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segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Entrevista com Tatiana Mantovani, correspondente do Esporte Interativo na Espanha

Meus amigos, voltei! 

Depois de um tempo sem postar no blog, estou de volta à ativa! E para reiniciar o caminho, trago esta entrevista com a jornalista Tatiana Mantovani, que atualmente trabalha como correspondente dos canais Esporte Interativo na Espanha.

Cria da rádio, Tatiana trabalhou na Rádio Gaúcha durante cinco anos. Já no país europeu, tem uma passagem pela Cadena Ser. A jornalista chegou à Espanha em 2009. Desde então, acumula momentos especiais, cobrindo o futebol espanhol, com foco nos times da capital - Real Madrid e Atlético de Madrid. A gaúcha também tem um blog (Efeito Fúria), onde faz seus relatos.

Tatiana Mantovani é repórter dos canais Esporte Interativo (Foto: Reprodução/Instagram)
Nesta entrevista ao blog, Tatiana Mantovani relembra o início no Esporte Interativo, fala sobre suas entrevistas que fez com grandes astros de Real e Atlético e afirma que quer cobrir a Liga dos Campeões da Europa "para sempre".

Gabriel Dantas: Você é cria do rádio. Hoje, está no canal Esporte Interativo. Como foi se adaptar ao meio de comunicação? E como recebeu o convite da emissora?
Tatiana Mantovani: Sou cria de rádio. Trabalhei na Rádio Gaúcha e na Rádio Cadena Ser. Foi complicado me adaptar no começo, porque eu nunca tinha feito TV. Mas o pessoal do Esporte Interativo foi muito tranquilo comigo, me deixou esse tempo de aprendizagem, me deixava errar bastante até acertar. Acho que, hoje, consigo entregar o que eles pedem, porque aqui sou faz-tudo, cinegrafista, edito também alguma coisa, sou repórter, então a gente faz tudo sozinho. Mas dá para entregar o material com certa qualidade, eu acredito (risos). O convite foi, na verdade, eu conhecia das redes sociais o Marcelo Bechler. O pessoal do Esporte Interativo estava procurando alguém aqui em Madrid. O Marcelo indicou meu nome, passei por uma seleção, e o canal optou por mim.

Gabriel Dantas: Além disso, você tem o site "Efeito Fúria". Isso te ajudou na chegada ao canal? E por que essa paixão pelo futebol espanhol? Alguma influência?
Tatiana Mantovani: Tenho o meu site, sim, mas não estou conseguindo atualizar tanto do jeito que queria, pois está bastante corrido. Mas, sim, ajudou, porque o pessoal conseguiu ver que eu entendia do que eu estava falando, que eu tinha certo conhecimento do futebol da capital. As redes sociais também ajudaram. Então, ficou mais fácil. Acho que teve alguma influência, porque eles entendiam do que eu estava falando. E a paixão pelo futebol espanhol nada mais do que a paixão pelo futebol em si. Me mudei do Brasil para a Espanha e trouxe o futebol. Eles (torcedores espanhóis) são muito apaixonadas, e a gente se sente mais perto de casa.

Gabriel Dantas: Qual a sensação de cobrir Real Madrid e Atlético de Madrid?
Tatiana Mantovani: Nossa! Sempre digo pra todo mundo que eu estou vivendo, na era moderna, os melhores anos do Real Madrid, e os melhores anos da história do Atlético de Madrid, porque o que o Diego Simeone conseguiu fazer com esse clube é impressionante . Pra mim, é um prazer. Eu me sinto feliz por acompanhar eles de perto, conversar com as pessoas que fazem o clube, conversar com os jogadores, com os técnicos. Realmente, sou privilegiada de poder estar vivendo o futebol da capital da Espanha.

Tatiana Mantovani no estádio Santiago Bernabéu (Foto: Reprodução/Instagram)
Gabriel Dantas: Quem foi o primeiro jogador que você entrevistou na Espanha para o Esporte Interativo? Poderia nos contar os bastidores?
Tatiana Mantovani: O primeiro jogador que eu entrevistei de forma mais tranquila, de botar a câmera, sentar, conversar, fazer várias perguntas e tal, foi o Filipe Luís (lateral do Atlético de Madrid). Fiz sozinha, como cinegrafista, enquadrar, fazer as perguntas. A minha primeira zona mista que tive que fazer, eu lembro que estava com o Arthur Quesada (correspondente do Esporte Interativo em Portugal), porque eu não tinha noção de como fazer uma cobertura de um jogo tão grande sozinha. E a gente foi fazer um jogo do Atlético de Madrid. Naquela zona mista, o Arthur me disse: "Vamos colocar a câmera bem no começo da zona mista e ver quem vai parar". Beleza. Não lembro quem foi o primeiro jogador, mas o segundo foi o Griezmann (atacante do Atlético). Eu me joguei com a cabeça e disse: "Griezmann, para o Brasil". Aí ele veio e falou com a gente. Foi uma coisa que eu disse: "Nossa, que legal!" (risos). Eu fiquei muito nervosa, deu problema na câmera, a gente não conseguia gravar, não conseguia mandar o material. Foi uma correria, mas foi muito legal. Pra ver: o Griezmann já era um grande jogador. E quando a gente fala "Brasil", é impressionante. Os jogadores gostam de falar com o Brasil, de ter uma relação mais próxima. Hoje em dia, é mais difícil falar com o Griezmann na zona mista. Às vezes, eu consigo.

Gabriel Dantas: Em relação ao Brasil, percebe alguma(s) diferença(s) no tratamento dos jogadores com a imprensa, e vice-versa?
Tatiana Mantovani: No Brasil, eu não cheguei a trabalhar com o esporte no dia a dia, trabalhava mais com política, economia, então não posso dizer como é a vivência. Mas, pelo que sinto, no Brasil, tudo é mais próximo. Às vezes, as pessoas aqui pedem pra gente: tenta falar com o médico, com o fisioterapeuta, com o vice-presidente de futebol. Aqui, ninguém fala. Não existe esse tipo de relação. A gente tem uma relação mais próxima de conseguir conversar mais com os jogadores brasileiros, mas com o resto, é uma relação muito distante. A gente não tem acesso às informações de uma forma fácil. Não é fácil entrevistar os jogadores, até mesmo os brasileiros do Real Madrid e do Atlético, a gente tem que ter todo um trabalho de quando pode, ver com o assessor, marcar com o jogador, ser aprovado pelo técnico. É uma parafernália. A roda gira muito mais lenta. Então, aqui, a gente não tem acesso. Tem muito assessor de imprensa, a estrutura do clube é muito grande, tem imprensa de todos os lugares do mundo disputando a mesma entrevista que você, então tudo é muito maior e difícil.

Tatiana Mantovani entrevista Koke, do Atlético de Madrid (Foto: Reprodução/Instagram)
Gabriel Dantas: Os jornalistas brasileiros são mais imparciais que os espanhóis?
Tatiana Mantovani: Eu não sei se são imparciais. É difícil falar isso. A imprensa daqui está mais identificada com os clubes. Se você compra o Mundo Deportivo e o Sport, você sabe que vão defender o Barcelona, porque são da Catalunha. O Marca e o AS são jornais da capital espanhola, é mais Atlético de Madrid e muito mais Real Madrid. Aqui, os jornalistas se posicionam como torcedores dos clubes. Então, eu acho que no Brasil é isso, os jornalistas ainda não se posicionam como torcedores, não estão tão próximos.

Gabriel Dantas: Como é cobrir uma Champions League?
Tatiana Mantovani: Cobrir a Liga dos Campeões é, pra quem gosta de futebol e pra quem é jornalista, nada é melhor, mais legal e mais emocionante e que você aproveita tanto e se sente tão feliz em estar 40 horas no estádio. A gente chega super cedo e sai de madrugada. O pessoal do estádio já diz: "você vai abrir e fechar o estádio, né?". Vou abrir e vou fechar. Eles já sabem que vou chegar cedo e sair tarde. Então, nada disso importa. Ficar sem ir ao banheiro, sem comer. Viver a Liga dos Campeões, pra mim, é a maior coisa que eu poderia ter conquistado nesse jornalismo esportivo.

Gabriel Dantas: Na final da Champions League 2016/2017, você e a Clara Albuquerque participaram da transmissão de Real Madrid x Juventus, em Cardiff. Mas, antes, vocês já estiveram em Real Madrid x Napoli. O que essas coberturas representaram?
Tatiana Mantovani: As coberturas das finais que eu fiz, que o Real Madrid me levou, foi Real Madrid x Atlético de Madrid, na outra só o Real. Como disse, tenho muita sorte de estar vivendo o melhor momentos dos dois clubes. Eu não sei explicar. Você não é torcedor dos times, porque eu não sou torcedora. É impossível não se vincular um pouco mais aos clubes que você está cobrindo. Você vive direto como os torcedores estão vivendo tudo aquilo. É impressionante a estrutura, a organização. Na primeira final, eu não estava na beira do gramado. Já na segunda, eu estava. Eu acho que nunca vou esquecer o gol do Cristiano Ronaldo, do Mandzukic, mas o mais especial foi do Casemiro. Ver um brasileiro marcar na final da Champions foi muito legal. Pra mim, realmente, essa última foi muito marcante, por viver ao lado da Clarinha. Duas mulheres. Pra nós, foi emocionante. A outra final fiz com o Marcelo Bechler, que, pra mim, é um puta profissional. Tinha recém-entrado na TV, então foi um aprendizado muito grande. Na segunda, já consegui aproveitar mais, pois eu já estava entendendo o que eu estava fazendo. Alucinante.

Gabriel Dantas: Durante a cobertura desta final, você conseguiu uma entrevista exclusiva, em português, com Cristiano Ronaldo. Foi o momento mais especial da sua carreira? Como foi entrevistar o craque lusitano?
Tatiana Mantovani: Eu acho que, em termos de relevância, a entrevista com Cristiano Ronaldo, sim, foi o principal momento da minha carreira. A entrevista com Zidane também. É uma coisa que marca na vida, profissional e pessoal, né? Mas, pra mim, todas são especiais. Toda vez que converso com Marcelo, Casemiro, Filipe Luís, Griezmann, Diego Pablo Simeone, Fernando Torres, todo momento é muito especial. Eu me coloco no lugar dos torcedores brasileiros que torcem pelo Real Madrid, que gostam do Simeone, dos torcedores que gostariam de falar com os jogadores brasileiros. Tenho uma entrevista com o Koke, do Atlético. Cara, eu acho o Koke fenomenal, um jogador que vive a vida no Atlético de Madrid. Então, pra mim, todas são especiais. Entrevistar o Cristiano Ronaldo foi especial? Foi. Eu fiquei muito nervosa? Fiquei, tremi igual vara verde. Afinal, é o Cristiano Ronaldo, um dos maiores jogadores da história do futebol. Consegui fazer, respirei, ele foi muito simpático comigo. Mas, como disse, todas as entrevistas são especiais.

"Em termos de relevância, a entrevista com Cristiano Ronaldo, sim, foi o principal momento da minha carreira"
Gabriel Dantas: Já sofreu preconceito no jornalismo por ser mulher?
Tatiana Mantovani: Já sofri preconceito por ser mulher, no jornalismo e na vida. A gente tem que escutar coisas que as pessoas acham que têm o direito de falar pra gente. Não tem direito. Eu sempre digo no jornalismo esportivo que a gente sofre preconceito, assim como sofre a médica, a enfermeira, a atendente da loja. A gente sofre preconceito por ser mulher. Ser mulher é muito difícil. Os homens não se colocam no nosso lugar, na maioria das vezes. O mundo é machista, a sociedade é machista.  É muito complicado. Eu sofro como todas as mulheres. Do meio profissional, eu nunca sofri nada, nem de treinador, nem de jogador, nada. Todo mundo respeita aqui. Mas de torcedor, a gente escuta, porque isso é em qualquer lugar do mundo, é inevitável. Mas temos que fazer alguma coisa para melhorar. Ninguém se coloca no lugar da mulher.

Gabriel Dantas: Pela janela de transferências, acredita em mais um título do Real Madrid?
Tatiana Mantovani: Acredito. O Real Madrid, principalmente na Liga dos Campeões, sempre tem que ser dado como favorito. É impressionante como se transforma o entorno do Santiago Bernabéu, entorno do clube. Tudo se transforma. Mas também aposto no Atlético de Madrid. Eu acho que o Simeone está fazendo um trabalho que, daqui a 20 anos, vai ser visto como o maior da era do futebol. É impressionante. O clube, hoje, é um dos melhores da Europa e já chegou perto de jogar a segunda divisão. É absurdo. Como disse nas chamadas do Esporte Interativo, eu confio nos meus clubes. As finais da Champions deveriam ser entre Real e Atlético (risos).

Gabriel Dantas: Qual sonho pretende realizar?
Tatiana Mantovani: Eu gostaria de fazer o que faço para sempre. Nosso dia a dia é puxado, muita correria. A gente faz tudo sozinho. Mas eu amo o que faço, gostaria de fazer por muito tempo. E cobrir a Liga dos Campeões até o final da minha vida. Melhor competição de futebol do mundo.

Gabriel Dantas: Quais conselhos você daria para os futuros jornalistas que pretendem ser correspondentes na Europa?
Tatiana Mantovani: Preparem a mente e o físico. Ser correspondente é bastante puxado. Uma pessoa que faz um trabalho de várias pessoas. Não falo só por mim. Vejo outros colegas, todo mundo tem uma rotina, a gente trabalha muito. Tem que gostar muito, estar disposto e levar o estilo de vida. Para ser jornalista, tem que gostar de não ter rotina, um dia a dia definido. Ser correspondente é isso elevada à máxima potência. Mas se prepare. Tem que estar disposto e pronto sempre. Baterias da câmera carregadas, cabos funcionando, sete baterias a mais para o celular, porque você pode sair às oito da manhã e voltar daqui a dois dias. Mas é uma experiência incrível. Todos os jornalistas, em algum momento, tem que viver isso. Ser repórter já é algo que a gente precisa ter um dom, ser correspondente ainda mais.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Ação válida, porém arriscada

Tricampeão brasileiro, idolatrado pelos torcedores, respeitado pelos demais. Muricy Ramalho é unânime no São Paulo, que vive uma fase turbulenta no Campeonato Brasileiro (está na vice-lanterna, com 24 pontos).

E é no perfil vencedor do ex-técnico que os diretores do time apostam na reestruturação. Na virada situação. Ao mesmo tempo que a medida é válida, considero arriscada. Muricy não quer um emprego no São Paulo.

A ação é válida, porque a trajetória vitoriosa e respeitada dão credibilidade e autoridade para Muricy ter liberdade para conversar com a diretoria, comissão técnica e jogadores. Ele conhece o clima, sabe o que se passa no CT de Cotia. Ele quer ser "consultor informar". Busca ajudar da melhor maneira possível o time para que possa sair dessa situação vexatória.

Entretanto, aponto como arriscada, caso algo de ruim possa acontecer no final do ano. Sim, o rebaixamento. Não estou dizendo que isso de fato vai se concretizar. Não quero provocar a ira de ninguém. Mas as hipóteses precisam ser colocadas na mesa para que possa ser feita uma análise.

Caso a queda venha (e vale lembrar que time grande cai, sim), como ficaria a imagem de Muricy? O status de ídolo poderia ser manchada? Rogério Ceni, maior goleiro que o Tricolor teve, não deu certo como técnico.

Se o clube está nessa situação, o ex-arqueiro também tem sua parcela de culpa. Imagem desgastada. Tanto que nem esteve nesta quarta-feira, 13, na reunião da diretoria com os membros da torcida organizada.

Além dos problemas dentro de campo, o clube não tem uma administração séria. É polêmica atrás de polêmica. O grupo está rachado, embora Dorival Júnior negue veementemente. Um exemplo disso é a "picuinha" de Rodrigo Caio e Cueva.

O Tricolor não ganha um título sequer há cinco anos - o último foi a Sul-americana, despedida do meia Lucas, negociado para o Paris Saint-Germain.

Muricy é um excelente profissional. Está arrebentando no SporTV, comentários sempre precisos, eficientes, inteligentes. Ele tem maturidade suficiente para decidir o que é certo e errado.