do mundo! De acordo com o ranking do Fórum Econômico Mundial, a ilha nórdica é o melhor país do mundo para ser mulher.
O Relatório Anual de Desigualdade de Gênero, publicado pelo fórum, mostra que a Islândia está bem perto de atingir a igualdade plena entre homens e mulheres. Para completar, depois de uma década no topo da lista dos países mais igualitários, no ano passado, entrou em vigor uma lei que torna ilegal que as mulheres recebam salários inferiores aos dos homens. É o primeiro país do mundo a vigorar esta lei e, no âmbito esportivo, a regra também se aplica. Nas seleções nacionais de todos os esportes, os atletas dos sexos feminino e masculino recebem exatamente os mesmos valores de bonificações e premiações a cada vitória. Também é um país muito seguro. O presídio do país está desativado, porque não há crimes. Eu me sentia sempre muito segura caminhando pela cidade, em qualquer horário, o que era importantíssimo, porque eu estava sempre sozinha carregando vários quilos de equipamento caro.
No final de março de 2018, foi lançado o movimento #DeixaElaTrabalhar, que luta contra o assédio moral e sexual sofrido pelas mulheres nos estádios. Você já foi vítima? Aconteceu alguma situação embaraçosa?
Quando fui cobrir a torcida do Real Madrid na final da Champions League do ano passado, precisava fazer gravações na frente do Estádio Santiago Bernabeu, onde os torcedores iriam se reunir para ver a partida contra o Liverpool em telões espalhados pelo gramado – o jogo estava acontecendo em Kiev, na Ucrânia. Cheguei com duas horas de antecedência. Precisava gravar boletins de um minuto, mas não conseguia gravar porque torcedores me agarravam toda hora. Eu começava a gravar e vinham grupos de torcedores me agarrar, aí eu começava de novo e vinha torcedor me dar beijo na bochecha, aí começava de novo e vinham ficar me apertando, me pedindo beijos, me abraçando, gritando adjetivos... Depois de duas horas tentando, eu ainda não tinha conseguido gravar um boletim bom na frente do estádio sem ser interrompida. No ano passado, em uma entrada ao vivo na frente do Mané Garrincha, também fui surpreendida por um torcedor do Flamengo que me deu um beijo no ombro durante minha entrada no programa Tá Na Área.
Historicamente, o futebol sempre foi considerado um ambiente hostil e predominado por homens. Mas, a cada ano, o número de mulheres na imprensa esportiva só aumenta. Qual a sua análise da participação feminina nos grandes eventos esportivos e o maior obstáculo enfrentado por você para entrar nessa área?
Realmente, o número de mulheres no jornalismo esportivo só cresce. Mas ainda somos minoria e, muitas vezes, não somos levadas a sério. Ainda vemos poucas mulheres como repórteres de campo em grandes eventos futebolísticos, como Copa do Mundo masculina – jogos da seleção masculina de maneira geral (amistosos, Copa América, Olimpíada etc) -, final de Libertadores, Copa Sul-Americana, Mundial de Clubes... As mulheres costumam atuar mais dentro dos estúdios, como apresentadoras. Mas não vemos, por exemplo, repórteres mulheres de mais de 50 anos cobrindo jogos de dentro do campo de futebol, como Tino Marcos e Marcos Uchoa. As mulheres são majoritariamente jovens, bonitas e ocupam espaços onde podem chamar a atenção de um público predominantemente masculino.
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"Infelizmente, o futebol ainda é um meio
extremamente machista (Foto: Arquivo Pessoal) |
Por exemplo, muitas mulheres foram para a Copa do Mundo da Rússia, mas a maioria como apresentadora, como a Fernanda Gentil, a Janaína Xavier e a Cris Dias. De repórter de campo, vimos apenas a Júlia Guimarães. Na Copa do ano passado, não vimos comentaristas mulheres durante os jogos. É algo que começou a crescer e ganhar espaço neste ano, principalmente por causa da Copa feminina. E elas nunca conseguem escapar de críticas machistas nas redes sociais.
Sinto que para estar neste espaço, preciso estar sempre me provando. Como mulher, preciso estar sempre provando que sei, provando que entendo, provando que não sou uma farsa e que não estou ali apenas por ser “um rostinho bonito”. Tenho que provar sempre que entendo de futebol e que mereço estar aqui. Infelizmente, o futebol ainda é um meio extremamente machista. Quando uma mulher diz que gosta de futebol, é comum ela ouvir de um homem: “Então explica o que é impedimento”. Como se o simples fato de saber a regra do impedimento a credenciasse para dizer que gosta de futebol. Mas se um homem diz que gosta de futebol, nunca questionam. As pessoas simplesmente acreditam. Nunca vi dizerem “explica o que é impedimento” para um homem. Muitas vezes as mulheres fazem comentários ou dão opiniões sobre futebol e os homens não levam a sério. Mas se fosse um homem fazendo o mesmo comentário, dariam atenção.
Em sua opinião, por que há ainda um espanto ao deparar com mulheres no futebol? Você acredita que o machismo no futebol tem sido mais destaque nos programas esportivos?
Vivemos em um país onde mulheres foram proibidas POR LEI de jogar futebol por 40 anos! O decreto de lei número 3.199 de 14 de abril de 1941 dizia: "Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país." A proibição só deixou de existir em 1979, após muita luta e resistência.
Um país que impôs por quatro décadas que futebol era coisa só de homem. Quando eu era pequena e gostava de jogar futebol, ouvia muitos comentários terríveis. Quando eu tinha 10 anos, minha professora da escola me via jogando futebol com os meninos no recreio. Um dia ela me parou no corredor e disse: “Carina, você tinha que ter nascido com um pinto e não uma perereca”. Eu era uma criança!! Quando eu tinha 11 anos, fui confundida com menino em uma festa de aniversário, porque eu gostava de usar roupas largas e calças cheias de bolsos. Cheguei chorando em casa e contei que havia sido confundida com menino. Meu avô logo resmungou: “Também... Fica jogando futebol por aí... Tem que parar de jogar futebol...”.
Minha mãe gostava de jogar futebol quando era criança, mas ela nunca pôde, porque meu avô a proibia. Ou seja, é necessária uma grande desconstrução dessa mentalidade brasileira, de que futebol é coisa de homem. Muitas vezes reproduzimos até sem querer esses discursos machistas, porque crescemos ouvindo isso e essas imposições já estão incrustadas na gente. O assunto tem sido bem debatido nos programas esportivos e isso é muito importante. Para provocar reflexão e ajudar no processo de desconstrução. É importante fazer as pessoas refletirem sobre isso.
Quem são as suas principais referências no jornalismo esportivo?
Quando eu era pequena, amava as reportagens de esportes radicais da Dani Monteiro. Depois que cresci, minha principal referência no jornalismo esportivo se tornou a Fernanda Gentil – que agora mudou para a área de entretenimento. Acho a Fernanda Gentil um monstro (no sentido positivo)! Ela é genial. Sacadas rápidas, naturalidade, inteligência, bom-humor, ótima no improviso, superengraçada...Também sou fã do trabalho da Marina Izidro, correspondente da Globo em Londres. Muito carismática, atualizada, se expressa com facilidade, de uma maneira simples e simpática. A Júlia Guimarães é outra repórter que tem feito um excelente trabalho. Ela é fruto do mesmo projeto que eu (o Passaporte), foi selecionada na edição anterior para ser correspondente durante a Olimpíada de 2016. Ela é superboleira, tem muito conteúdo e entende demais de futebol. Tem ganhado bastante espaço na empresa. Me inspiro muuuito no Marcos Uchoa e no Tino Marcos. Meu sonho é me tornar uma grande repórter, como eles. Viajar o mundo inteiro contando histórias e fazendo reportagens especiais.
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Carina Ávila no Estádio Mané Garrincha
(Foto: Arquivo Pessoal) |
Atualmente, você está em Brasília. Como é cobrir o futebol candango?
O futebol candango vive tempos tenebrosos. O Distrito Federal tem vários times que já disputaram a primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Os mais conhecidos nacionalmente são o Gama (campeão da Série B de 1998, disputou a Série A por quatro temporadas - de 1999 a 2002) e o Brasiliense (campeão da Série C e finalista da Copa do Brasil em 2002, campeão da Série B em 2004 – ficou apenas um ano na Série A, 2005 -, semifinalista da Copa do Brasil em 2007). O Brasília jogou a série A pela última vez em 1985. Mas venceu a Copa Verde de 2014 e, por isso, disputou a Copa Sul-Americana em 2015.
Hoje, a situação é complicadíssima. Campeão e vice-campeão do Campeonato Candango garantem vaga na Série D de futebol. Então todo ano temos dois times que disputam a Série D, mas sem muito sucesso. Não temos representantes na Série C, nem B, muito menos na A. Mas isso falando do futebol masculino. Porque no futebol feminino vivemos uma fase incrível! Pela primeira vez um time de Brasília está na primeira divisão do Campeonato Brasileiro Feminino.
O Minas Icesp é o único representante de Brasília no Campeonato Brasileiro Feminino. Conte-nos como é acompanhar a história e a luta delas
A história do Minas Icesp é incrível. Um time fundado seis anos atrás por duas irmãs gêmeas que cresceram jogando bola em uma zona rural do Distrito Federal. O sonho delas era que o time vencesse o Campeonato Candango. Mas o Minas não apenas venceu o Candangão três vezes (em menos de seis anos elas já são tricampeãs candangas), como também foi campeão da Série A2 do Brasileiro no ano passado. Apesar de ser um time muito novo, elas já foram campeãs nacionais da segunda divisão! E pela primeira vez Brasília tem um representante na elite do futebol feminino. O Minas Icesp não está indo tão bem no campeonato neste ano, mas elas fazem o que podem com a minúscula verba que têm - inclusive, as gêmeas presidentes do time tiram dinheiro do próprio bolso para conseguirem manter a equipe. E só de termos garotas daqui de Brasília na Série A1 já é um orgulho enorme.
Qual o seu maior sonho dentro do jornalismo?
Me tornar correspondente internacional definitiva em algum país da Europa ou uma excelente repórter que viaja o mundo inteiro fazendo grandes reportagens.
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Capa do livro "Touros, "tapas" & Meias
Pretas, de Carina Ávila |
Além de jornalista, você é escritora. De onde veio a inspiração para escrever o livro “Touros, "tapas" e meias pretas”?
Passei o ano de 2014 estudando jornalismo na Universidad de Sevilla. Foi uma graduação sanduíche, fruto de um convênio da UnB com a universidade espanhola. No meu primeiro dia na Espanha, postei no Facebook quatro observações que eu havia feito sobre a cidade nova. A repercussão foi enorme, recebi mais de 200 curtidas e diversos comentários (inclusive de pessoas que nem faziam parte da minha lista de amigos). Na época, eu nunca havia recebido tantas curtidas e fui seduzida pelos likes das redes sociais, hahaha. Então, decidi continuar compartilhando fatos curiosos sobre Sevilha. No segundo dia, postei mais quatro observações que haviam chamado minha atenção justamente por serem tão diferentes da realidade à qual estava acostumada. A repercussão também foi grande e me motivou a continuar. Os fatos, que começaram superficiais, passaram a se aprofundar cada vez mais na cultura sevilhana. Eu anotava cada nova observação e passei a escrever sobre elas regularmente.
Como eu sempre as escrevia de quatro em quatro, as postagens ficaram conhecidas como “os 4 fatos de Sevilha” e transformaram-se em uma série que as pessoas acompanhavam, curtiam, comentavam, cobravam e compartilhavam. Usuários que não me conheciam passaram a me adicionar no Facebook para seguir as publicações. Alguns amigos de Sevilha e do Brasil que também viviam na Espanha começaram a me sugerir novos fatos que se diferenciavam da cultura brasileira. Desconhecidos que sentiam vontade de fazer intercâmbio ou conhecer a Espanha me enviavam dúvidas e pediam dicas. Outros contavam que haviam decidido viajar a Sevilha por causa dos meus relatos. “Os 4 fatos de Sevilha” foram uma maneira que encontrei de compartilhar com meus amigos todas as experiências curiosas e encantadoras que vivi em terras espanholas.
Quando voltei para o Brasil, precisava começar meu TCC para me formar e eu não fazia a mínima ideia de que assunto abordar. Na disciplina chamada “Pré-Projeto”, o professor nos ajudava a elaborar as ideias para os trabalhos de conclusão de curso. Mostrei para eles os fatos que eu escrevia sobre Sevilha (eu tinha todos salvos em um documento de Word, eram mais de 300 fatos) e perguntei se ele achava que seria possível aproveitá-los de alguma forma. Ele gostou muito e disse que eu poderia usar as centenas de observações para escrever um livro-reportagem sobre Sevilha. Fiz o pré-projeto com a ideia de fazer um livro-reportagem. No último semestre, quando fui de fato fazer o projeto final, procurei um orientador especializado em jornalismo literário. Ele disse que eu era uma “cronista nata” e sugeriu que, em vez de escrever um livro-reportagem, eu fizesse um livro de crônicas. A ideia inicial era escrever 25 crônicas, mas acabaram sendo 40. O livro foi aprovado com nota máxima pela banca avaliadora. Em 2017, “Touros, ‘tapas’ e meias pretas” foi publicado pela Outubro Edições.
Pretende escrever um novo livro?
Costumo escrever crônicas por hobby e sempre guardo todas, porque elas contam um pouco da minha história e mostram bastante de mim. Não tenho planos de escrever nenhum outro livro por agora, porém não descarto a possibilidade de, no futuro, publicar outra coletânea de crônicas.
Deixe um recado para quem pretende seguir a carreira de jornalista
É importante ter sensibilidade no olhar, para perceber histórias escondidas que valem a pena ser contadas. Também é muito importante saber se virar. Como jornalistas, enfrentamos inúmeras situações adversas e precisamos saber improvisar e superar qualquer obstáculo para sempre entregar um trabalho bem-feito. Saber idiomas é um grande diferencial no mundo globalizado em que vivemos. Então tenha pelo menos o inglês na ponta da língua! Esteja antenado! Leia muito, veja filmes, séries, documentários... Isso tudo serve de referência na hora de escrever uma boa matéria.